Eu acho que já amei alguém ou me apaixonei, sei lá. Só sei que meu coração batia mais rápido quando ele se aproximava de mim e eu nunca soube explicar isto, entende? Eu apenas sentia, sempre achei que as explicações científicas tiravam toda a graça das coisas. Se foi amor? Acho que foi mais para; “Como-eu-não-havia-reparado-naquele-sorriso-bobo-antes?” Eu nunca soube se ele sentia o mesmo, também nunca o questionei. A primeira vez que a gente se cruzou foi no ônibus e, cê sabe, aquela troca de olhares e sorrisos tímidos já diziam tudo. Um sorriso de canto de boca dali, umas bochechas envergonhas daqui, resultado, dois corações apaixonados.

Eu não cheguei a perguntar o seu nome, mas eu sabia que aquele sorriso tinha sido entregue para mim. Dizem por aí que os amores platônicos são os que mais nos conquistam, porém, os mais difíceis de acontecer. Pensando bem, acho que deveria ter perguntado o seu nome, ou pelo menos ter comentado algo sobre o trânsito, sei lá. Mas não sei por qual motivo, eu não o fiz. Talvez eu estivesse distraída demais construindo um futuro utópico ao lado de alguém que estava apenas a uns metros na minha frente e dentre todos aqueles pensamentos, acabei me sentindo mais segura nas minhas fantasias bobas do que na possibilidade de encarar a realidade.

Romeu e Julieta?
Como assim?
Não era possível que ele estivesse lendo o meu livro favorito. Outra chance para eu ir até lá falar com ele.
Mas o que eu digo?
Alguém me ajuda?
Qual desculpa eu vou dar?
“Este-lado-do-ônibus-é-o-lado-da-sombra?”
“Sabia-que-este-é-o-meu-livro-favorito?”
E eu dizia para mim mesma; Fala alguma coisa sua idiota.

Ele sorria enquanto lia. Não dava para explicar o quão mágico era aquilo tudo. Certo dia minha avó me contou um segredo em meus anos mais jovens. Ela disse baixinho em meus ouvidos:

Cê tá vendo o vovô sentado lendo aquele livro ali? Talvez você não vá entender o significado disto minha filha, mas quando você ver um homem lendo um romance, seja qual for, case-se imediatamente.

E hoje eu me questiono: Quantos homens na rua você consegue ver lendo um romance?
Vovó tinha razão.

Eu queria ter observado mais aqueles olhos claros, queria ter ouvido aquela voz que eu tenho certeza que namoraria meus ouvidos nos primeiros instantes em que o som escapasse daquela boca. Queria ter dito a ele que Romeu e Julieta era meu romance favorito, e que a gente já poderia se casar segundo a minha avó, e olha que ela tem uns 60 anos de casada.

Eu poderia ter dito tantas coisas.

Mas não disse sequer uma palavra.

E eu sussurrava baixinho;
Fica.
Enquanto ele descia do ônibus.

A gente quer dizer tanta coisa, – por algum motivo – acabamos ficando calados.








Apaixonado pela poesia feminina. Acredito fielmente que o amor seja o infinito que resolveu morar no detalhe das palavras. Muito prazer, eu me chamo Pedro Ficarelli, e escrevo com o único intuito de pôr palavras onde a tua dor se faz insuportável.