Muitos de nós adoramos opinar e dar palpites na vida alheia, como se pudéssemos encontrar soluções aos problemas do mundo, sentindo-nos no direito de nos intrometer onde não fomos chamados. Dependendo do grau de intimidade que tenhamos com a pessoa a quem nos dispomos a aconselhar e caso não tenhamos sido chamados para opinar, estaremos sendo deselegantes e desagradáveis.

Primeiramente, é preciso que a pessoa seja íntima o bastante para que possamos nos sentir à vontade para lhe dizermos o que pensamos. Em segundo lugar, o outro nem sempre estará disposto a ouvir o que queremos lhe dizer, por mais próxima que seja a nossa relação. Além disso, a forma como dizemos o que pensamos determinará a receptividade ou não por parte do interlocutor.

Vale lembrar que cada um possui as próprias verdades, ou seja, a nossa verdade muito provavelmente não será semelhante à do outro. É muita arrogância acharmos que estaremos sempre com a razão e que aquilo que vem de encontro ao que pensamos é um equívoco. Os donos da razão acabam se tornando pessoas muito chatas, desagradáveis e são evitados por todos.

Da mesma forma, teremos que nos manter firmes e convictos do que e de quem queremos por perto, para não cedermos às pressões dos tiranos à nossa volta, anulando-nos em tudo o que sonhamos por conta de inseguranças e medos tolos. Ninguém merece esvaziar-se do que lhe sustenta, da essência de seus sentidos, de suas verdades mais íntimas, cedendo às imposições de gente palpiteira que mal conhece, gente que não faz diferença alguma na sua vida.

Com exceção das situações em que somos responsáveis por alguém que dependa de nós, como filhos, alunos, familiares, é preciso cautela. Se ninguém lhe pediu, não aconselhe. Se o outro não perguntou, não tente explicar. Quando a pessoa não quer, ela não ouvirá a ninguém, não se abrirá para receber nada, tampouco mudará sua forma de agir e de pensar. Qualquer esforço nesse sentido será, então, inútil. É assim com você também, é assim com todo mundo.

Uma das formas de vivermos em harmonia pelos ambientes onde transitamos é estabelecermos os limites entre nós e o outro, para que não adentremos em situações desagradáveis e desgastantes, que em nada nos acrescentarão. Afinal, enquanto guiarmos os nossos passos por convicções que espelham as verdades de nossa alma, estaremos sempre seguros quanto ao ritmo que sustenta o nosso caminhar, sem darmos ouvidos aos palpiteiros de plantão.

 








Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.