Eu aprendi a deixar as coisas fluírem, sem forçar, porque eu percebi que quando forçava as coisas, eu mais atrapalhava do que as deixava fluir de verdade, naturalmente.

Eu aprendi a não me apegar às coisas ou às situações, deixo as coisas acontecerem, sem a preocupação do que vai ser. E faço isso em todos os sentidos da minha vida, inclusive nos relacionamentos. E tudo melhorou”, disse meu filho, numa manhã de quarta-feira, a caminho de mais um dia em que dividíamos o mesmo trajeto: eu para o trabalho e ele para a sua universidade.

Não era algo novo o que ele dizia, mas havia tanta simplicidade em suas palavras e serenidade em sua voz, que me fizeram sentir a sua percepção. Como um aprendizado de algo já conhecido, sentido de maneira diferente.

Assim como ele acabara de dizer, deixei suas palavras fluírem em todo o meu dia, até o dia seguinte.

Em meio a um turbilhão de novidades acontecendo em minha vida, das quais muitas ele ainda nem tinha conhecimento, suas palavras vieram como um bálsamo. O quanto estava difícil assistir a minha própria vida tomando um novo rumo.

Sabe aqueles momentos em que a gente sente tudo mudando, como quando um barco tem o leme girado levemente? O cenário continuava o mesmo, os lugares, mas a direção e energia passavam a ser outras e elas afetavam todo o mais.

Logo eu, tão propensa às mudanças, depois de tantas… esta nova e desejada transformação me trazia inúmeras perguntas: “Para onde estou indo? ”, “Será que vai ser melhor? ”, “E se for pior? ”, “E as novas pessoas na minha vida? ”, “Será que as oportunidades valem a pena? ”.

Após profunda reflexão e um olhar atento para dentro de mim mesma, pude enxergar as profundas raízes do medo em mim.

Apesar de toda maturidade, força adquirida e coragem, ele ainda estava ali. E pode ser que permaneça de tempos em tempos; percebi que faz parte de quem eu sou e creio que de todo ser humano. Mas dessa maneira, era a primeira vez que o encarava.

Coisas novas chegavam em minha vida, situações, pessoas e sonhos. Tudo desejado e perseguido durante anos. E na possibilidade de fazer acontecer: o medo! E de maneira diferente, simples e serena, como meu filho acabara de explicar, eu não estava deixando as coisas fluírem. Com medo, estava fugindo de algumas coisas e tentando forçar outras.

O medo que nos tira o equilíbrio, também nos rouba a paz, que é o fluir da vida, o sabor leve e calmo de pequenos momentos, mudanças leves que vem e vão. E sempre serão assim.

A vida é para ser simples, ela acontece e muda todos os dias, quer nos demos conta ou não. Ela ocorre devagar, trazendo situações e pessoas. E da mesma maneira, também tira, também leva e nos afasta de outras coisas. Se aceitamos o seu fluir, sem forçar e sem negação, tudo acontece, de forma natural. Em alguns momentos, um desgosto aqui e outro ali, bem como algo bom agora e outro depois. O que mais nos machuca e nem percebemos é a nossa própria negação diante do que tem que vir e do que tem que ir.

A explicação do meu filho, em suas frases simples e serenas, era o resumo de um velho pensamento budista, que diz que todas as coisas na vida e no mundo estão em constante mutação; por isso, não devemos nos apegar a elas, mas deixar que as mesmas passem por nós, o tempo que tiver de ser.

É como ser uma pedra num rio. A água passa como tem que passar, às vezes cheia, às vezes em escassez, acompanhada ou não, limpa, suja, fria ou morna.

Somos somente a pedra, coadjuvantes no constante fluir da vida.








Brasileira, 41 anos, formada em Tecnologia em Processamento de Dados, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas. Atua numa multinacional na área administrativa como profissão. Escritora, colunista e roteirista por paixão. Poliglota. Autora de doze livros publicados de forma independente pelo Amazon, além de quatro roteiros para filme registrados na Biblioteca Nacional. Colunista no próprio site www.carolinavilanova.com e vários outros. Youtuber no canal Carolina Vila Nova, que tem como objetivo divulgar e falar sobre as matérias do próprio site.