Para Nietzsche, mais importante do que a verdade é o questionamento sobre por que existe, no homem, aquele impulso à verdade. Alex Supertramp estava em busca dessa verdade, da verdade das coisas. Um sentimento que, em algum momento da vida, todos nós temos. A vontade de saber o que se esconde por trás das máscaras, das maquiagens e do controle. A vontade de saber o que somos e o que faz o coração bater mais forte. A vontade de saber o que é um sorriso apenas pelo momento.

A busca por essa ilha desconhecida, que é o ser humano, torna-se difícil na vida em sociedade, uma vez que está está cercada de controle e de regras que devem ser seguidas como mandamentos. E todos aqueles que buscam viver suas vidas fora dessa rede aprisionadora são vistos como loucos. Perceber-se estando imerso nesse ambiente que condena a busca pelo autoconhecimento, a solidão necessária a essa busca de si e o pensamento crítico, é quase impossível.

Essa atmosfera pesada criada pelas ditaduras, como a do consumismo, que serve apenas para afastar as pessoas umas das outras e simbolicamente dar valor a coisas secundárias, atormenta Alex, que se sente intoxicado e anseia por ares mais leves e limpos.

“Não mais disposto a ser envenenado pela civilização, ele foge.”

Alex compartilha de Thoreau a agonia de não entender a imobilidade das pessoas que se comportam segundo os ditames e regras da sociedade. Totalmente adequadas e adestradas, são incapazes de modificar as suas vidas, nem mesmo se questionam se não existem outras possibilidades de vida que não seja a da sociedade de consumo, a qual produz grandes mazelas sociais, embora, seja mascarada por um falso discurso de progresso, diga-se de passagem, visão positivista que já deveria ter sido superada.

A vida na natureza selvagem, para Alex, assim como foi para Thoreau, é a forma que ele encontra de poder enxergar além da obviedade daquilo que todos percebem. Ele quer poder enxergar a si mesmo sem lentes. Enxergar o que o cerca e tirar as suas próprias conclusões. A busca pelo autoconhecimento e, por conseguinte, pela verdade, é o que o faz afastar-se da sociedade, para que, assim, sem obrigações e olhares, consiga ter linhas da sua vida escritas por si mesmo.

Alex não quer passar a vida sendo apenas uma marionete que faz o que os outros dizem ou o que a sociedade julga como certo, como adequado. Ele sabe que existem outras possibilidades, que cada um deve viver conforme lhe apraz e que existem valores maiores do que as mentiras e as hipocrisias das relações sociais, cheias de glamour e de superficialidade. Como ele mesmo diz, o âmago da vida está em viver novas experiências, sobretudo, consigo mesmo. Mais que isso, permitindo que os desejos do seu coração tornem-se fatos do seu entendimento. Entretanto,

“Somos completa e sinceramente forçados a viver reverenciando nossa vida e negando a possibilidade de modificação. Dizemos ser esta a única maneira, mas há tantas quantos os raios que podem ser desenhados a partir de um centro.”

Em troca de uma vida aparentemente confortável, deixamos de existir e passamos apenas a representar os papéis que a sociedade nos oferece. Chega a ser estranho como nós, seres livres e pensativos, em determinado momento ficamos condicionados. Vivemos vidas sem brilho e repetitivas. Não conseguimos perceber o que nos cerca, a natureza, o outro. O pior é que não demonstramos a menor vontade de mudança, ainda que silenciosamente nos matemos a cada dia.

“A grande maioria dos homens leva uma vida de sereno desespero.”

O que Alex quer, no fim das contas, é descobrir o que faz o seu coração ferver. O que é a felicidade real, fora do mundo de obrigações e status, de hipocrisias e mentiras. A grande questão é que o preço por essa busca é doloroso, pois a liberdade traz um fardo pesado para o indivíduo e exige deste a capacidade de lidar com as verdades por trás das máscaras, o que, sendo honesto, muitas vezes não preferimos. Mas Alex é corajoso e destemido, e não quer passar o resto da vida sofrendo silenciosamente. Não se importa em deixar para trás uma carreira de “sucesso” ou um belo carro, pois o que não quer é morrer sendo um estranho a si mesmo. Assim, vai em busca da verdade, da sua verdade. E você, já descobriu a sua?

“Mais do que amor, do que dinheiro, do que fé, do que fama, do que justiça, dêem-me a verdade.”








"Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada." Zygmunt Bauman.