Embora não seja terapeuta, muitas pessoas me procuram virtualmente para conversarem sobre suas dores e seus dramas. Me sinto profundamente honrada. Não tenho muito o que fazer ou dizer a elas. Não tenho formação para ajudá-las , mas aceito ouvi-las e sempre que posso tento falar algo para torná-las mas otimistas , menos desesperadas.

Acho que falta gente para ouvir sem julgar, sem criticar, sem rotular, sem fazer caras e bocas. Acho que falta gente para dizer simplesmente “Eu te entendo”. Parece pouco, mas pode ser o divisor de águas para alguém no fundo do poço e alguém que decide vir à tona. Não é preciso dar uma solução fechada. Mas simplesmente fazer a pessoa sentir que ela não está só, que ela é querida.

Infelizmente, a dor emocional é muito julgada, principalmente se for decorrente de um caso amoroso. As pessoas entendem com mais facilidade uma doença em família ou um casal que decide se separar depois de vinte anos juntos. Mas dificilmente vão entender os danos causados por um “efeito urano”. Efeito urano é o nome de um livro da escritora Fernanda Young e diz respeito a este apego exagerado que desenvolvemos em relação a pessoas que ficaram pouco tempo em nossa vida.

 

Mas é totalmente possível alguém deixar um namoro de três anos para trás sem grande sofrimento, da mesma forma que muita gente fica desesperada por causa de um romance de três meses. O tempo das pessoas é subjetivo e alguns vivem em uma semana o que outros levam um mês para perceber ou sentir. A importância de um sentimento e principalmente as consequências de uma perda não deveriam ser analisadas sob o viés tempo.

Sem falar naqueles que simplesmente se sentem muito tristes ou desanimados sem um motivo aparente. E necessitam dividir com alguém o olhar sombrio sobre a vida sem provocar reações de desprezo. Acho que lá no fundo, precisamos ser compreendidos. Apenas isso. O resto fica por nossa conta.

Não importa o que acontece às pessoas. Toda dor é digna de respeito. Toda pessoa que sofre intensamente deveria ser tratada com mais carinho e cuidado. Alguém extremamente ferido deveria poder contar com a compaixão das pessoas. Em algum momento a dor passa. Pode demorar um pouco ( o tempo passa de forma muito louca para quem sofre intensamente). Mas passa. Algumas vezes com mais sabedoria, mais rapidamente. Em outras, de um jeito meio estranho e desastrado. Mas no final da contas, voltar à tona é o nosso destino.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.