Por conversar com muitas pessoas, por observar muito as pessoas e a mim principalmente, é que eu cheguei à conclusão que quanto mais se envelhece mais difícil fica para se relacionar.

Por que está velho? Nada disso. Ser mais velho ou mais jovem fisicamente nunca foi problema, as pessoas não ficam menos atraentes por estar mais velhas, pelo contrário, ficam cada vez mais interessantes.

Então o que quero comentar aqui, não é na visão do outro sobre a maturidade, é na nossa própria visão, em nossa própria forma de enxergar o mundo e aceitar as pessoas em nossa vida.

Tenho muitas amigas que quanto mais vão envelhecendo mais se sentem sozinhas. A culpa é do mundo, do governo, dos astros, de Deus? Nada disso, a culpa acaba sendo nossa mesmo.

Quanto mais os anos vão se passando, mais vamos acumulando vivências e muitas delas, por terem sido fracassadas, nos deixaram resquícios doentios do que seria melhor para nós a partir daquele momento, a partir daquela situação, a partir daquele relacionamento. E o que resta sempre de todos esses envolvimentos? Resta o medo. Medo de tentar de novo, medo de reviver algo que não nos fez feliz, medo. Na primeira tentativa desajustada ele era pequeno, em cada outra que vinha após a primeira ele foi aumentando e aumentando até nos consumir. Passamos a ser mais cuidadosos, mais exigentes, mais cheios de manias.

Uma amiga comentou que por mais que os anos passem e que tenhamos consciência plena de que príncipes não existem, ainda os esperamos, porque acreditamos que em meio a tanto sapo que beijamos, um deles um dia, há de se transformar! Queremos o príncipe com aquela pegada de cafajeste mas, quanto mais os anos vão passando, quanto mais vamos resolvendo nossos próprios problemas, enfrentando sozinhas nossas lutas, mais almejamos um ser que não existe e a partir disso, levamos uma vida rodeada de coisas que queremos e podemos fazer, mas sem amor.

Outro dia, um jovem interessado em mim, se aproximou naquele típico rodear da conquista e mesmo sabendo que seria bom dar-lhe uns beijos ali mesmo, eu usei vários minutos escaneando a pequena criatura à procura de algo que me agrade e não. Confesso ainda ter tido pensamentos do tipo: “Ele poderia tanto ser mais inteligente, tão bobinho… Mas por que não dar uma volta com ele?” Foi nessa lamentável hora que eu vi o quanto eu estava mudando conforme eu ia envelhecendo.

Quando amadurecemos, não deixamos mais qualquer pessoa entrar em nossa casa-coração, não abrigamos mais com tanto zelo aquilo que reconhecemos como incerto. Não saltamos mais com tanta intensidade e mesmo que em um surto façamos isso (só pra ver o que vai ser) depois nos arrependemos e voltamos para o topo seguro onde resolvemos nos assentar para observar o mundo de cima, para observar os pequenos seres se relacionando e você se perguntando: “o que há de errado comigo? Por que o mundo me rejeita?” O mundo não nos rejeita, nós que nos tornamos seletos demais.

Bom, baseado em minhas análises particulares, é certo que nossa forma de ver o mundo está nos atrapalhando quando o assunto é relacionar. Sim, temos motivos, afinal, sofremos muitas vezes mais que os adolescentes que estão aí aos cantos chorando pelo primeiro amor! Mas ainda que tenhamos motivos, nossa mania de cristalizar em nossa mente a pessoa ideal está fazendo com que cada ser que se aproxime de nós seja grosseiramente avaliado, analisado para saber se pelo menos uma, das coisas existentes em nossa lista de 1.526 coisas ideais em uma pessoa, confere.

Quando não, o que é óbvio, nos afastamos, deixamos de tentar, achamos que o outro não é o perfeito pra nós e mesmo acreditando que todos têm defeitos, não queremos mais tolerar os defeitos alheios, até porque, nós mesmos, já temos defeitos demais.

No dia em que relaxarmos, no dia que percebermos que estamos exigindo muito de um mundo conturbado como esse em que vivemos, onde em cada dia as pessoas se isolam mais e se afastam mais alegando se aproximar devido à tecnologia, aí sim, nos daremos mais oportunidades, nos abriremos mais à outras pessoas sem aquele medo tolo de se machucar de novo. Temos a péssima ideia de que um coração maduro não se recupera como antes… Bobagem! Nosso coração sempre se renova, nossa mente e nossos conceitos cristalizados que vamos adquirindo com o tempo, é que nos sabotam todos os dias.








Escritora, blogueira, amante da natureza, animais, boa música, pessoas e boas conversas. Foi morar no interior para vasculhar o seu próprio interior. Gosta de artes, da beleza que há em tudo e de palavras, assim como da forma que são usadas. Escreve por vocação, por amor e por prazer. Publicou de forma independente dois livros: “Do quê é feito o amor?” contos e crônicas e o mais espiritualizado “O Eterno que Há” descrevendo o quão próximos estão a dor e o amor. Atualmente possui um sebo e livraria na cidade onde escolheu viver por não aguentar ficar longe dos livros, assim como é colunista de assuntos comportamentais em prestigiados sites por não controlar sua paixão por escrever e por querer, de alguma forma, estar mais perto das pessoas e de seus dilemas pessoais. Em 2017 lançará seu terceiro livro “Apaixonada aos 40” que promete sacudir a vida das mulheres.