É sim um ato de amor dizer o que precisa ser dito, dando ao outro a chance de se reformular, crescer e aprender o que precisa ser aprendido… E mande a diplomacia para o inferno!

Sempre na minha vida fui educada para ter o atributo da diplomacia. Ficar ali, balanceando e equilibrando mil pratos para evitar a terceira guerra mundial, não criar atritos, manter a harmonia nos ambientes mais diversos.

Como oriental, em menor ou maior grau, há aquele valor de ser mais comedido, extremamente polido. E como mulher, na cultura (ainda) machista que vivemos, o folclore, o imaginário e o ideal mais submissos, conciliadores, delicados, de que tudo e todos aguenta, ainda rondam e assombram as mulheres.

Por muito tempo, mantive-me nessa tentativa de manter a paz e a harmonia dos locais e relações acima de tudo. Sufocar impulsos, engolir sapos e até submeter-me ao que não queria, eram práticas corriqueiras e aparentemente desejáveis para que tudo continuasse na mais absoluta paz.

Hoje, entretanto, esse tipo de “harmonia a qualquer preço” não é mais um valor ao qual me amarro, principalmente em detrimento de outros valores e necessidades que não podem ser massacrados pelo bem dessa dita “diplomacia”.

Tudo, nessa vida, é equilíbrio, e o uso da diplomacia também deve ser feito com parcimônia. Isso porque os conflitos, as discussões, o antagonismo de ideias, posições, sentimentos e opiniões fazem parte da vida, e mais, é saudável que existam e sejam colocados em pratos limpos, debatidos, resolvidos de forma objetiva e clara.

Na tentativa de uma desejada “paz”, problemas deixam de ser confrontados e solucionados de uma forma definitiva, saudável, adulta. Ao invés disso, a enganosa “harmonia” geralmente leva ao acúmulo de mágoas pelas coisas não ditas, pelas discussões não realizadas, retirando a chance de que os dois lados cheguem, juntos, a uma solução conjunta e verdadeiramente diplomática, verdadeiramente apaziguadora dos conflitos latentes.

Essa diplomacia exagerada pode ter um efeito rebote pior do que a encomenda: quantas pessoas dessas, que evitam os conflitos, depois de um tempo explodem toda aquela raiva, dor e ressentimento de uma só vez, da forma menos saudável possível?

Com certeza você já viu (ou até mesmo já foi) essa pessoa. Como aquela velha imagem, não adianta jogar a poeira pra debaixo do tapete, pois tirar da visão não faz com que ela desapareça, ao contrário, ela fica ali, acumulando e acumulando até não caber mais.

Além disso, essas coisas desagradáveis de serem ditas e expressas, colocadas em pratos limpos, são extremamente necessárias para que o seu interlocutor possa abrir uma porta de consciência sobre aspectos de si mesmo, obtendo aprendizados essenciais para a sua evolução. Principalmente com quem amamos, é sim um ato de amor dizer o que precisa ser dito, dando ao outro a chance de se reformular, crescer e aprender o que precisa ser aprendido.

Há também aquelas pessoas e situações que não estão merecendo nossa saída apaziguadora. Sim, como diria a famosa frase, “eu não sou obrigado”!

Quantas pessoas você se desdobra para manter uma diplomacia em nome de uma relação que não existe? Que não te acrescenta, ou mais, que te diminui, te viola e te massacra?

Não estou aqui fazendo uma apologia a ter respostas e saídas violentas ou desequilibradas, mas simplesmente não ficar em silêncio ou passivo diante de uma situação que lhe desrespeita ou viola de formas injustificáveis e injustas.

Colocar-se, de forma assertiva, objetiva e firme, deixando claros os limites do tolerável, é necessário para se ter uma relação saudável com os demais, e, acima de tudo, para estar bem consigo mesmo. E, em última análise, quantas relações que estão mesmo é precisando ser extirpadas da nossa vida, que não valem nossa paz interior e nossa dedicação e, muito menos, um sobre humano esforço de “colocar panos quentes” para manter algo que sequer lhe agrega ou lhe faz bem.

Desse modo, ao contrário do que muitas vezes pode parecer, ser a pessoa que nunca entra numa discussão, considerada sempre fácil e tranquila de lidar, nem sempre é a pessoa mais madura (aliás, muitas vezes pode inclusive ser uma falta de coragem em lidar de frente com os problemas).

Maturidade é saber usar sim a diplomacia, de forma comedida, mas sem jamais perder de vista o respeito à si mesmo e a imprescindibilidade de encarar algumas batalhas inevitáveis do caminho.








Formada em Direito, escritora por necessidade de alma, cantora e compositora por paixão visceral. Só sabe viver se for refletindo sobre tudo, sentindo o mundo à flor da pele. Quer transmitir tudo que apreende (e aprende) por todas as formas criativas possíveis.