Ela acordou e percebeu que sentia saudade de si mesma. Não a saudade vaga de olhar-se no espelho, tomar um banho demorado, ouvir as músicas de que gostava, ler seus livros preferidos. Era uma saudade mais profunda e abrangente, saudade de sentir-se inteira e consciente de si mesma. Tanta coisa havia mudado fora, no que ela havia se transformado? Para abrandar a saudade, precisava agora de coragem. Coragem de despir-se, desproteger-se, desabrigar-se.
Tinha sido desafiada. A vida linear, organizada e coerente teve seu tempo, seu lugar, mas havia lhe poupado de aprofundar-se em si mesma. Agora tudo mudara. Sabia muito mais de si ao ser confrontada com a impermanência, transitoriedade e fragilidade da vida. Descobria-se forte. Corajosa. E de certa forma madura. Sua alma perdera o medo dos próprios abismos.
Agora ela sabia de seus próprios mistérios e respeitava. Tinha descoberto um jardim secreto que só ela podia visitar e de que gostava. Viu o melhor e o pior de si, e desistiu de classificar-se.
A mulher que havia se tornado deu as mãos à menina que foi e, juntas, prometeram nunca mais ausentar-se de si mesmas.
Naquele momento, compreendeu que não era necessário dar nomes a tudo nem encontrar significado para a falta de sentido. Perdoava o pranto, os disfarces, a escuridão. E agora abria as portas e janelas, ventilando a culpa e aprendendo a estar só. A vida é gangorra: num dia você chora arrasada pela falta de colos; no outro você sorri sozinha, transbordando amor. E por mais imperfeitos que fossem seus dias, eram o reflexo de quem ela escolhia – diariamente – ser.
Ando viciada na música “Secret garden”, de Bruce Springsteen. A melodia é linda e a letra dialoga com minha alma. “Secret garden” fala sobre uma mulher que deixará você entrar em sua casa, deixará você entrar em seu carro, deixará você ir longe o suficiente.
Mas no momento em que olhar para você e sorrir, seus olhos irão dizer que ela tem um jardim secreto dentro de si, onde você não poderá chegar.
Nossa alma é insondável. E muitas vezes nem mesmo nós temos noção do nosso mistério, da nossa tragédia, da nossa coragem, da nossa paixão, do nosso silêncio, até o momento em que somos desafiados a desproteger nosso coração e encarar nosso jardim secreto.
A personagem criada por Clarice Lispector, em “A Paixão segundo GH”, livro que está me arrebatando atualmente, diz: “Às vezes, olhando um instantâneo tirado na praia ou numa festa, percebia com leve apreensão irônica o que aquele rosto sorridente e escurecido me revelava: um silêncio. Ao olhar o retrato, eu via o mistério. Nunca, então, havia eu de pensar que um dia iria de encontro a esse silêncio. Ao estilhaçamento do silêncio.”
É preciso coragem para ir de encontro ao próprio silêncio, ao próprio mistério, ao próprio enigma.
É preciso estar disposto a deparar-se com a própria face incompreensível, aquela que anda de mãos dadas com o incompreensível do mundo.
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