Encontrei-me com um amigo, dia desses, e passamos a noite conversando sobre nossas questões e dúvidas sobre profissão e carreira. Levantei a bandeira de que estava me sentindo meio perdida, achando que as coisas não estavam dando certo, andando muito devagar. Aquela história de se sentir à deriva e esperar o vento soprar para algum lado, em vez de remar com toda a força para algum lugar que não se sabe exatamente aonde vai dar. Sempre aparece uma época em que eu começo a questionar sobre tudo e, principalmente, sobre minhas escolhas.

Daí ele falou para eu olhar para trás e perceber quanta coisa eu já tinha feito, onde eu já tinha chegado. Parei para pensar que, realmente, já percorri um grande caminho e não tenho por que me sentir assim, já que as coisas estão de fato acontecendo. Mas eu não consigo perceber, porque estou cega pensando apenas na linha de chegada.

É claro que, quando você tem um objetivo, mas não sabe ao certo como alcançá-lo, você fica atirando para todos os lados e, muitas vezes, não acerta nenhum alvo. Ou pior, quando você não sabe nem qual é o objetivo, fica quase impossível avançar. Sempre me falaram da importância de traçar metas para se chegar ao objetivo. Mas e quando essas metas que você achava que seriam suficientes não são suficientes? Surpresa! Elas nunca são.

O sucesso nunca é uma linha reta. Ele exige mais esforço do que se imaginava e tanta coisa surge no caminho, que parece que nunca vai dar certo. E você olha para o lado e parece que todo mundo está conseguindo êxito, menos você. E aí começa o processo inútil e devastador de se comparar com os outros. Essa é a pior forma de se frustrar. Você só pode se comparar a quem você era ontem. A gente sabe de tudo isso, mas o ego, ah, o ego, esse monstrinho que nos faz chorar de olhos fechados numa terça-feira de manhã. E aí pensamos um monte de coisas horríveis sobre nós mesmos, mas demonstramos o inverso socialmente. O ego nos faz parecer uma placa de ferro que amassa qualquer coisa no caminho, inclusive nossas verdadeiras vontades. Por isso o gosto de metal que fica na boca.

Entre todas essas peças que a nossa mente prega, é preciso parar um pouco de olhar para a frente e começar a olhar para trás, para o que já foi feito e conquistado. Se a gente fica muito focada no destino, perde-se toda a graça do caminho e também aquelas pequenas glórias diárias que a gente deixa de lado por “não ser o suficiente”. Se a gente entrar nessa, nada vai ser o suficiente e a vida vai ser uma eterna frustração. Isso tudo pode ser um grande clichê, mas esse meu amigo, durante a conversa, contou-me uma história pessoal que pode parecer boba, mas faz todo sentido.

Ele me contou que há um tempo queria ficar com o corpo ideal para ele e essa meta seria atingida quando ele chegasse aos 100 quilos, mas com músculos e não com gordura, o que é bem difícil. Mais difícil, inclusive, do que emagrecer. Quem malha sabe como é preciso se regrar para “crescer”. Então, ele começou a se dedicar muito. Fazia alimentação certinha, malhava todos os dias e saiu dos 86kg para 97kg, com muito esforço, mas não conseguiu chegar aos 100kg.

Daí, ele encontrou uma amiga que ele não via há muito tempo e ela falou “nossa, você conseguiu! Parabéns, você conseguiu o que queria”. E ele, em vez de aproveitar o elogio e se sentir feliz pelo que tinha conquistado, simplesmente esnobou e pensou “Não cheguei onde eu queria, ainda falta para chegar lá e eu estou frustrado porque não consegui”.

Às vezes, a gente fica tão obcecado pelo resultado, que se esquece de se satisfazer com o que já foi alcançado. No final das contas, a vida nem tem linha de chegada, o que vale é o caminho mesmo e o caminho é feito no dia a dia, na monotonia inevitável, nos passos pequenos e nos largos também. Se a gente comemorar cada pequeno passo como uma conquista, o objetivo fica mais próximo e a vida, com certeza, fica mais divertida. A gente já se exige demais todos os dias. É necessário sentir orgulho também.

Eu acho que mereço dar uma relaxada.








Marcela Picanço é atriz, jornalista e gosta de fingir que entende das coisas. É fissurada por pessoas e acredita que nossas histórias são as coisas mais valiosas que temos.