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Idealizar é querer que o outro seja previsível

Todos os dias eu respiro fundo. Não porque medito, mas porque preciso que o ar entre nos meus pulmões e comprima, pelo menos um pouco, a minha frustração. Porque quem cria expectativas demais às vezes parece transbordar. E a sensação de que falta só a gota d’água é uma sombra que está comigo sempre, não importa a incidência da luz.

É automático. Penso em uma festa: imagino todos presentes, com seus sorridentes abraços brindando a vida. Falta um e o mundo desaba. Penso em um presente: já me vem a expressão facial da pessoa que está recebendo, a sensação das mãos dela nas minhas costas pelo abraço apertado. O abraço dura um segundo mais e parece que nada vale a pena. Uma surpresa e poft! Está na minha imaginação até o cheiro que o ambiente tem.

O problema é que nunca acontece. Não porque o mundo é mau, nem porque as pessoas são imprevisíveis. Apenas porque a minha imaginação leva em consideração apenas o filtro do meu mundo. Porque imaginar uma pessoa tímida gritando de felicidade, se ela nunca faria isso? Como é que minha cabeça me leva a acreditar no abraço apertado de alguém que não se aproxima? É simples: porque eu grito, porque eu abraço, porque eu sou assim.

Racionalmente, não quero que ninguém seja previsível. O mundo seria um porre sem o carinho supresa no meio da noite, os exageros e as hipérboles de cada ser humano. Então porque, emocionalmente, eu desejo isso mais do que tudo?

A expectativa mora na gente, mas depende do outro. E o outro tem expectativas, que moram nele e dependem da gente. Estes dois universos não se falam. O mundo é uma imensa torre de Babel onde decepcionamos e somos desapontados o tempo todo.

Não existe segredo para desativar o botão preview do nosso cérebro. Existe respirar fundo, contar até 10, deixar a frustração comprimir e voltar a viver. E eu faço isso. Várias vezes por dia.

Marina Melz

É jornalista e trabalha com assessoria de imprensa.

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