A morte, independente de ser física ou simbólica, traz com ela o germe da transformação inevitável, traz a semente que nos empurrará para o futuro.

Não estamos preparados para dizer adeus. Mas o luto é inevitável. No decorrer da vida, as perdas são muitas. Alguns morrem literalmente mesmo. Alguns morrem apenas para nós e continuam existindo e fazendo a diferença para outras pessoas.

Não só pessoas e relações são sepultadas no decorrer da vida. Sepultamos ideais, sentimentos, projetos, visões de mundo, versões de nós mesmos. Viver o luto não é uma questão de escolha. A vida lançara os desafios e teremos que enfrentá-los, querendo ou não. Já a forma de viver o luto é opcional. A forma de viver o luto é uma escolha.

Diante do indizível, do não simbolizável que é a morte, podemos sacralizar o momento, conferir-lhe dignidade, aprender algo. Ou podemos simplesmente sofrer.

A morte, independente de ser física ou simbólica, traz com ela o germe da transformação inevitável, traz a semente que nos empurrará para o futuro.

Quando alguém que amamos falece, leva com ela um pouco de nós , mas deixa muito para trás também. Se uma partezinha nossa morre junto com o ente querido, algo deste mesmo ente continuará existindo e florescendo em nós, por meio de nossas lembranças, por meio de tudo que ela nos ensinou de forma direta ou indireta.

Este pequeno artigo é uma homenagem que presto à minha avó materna que deixou este mundo hoje. É a minha forma de sacralizar o momento, de torná-lo mais significativo e não simplesmente triste.

Depois de 11 dias internada, vovó faleceu com 99 anos de idade, 5 meses e 8 dias. Uma vida longa, árdua, cheia de fases difíceis e sonhos não realizados. Vovó queria ter sido uma mulher independente. Talvez, uma escritora, protagonista de um grande amor. Vovó nunca conseguiu escrever a sua própria história como a maioria das mulheres de seu tempo, mas nem por isso deixou de sonhar e usufruir dos momentos felizes que a vida lhe proporcionou. Descanse em paz!








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.