Por muitos anos, o autismo foi tratado como um único transtorno do espectro, variando apenas em grau de intensidade. Porém, essa visão ampla nem sempre reflete a realidade de cada criança.

Dessa maneira, deixando famílias confusas e profissionais de saúde sem ferramentas claras para oferecer apoio adequado.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Penn State University, que analisou dados de mais de 5 mil crianças, o que chamamos de autismo pode, na verdade, ser dividido em quatro subtipos distintos.

Essa nova descoberta pode revelar diagnósticos mais precisos, assim, resultando em orientações personalizadas às famílias e planos de suporte ajustados às necessidades de cada pessoa.

Os 4 tipos de autismo identificados

O estudo avaliou mais de 230 características comportamentais de 5.392 crianças do projeto SPARK e encontrou quatro grupos principais, cada um com perfil próprio:

1. Desafios sociais e comportamentais (cerca de 37%)

Maior grupo identificado. As crianças apresentam dificuldades em interpretar sinais sociais e podem ter comportamentos repetitivos. O desenvolvimento cognitivo costuma ser médio, mas as maiores barreiras estão na interação social e no controle das reações emocionais.

2. Desafios moderados (cerca de 34%)

Essas crianças demonstram sinais de autismo que exigem suporte, mas de forma menos intensa. Geralmente, conseguem se adaptar em alguns contextos, embora enfrentem dificuldades com regulação emocional e mudanças inesperadas.

3. Autismo com atraso no desenvolvimento (cerca de 18%)

Além dos traços clássicos do autismo, apresentam atrasos no desenvolvimento motor ou de fala, além de dificuldades em habilidades de autocuidado. Esse grupo costuma ter características sobrepostas a outros transtornos do neurodesenvolvimento.

4. Amplamente afetados (cerca de 11%)

O menor grupo, mas o que exige maior suporte. Essas crianças enfrentam desafios significativos em múltiplas áreas: comunicação, aprendizado e interação social. Muitas têm habilidades verbais limitadas e necessitam de apoio contínuo e intensivo ao longo da vida.

A influência da genética em cada tipo

Ao cruzar os dados comportamentais com análises genéticas, os cientistas descobriram que cada subtipo está associado a um perfil genético diferente.

  • Mutação de novo: mudanças genéticas espontâneas, não herdadas dos pais, apareceram com maior frequência no Grupo 4 (Amplamente Afetados). Isso pode explicar os casos mais severos, sem histórico familiar de autismo.
  • Variantes herdadas: alterações genéticas transmitidas entre gerações foram mais comuns no Grupo 3 (com Atraso no Desenvolvimento), o que ajuda a entender por que o autismo pode se repetir em algumas famílias.

Nos Grupos 1 e 2, observaram-se combinações de variantes genéticas ligadas a condições como TDAH e mutações com impacto moderado no desenvolvimento.

Essa diferenciação genética reforça o motivo pelo qual muitos exames tradicionais não identificam a causa do autismo: ao tratar tudo como uma única condição, os sinais específicos de cada grupo acabavam diluídos.

O que isso significa para as famílias

Embora esses subtipos ainda não façam parte do diagnóstico oficial, a descoberta já pode ajudar pais e profissionais a compreender melhor os perfis individuais. Algumas ações práticas incluem:

  • Observar com atenção: registrar pontos fortes, dificuldades sociais, comunicação e desenvolvimento da criança.
  • Fazer perguntas específicas ao médico: em vez de questionar apenas sobre “autismo”, abordar como os desafios da criança se alinham com os subtipos descritos.
  • Buscar redes de apoio adequadas: conectar-se com famílias que vivenciam realidades semelhantes pode trazer orientações mais úteis.
  • Gerenciar expectativas: a mudança no diagnóstico clínico levará tempo, mas esse conhecimento já fornece um vocabulário mais preciso para discutir necessidades.

Um novo caminho para o futuro do autismo

Portanto, a partir dessa nova descoberta, as famílias reforçam algo que já sentiam: cada criança no espectro é única. Ao identificar quatro tipos de autismo, a ciência dá um passo importante rumo à personalização dos cuidados, com terapias e intervenções mais ajustadas a cada perfil.

Embora ainda leve tempo para que os protocolos clínicos mudem, o avanço traz esperança de que, em breve, os tratamentos deixem de ser “tamanho único” e passem a refletir a singularidade de cada pessoa no espectro autista.

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