Por: Daniela Knapp

São vários os papéis que uma pessoa pode exercer dentro de uma família: o papel de filho, pai, irmão, sobrinho, tio, entre muitos outros. Para cada papel desempenhado espera-se um tipo de ação, tem-se expectativas, responsabilidades e deveres. Mas existem momentos em que pode acontecer uma inversão desses papéis, por exemplo, os filhos assumirem o papel de seus pais. Tal fato remete ao termo parentalização ou parentificação, que é justamente essa inversão e distorção de papeis no relacionamento entre dois membros da família.

A parentificação é um processo normal quando temporário, sendo fundamental para o crescimento da criança e transmissão dos papéis parentais, uma vez que lhe é dada a oportunidade de ter algum tipo de responsabilidade por um certo período de tempo na família. O grande problema é quando esse processo se torna contínuo, ou seja, quando o filho assume a função dos pais. O filho então toma para si uma grande responsabilidade sem ter ainda estrutura psicológica para tal e os pais, por outro lado, se colocam em uma posição infantilizada para não precisarem encarar seus próprios problemas.

Pode-se perceber mais facilmente a parentificação quando observamos um filho cumprindo muitas tarefas domésticas e cuidando dos seus irmãos mais novos, mas esse processo pode ter contorno mais sutis, quando os filhos assumem a responsabilidade pelo bem-estar emocional de um dos pais, em detrimento das suas próprias necessidades.

Quando esse processo pode acontecer?

Na grande maioria das vezes o processo de parentificação acontece quando os pais são carentes emocionalmente e recorrem aos filhos para se sentirem confortados. Os filhos querem ou se sentem obrigados a apoiarem emocionalmente os pais por estes buscarem apoio ou consolo emocional neles. Os filhos passam a ter uma importância exagerada e inadequada na família, sentem-se responsáveis pelos pais e os pais, por sua vez, esperam dos filhos um comportamento de adulto.

Esse esquema gera grande sofrimento na família, principalmente aos filhos que vem as suas necessidades de proteção, amparo e cuidado negadas e substituídas por responsabilidades que não estão prontos para assumir.

Fatores de Risco

Existem algumas situações que podem mais facilmente desencadear um processo de parentificação. Essas situações não são determinantes para que aconteça essa inversão, mas podem contribuir em grande escala para esse acontecimento.

Divórcio
Um casal divorciado pode manter os papéis definidos, distinguindo os limites do relacionamento com os filhos, mas na maioria das vezes os filhos de pais divorciados acabam acumulando mais tarefas e assumindo um papel mais ativo na tomada das decisões.

Ausência de um dos cônjuges
Quando o pai é ausente ou falece, o filho mais velho geralmente ocupa o seu lugar e, no caso da mãe, a filha geralmente sente essa responsabilidade. Em ambos os casos, o equilíbrio entre dar e receber fica prejudicado, pois os filhos se veem na obrigação de somente dar, sem receber nada em troca.

Carência emocional decorrente de problemas no casamento
Quando o pai sente falta da esposa acaba requerendo o amor da filha, por outro lado a mãe que se decepciona com o marido acaba usando o filho para suprir toda a sua carência, muitas vezes querendo tornar o filho melhor do que o seu cônjuge.

Por mais que se esforcem, os filhos nunca conseguirão preencher a carência dos pais e tampouco aguentam o peso emocional de tal tarefa. Com o tempo se sentirão sem força, podendo desenvolver doenças psicológicas ou relacionamentos futuros disfuncionais.

Como evitar a parentificação

Não faça do seu filho o seu principal confidente

É normal que os pais desabafem com os filhos, mas deve-se ter cuidado quando essa prática é muito frequente. Os filhos não estão preparados psicologicamente para tratar das necessidades e dos problemas dos adultos. Portanto, os pais devem procurar outros adultos e fontes para exporem seus problemas a fim de superarem a situação.

Deixe claro quem é o pai/mãe

Os filhos não devem ter dúvidas de quem está no comando. É claro que devem ajudar e desempenhar tarefas em casa, mas nada de exageros.

Não preocupe seu filho de forma exagerada

Se os filhos veem frequentemente os pais ansiosos, preocupados e desanimados com suas inquietações, facilmente substituirão seus problemas de infância como amizades, escolas e brincadeiras por temas sobre a gestão familiar, por exemplo. Essa situação pode gerar um nível de apreensão, angústia e estresse muito alto na criança.

Não use seu filho para dar recados ao cônjuge

Os filhos não devem ser usados como intermediários para levar recados e nem como informantes de como está a vida do outro. Essa responsabilidade de contato é do adulto e não da criança.

Cuide de suas próprias necessidades
Cuidar de si próprio, perceber suas carências e procurar ajuda são essenciais para se manter um relacionamento saudável com os filhos. Pais que dizem viver para os filhos, podem usá-los como válvula de escape para não entrar em contato com suas próprias angústias. É importante que os pais estejam atentos a essas situações.