Ninguém precisa se conformar com o que é. Porque, muitas vezes, o que somos passa longe do que pretendemos ser.

Lindo, amigo, companheiro. Sagaz, charmoso e discreto. Fofoqueiro, maldoso, invejoso. Sádico, ignorante e superficial. Passamos a vida agradando e desagradando as pessoas que orbitam nossa rotina. Às vezes o mérito de sermos amados ou odiados é nosso. Às vezes não.

Outro dia soube que uma moça que me atendia atrás de um balcão, sempre sorrindo e cordial, disse coisas surpreendentes a meu respeito: tenho um olhar mentiroso e nunca explico direito o que quero. Achei engraçado passar essa impressão. Justo eu, que me acho didática em minhas explanações e procuro olhar nos olhos dos meus interlocutores, me livrando inclusive dos óculos escuros, que sempre me acompanham. E sabe o que é pior? Ela deveria ter razão. Mesmo se baseando em um dia, em uma hora ruim, após eu ter discutido ao telefone ou estar enfrentando uma dor de cabeça de outro planeta. Porque naquele momento, movida por questões pessoais, meu olhar mentiu e me embananei na conversa.

Mas também acontece o contrário. De a gente se pendurar em elogios como se essas “terezas” nos içassem para um patamar de ser humano melhor. Somos amigos. Gentis. Solidários. Formamos um casal lindo com nossos partners. Será? Talvez sim. Mas talvez não. Talvez só o rótulo pulcro, de pessoa que beira a perfeição, nos baste. E usamos essa marca-registrada para sair por aí, desfilando a boniteza mal atribuída como quem usa uma roupa de grife emprestada.

E há outros casos – talvez os mais graves – quando alguém olha em seus olhos e te lê nos detalhes. E decreta quem você é de maneira assertiva. Mas, apesar de enxergar sua alma e adivinhar as minúcias, ainda assim esse alguém erra. Porque, como seres transitórios, não precisamos nos conformar nem com quem realmente somos. Até a tal da índole é capaz de se reinventar.

Se aconchegar no conforto do “ele é uma pessoa tão justa e centrada”, como se fossem características físicas imutáveis (ah! Características físicas também são mutáveis!), sem perseverar dia a dia para ser justo e centrado (caso isso lhe agrade), acaba fabricando mentiras.

E até quem diagnostica acertadamente uma alma vil pode equivocar-se. Porque também as peculiaridades mais nefastas são passíveis de transformar-se. Temos a capacidade de varrer de dentro de nós a perversidade, o egoísmo, a baixa autoestima mesmo quando esses rótulos já se tornaram pseudônimos. É a vontade de reinvenção que nos move em todas as direções. Nunca somos. Sempre estaremos.








Oi, tudo bem? Sou jornalista, formada pela Universidade Metodista de São Bernardo. Profissionalmente atuo como articulista e gero conteúdos para fins diversos. Mas textos sobre saúde e comportamento ganham meu coração e minhas madrugadas. É quando converso comigo mesma e, por conseqüência, alcanço outras pessoas, sempre procurando um contraponto, dado luz aos bastidores dos sentimentos numa tentativa pueril de deixar uma mensagem positiva para quem me lê.