Eu não acredito em conversas bonitas, eu acredito na energia do encontro…

Dia desses uma bruxinha velha amiga minha disse uma simples frase que me fez pensar bastante e me pareceu tão real. Ela disse algo assim: ‘Se você quiser conhecer uma pessoa de verdade, faça um test drive, coloque-a dentro de casa por um mês e conviva com ela”.

Demos muita risada, e isso me fez lembrar também conversas com outra amiga. Essa amiga contava que há um tempo atrás fez uma viagem com um crush e ambos estavam apaixonados e empolgados, mas foi só passar uma semana viajando com ele, decidindo sobre alimentação, hospedagem, roteiros e pequenas coisas do dia a dia, que tudo desandou e eles perceberam que não tinham muito em comum.

Eu havia acompanhado de perto o desenrolar todo dessa história amorosa de minha amiga, e ela sempre me falava das inúmeras declarações que o cara fazia, ele escrevia muitas coisas bonitas, mandava mensagens apaixonadas, eles estavam realmente empolgados.

Fiquei pensando no poder das palavras. Fiquei pensando que fazer declarações, usar bem do discurso, escolher expressões impactantes é um dom, um dom que pode inclusive ser usado para criar ilusionismo ao redor.

Fiquei pensando que palavras podem encantar, podem criar universos, sentimentos, histórias. Palavras podem inclusive convencer, podem nos fazer ver coisas que nem sempre realmente estão ali…

Talvez algumas paixões se iniciem ou se desenvolvam por palavras, por frases e discursos, por ideias bem apresentadas. Palavras podem mascarar as reais energias, os reais sentimentos.

Tenho visto por aí tanta gente caindo no que eu defini como ‘paixões whatsapianas’. Nessas histórias de amor que acontecem muito mais no universo online das mensagens de áudio e texto, nesse universo em que as pessoas podem se inventar e ser maiores ou melhores. Espaço que também pode ser propício para desenrolar joguinhos de sedução.

Uma hora recebemos (ou damos) muita atenção, outra esperamos um dia para responder uma mensagem. Tenho visto por aí discussões e grandes conversas de temas profundos acontecendo na telinha do celular por palavras digitadas. Não que eu invalide tudo isso, é ótima esta ferramenta, e as conversas também podem ser um começo de algo. Mas, quando a coisa fica 80% nesse veículo e deixa de ser olho no olho e contato, aí então algo estranho acontece…

Aí não sabemos mais se estamos nos envolvendo com uma pessoa ou com uma ideia, um conceito de pessoa, de paixão, de amor…

E sim, mesmo no contato real, as palavras têm muito poder. Há pessoas que falam mais do que agem, há pessoas que falam muito para ofuscar uma ação, há pessoas que falam com retórica para convencer, há pessoas que falam sem parar porque têm medo do que o silêncio pode trazer.

Porque o silêncio traz os corpos se encontrando ou não.

O silêncio deixa que as energias sejam por si só, o silêncio cria espaço para que as mãos se encontrem ou se afastem.

O silêncio abre janelas para as atitudes.

E é nas pequenas coisas que a gente vê a verdade de um sentimento, de uma vontade, de uma intenção, de um coração, de um encontro. É nas pequenas coisas que a gente saca se as vibrações combinam.

Porque, no deixar ser das coisas… os egos tiram férias e as almas conversam.

Aí que eu concordo plenamente com essa minha bruxinha amiga que me aconselhou o test drive. Passe um mês com uma pessoa em casa, ou encontrando-a sempre que puder, façam atividades juntos, viagem, se conseguirem. Conviva muito, converse, sim, mas preste atenção nas pequenas coisas, nos pequenos atos, veja se você se sente mais tenso ou mais confortável. Perceba mais os gestos do que os verbos.

Deixe o silêncio entrar e os corpos falarem.

Quanto mais a gente fica perto de uma pessoa, e faz atividades juntos, menos máscaras ela consegue usar ou preservar, porque ficar na máscara cansa.

E no fundo no fundo a gente não quer amar através de máscaras e palavras bem embasadas, a gente quer amar na nudez de almas que se encontraram.








Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 4 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresaria... hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem dois livros publicados, o romance ‘Castelos Tropicais’, e a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’. Seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’. Esta prestes a lançar seu terceiro livro, agora de crônicas – ‘Vibração e Descompasso’.