Uma música que será evitada porque trará lembranças. Um livro será lido pela metade e esquecido na estante. Uma blusa será escondida no fundo da gaveta. Uma foto será rasgada ao meio. Um perfume irá parar no lixo. Uma paisagem não vai ser mais vista. Tenho mania de evitar aquilo que me trará dor, de mudar de rua se preciso, pegar um atalho e ir parar aonde não pretendia ir. Não sou forte o bastante, eu queria ser, mas infelizmente não sou, pois enfraqueço diante de memórias, sejam dolorosas ou felizes, não importa, pois irão me atingir da mesma forma e me deixar com um aperto no peito.

Eu sabia que tudo poderia chegar em um final infeliz, que a eternidade não pode ser vivida na terra e sim no céu ao lado de Deus, porém eu queria que durasse além do esperado, que roubasse um pedaço daquilo que é eterno para não correr o risco de acabar. Mas estou aqui dizendo a mim mesma que não adianta pensar no que poderia ter sido, o que eu poderia ter feito diferente. Se tivesse evitado tal coisa, se tivesse corrido mais atrás, não desistido depois de tantos machucados. Será se seria diferente? Se eu tivesse tido um pouco mais de coragem e dado lugar ao risco, quem eu teria me tornado? E com quem eu estaria agora?

Não sei dizer. Talvez o tempo passe e eu nunca saiba esses questionamentos responder. Só sei que um nó está alojado na garganta e as lágrimas foram proibidas de cair, pois tenho que me manter de pé já que a estrada ainda é longa e o caminho não acaba quando algo ou alguém vai embora. Porque o mundo não para, a não ser aquilo que você tinha como seu mundo particular, onde havia aquele conjunto de pessoas, coisas, cheiros e hábitos, aquelas coisas especiais e únicas feitas por você. Esse mundo sim para e fica estagnado até você se recuperar e dizer que está pronta para seguir em frente. Mas fica se perguntando internamente aonde que esse “em frente” vai parar.

Não quero ser tão pessimista, mas estou aqui e algo parece que morreu dentro de mim. Por que é sempre assim? Alguém vai embora, um objeto se quebra, uma canção termina, e você tem essa sensação de luto porque parece que alguma coisa morreu, que aquilo que você tinha como peça fundamental perdeu a vida. É que quando você constrói uma muralha em volta do que ama pensa que sempre estará seguro, que terá para sempre aquele pedacinho do paraíso, mas quando as muralhas vão ao chão e se tornam ruínas, você quer saber se isso seria previsível, porque se fosse teria evitado o apego e deixado ir bem antes de você tentar prender.

Mas como saberemos o fim que irá levar? Como saber se o namoro acaba? Se a amizade termina? Se o casamento terá uma traição? Que o pai ou a mãe irão falecer? Como saber? Que aquela faculdade não era para você? É se vivendo. É caindo, é levantando, é chorando, é rindo. Não poderia eu ficar parada esperando o mundo me surpreender, ou dizer aonde eu iria cair, eu tive que dar a cara ao tapa ao me entregar a diversos tipos de amor, mesmo sabendo que no fim seriam apenas eu e Deus. Porque em tudo você tem o risco mesmo de perder, mas evita o máximo pensar nisso. A faculdade pode perder, além do amigo, do avô, do emprego. Tudo pode ir embora e te deixar para trás. Mas o que você faz?

Você segue. Mas antes você chora, você lamenta e pergunta aos céus o porquê. Se Deus sabia o quanto aquilo era importante para você, por que Ele deixaria ir? Por que Ele te faria ficar assim tão só? Todavia, cheguei a conclusão de que há respostas que obterei apenas na eternidade e que ficar repetindo as perguntas aqui na terra só irá aumentar minha dor. Porque o que foi já partiu, e mesmo assim algo ainda está morto ou dormindo, é uma dormência, uma anestesia, uma parada emocional. Mas é sempre assim. Alguém se vai e ficamos olhando para os lados esperando uma sombra se aproximar e dizer que ainda não é o fim, mas uma pausa na relação que continuará depois.
Entretanto, que garantias temos? Quem pode confirmar a mim e a você de que um dia teremos ao lado quem já se foi? E alguns até se foram porque quiseram, nem é questão de morte e sim de desinteresse. Bem, Deus implantou em mim, no meu coração, a eternidade. Ela me diz que um dia toda essa dor, essa sensação de abandono, de morte emocional, terá fim. Que toda perda aqui é lá no céu um recomeço, uma chance de ser amada da forma mais pura e linda que existe, que já estou experimentando aqui quando me relaciono com Deus, mas que diferente daqui não terá interferência de pecados, erros e medos, que tudo será pleno, infinito e puro. Que lá poderei ter as respostas, ou talvez eu nem vá mais me importar tanto assim com elas. Porque lá é meu lar e finalmente me sentirei em casa ao estar refugiada nos braços de Deus.








Tatielle Katluryn, florescida em 1996, com sangue Maranhense e coração pertencente ao céu. Sou cristã e estudante, apaixonada por livros do séc. XIX e Astronomia. E Deus me chamou para falar aquilo que Ele quer dizer as pessoas, para levar a paz a corações tão ansiosos quanto o meu. É tão linda a forma que Ele me cuida enquanto me usa para fazer sua vontade e só tenho a agradecer por tamanho amor que me consertou sem eu merecer.