Fernanda Montenegro diz que marido foi seu único homem: ‘Não apareceu ninguém melhor’

Às vésperas dos 90, atriz troca ‘festança’ de aniversário por lançamento de livro de memórias, em que descortina um panorama do Brasil em rádio, teatro, TV e cinema.

Por Maria Fortuna/O Globo

RIO — Fernanda Montenegro chega acelerada ao prédio de sua editora, na Cinelândia:

“Trouxe um monte de roupa”, diz, referindo-se à mala abarrotada de opções para sair bem nas fotos. Está prestes a encarar uma série de entrevistas em torno do lançamento de seu livro de memórias, “Prólogo, ato e epílogo”, que chega nesta sexta-feira às livrarias pela Companhia das Letras.

A maratona de compromissos – a que se dedica “sem reclamar”, ressalta – mal tem deixado tempo para planejar a comemoração de seus 90 anos, no próximo dia 16. Uma coisa é certa: ela não deseja grandes badalações.

O livro é o resultado de 18 entrevistas com a escritora e jornalista Marta Góes, sobre as quais Fernanda se debruçou acrescentando, desenvolvendo e ordenando a sequência da narrativa.

O processo tomou dois anos da vida da atriz, que, junto com sua história particular, descortina para o leitor um panorama da arte brasileira — rádio, teatro e cinema — que começa nos anos 1930.

Um contexto em que as atrizes, assim como as prostitutas, para poderem circularem à noite, eram obrigadas a portar uma carteirinha expedida pela polícia.

Fernanda acha que a profissão nunca foi prestigiada como merece, mas segue exercendo seu ofício.

Acaba de fazer participação na novela “A dona do pedaço”, de Walcyr Carrasco (“amo a coragem folhetinesca dele, melodramática descarada”) e rodou três filmes inéditos: “Piedade”, de Cláudio Assis; “A vida invisível”, de Karim Aïnouz, premiado no Festival de Cannes e eleito para representar o Brasil no Oscar; e “Juízo”, do genro Andrucha Waddington, com roteiro da filha, Fernanda, e o neto, Joaquim, no elenco.

Em uma hora de conversa, Fernanda contou como se sentiu ao revirar seu baú de 90 anos (“Quando você faz um trabalho sobre a memória, tem uma melancolia dentro, não deixa de ser como uma posição de adeus”), diz que o Brasil trata mal sua memória (“não se cultua a grande qualidade artística dos brasileiros”) e conta que adora interpretar vilãs e cafetinas (“o grande papel de novela é a malvada”). E relembra a convivência com o marido Fernando Torres, morto em 2008, o único homem de sua vida.

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Fernanda Montenegro Foto: Leo Aversa / Agência O Globo

— Não apareceu ninguém melhor do que ele e, pra ele, acho que talvez não tenha aparecido ninguém melhor que eu ( risos ). Se tivesse acontecido, por que não? Convivi com muitos homens maravilhosos e sedutores, mas não eram melhores do que ele no campo do embate humano diário, no socorro, na particularidade. Era ombro a ombro.

Leia a entrevista completa em O Globo

Foto de Capa: Leila Frigii.