Ela não foi adotada “porque era muito grande”, mas tomou uma decisão que mudou seu destino.

Viviana Guerrero tinha 12 anos quando chegou a uma casa; seus irmãos mais novos foram adotados, mas ela não teve essa possibilidade e por muito tempo ficou morando nas ruas; agora, aos 40 anos, ela decidiu voltar à instituição que a acolheu durante sua infância para ajudar como cuidadora.

A infância de Viviana Guerrero não foi fácil. Ela tinha 12 irmãos que passavam a maior parte do tempo sozinhos. A mãe, se prostituia para conseguir dinheiro pois, era a única provedora da casa, e passava longas horas fora de casa. O pai, alcoólatra e violento com a mãe que, decidiu ir embora e abandonar os filhos.

Sem a mãe, o pai os obrigou a ir para as ruas para começar a trabalhar, onde procuravam sucata para vender. Ele não bateu neles, sim, e para Viviana isso foi o suficiente. Mas eles estavam morrendo de fome, não iam à escola e não faziam nenhuma das coisas que se espera de meninas e meninos dessa idade. Naquela época, ela tinha 11 anos.

Foram os vizinhos de seu bairro que fizeram a ligação, que alertaram as autoridades sobre a situação de extrema vulnerabilidade em que se encontravam as meninas e meninos da família Guerrero.

Viviana lembra como se fosse ontem o dia em que a procuraram para ir ao Lar Nossa Senhora de Lourdes em Campana. Os gritos de seus irmãos mais novos. Eles não queriam sair da casa do pai. O medo. A incerteza. “A reclamação dos vizinhos foi muito difícil para mim. Eu estava prestes a completar 12 anos e esse era o limite de idade para entrar na casa onde eles iriam nos levar. Não entendi o que estava acontecendo, mas mesmo assim, pedi para ir porque queria estar com meus irmãos: não queria que eles nos separassem”, lembra Viviana.

Naquela época, ela não podia imaginar que aquele lugar acabaria mudando sua vida.

Hoje ela tem 44 anos e trabalha como cuidadora na mesma casa onde chegou há três décadas. Sua história é atravessada por violências e violações de todos os tipos, e é semelhante à de muitos meninos e meninas que, vivem em orfanatos em todo o mundo.

Em muitos casos, as crianças recebem um novo lar, mas outros completam 18 anos, e não tem escolha a não ser sair pelo mundo por conta própria. Sozinhos.

Embora a maioria dos irmãos mais novos de Viviana tenham sido adotados algum tempo depois de entrar na casa, ela não teve a mesma sorte. Do tribunal consideraram que, devido à sua idade, seria impossível encontrar-lhe uma família, e desistiram bem rápido de ajudá-la: nem tentaram. Viviana garante que ter uma família mudaria tudo.

Traumas e memórias

Ela lembra que quando sua mãe saiu de casa para nunca mais voltar, seu pai a mandou procurá-la, sem sucesso, por toda Campana.

Ir morar em um orfanato, com regras e estrutura, não foi fácil para Viviana e seus irmãos. Eles não estavam acostumados a rotinas, como tomar banho todos os dias, respeitar os horários das refeições ou entender que cada um tinha que dormir em sua própria cama.

“Nas primeiras semanas, meu irmãozinho fazia suas necessidades na grade do banheiro, no chão, porque não sabia o que era um banheiro: nunca tínhamos tido um. Como eu era a irmã mais velha, sempre tinha que limpá-lo para que ninguém chamasse nossa atenção”, conta Viviana.

“Eu ficava na rua, fazia o que queria porque ninguém prestava atenção em mim, então nem fui à escola”, explica. Da mesma forma, ela nunca deixou de ir para o orfanato, sempre ia ver os irmãos para não perder o relacionamento: para ela, isso era algo fundamental.

Hoje, olhando para trás, a mulher reflete sobre o quão importante teria sido para ela ter tido a chance de ser adotada:

“Meus irmãos tiveram oportunidades que eu não tive, basicamente a possibilidade de ter uma família. Além disso, eles também puderam estudar, o que eu pude fazer só quando cresci”, destaca.

Ela conta que Débora, a irmã que a acompanha em idade, também não teve a possibilidade de constituir família. Apesar de estar em situação de adoção, os vínculos que foram feitos com possíveis candidatos não prosperaram, e a menina permaneceu na casa até atingir a maioridade. Foi Débora quem contou a Viviana, anos depois, que procuravam uma cuidadora e a convenceu a se candidatar à vaga.

Começar de novo

Hoje Viviana trabalha na casa que marcou sua infância. Ela gosta de seu trabalho a ponto de sempre esperar o momento em que seu turno acaba para poder brincar com os meninos e interagir como “mais uma”.

“Procuro fazer com que eles se divirtam, passamos a noite do pijama e comemos pipoca enquanto assistimos a filmes com os colchões da sala de jantar. Adoro estar com eles e passar tempo juntos, como cuidadoras também somos pessoas e criamos laços, mas quando eles vão embora, eu entendo que é para estar com uma família que vai amá-los e cuidar deles e que eles vão ficar bem”, explica Viviana.

Ela diz que a vida em casa é a mesma de 30 anos atrás, quando ela era criança. Viviana, assim como as demais cuidadoras, ensina às crianças os horários das refeições e como organizar sua rotina: desde os momentos de diversão até aqueles que devem ser dedicados ao estudo ou ao descanso.

“Agora também vêm professores, diferentemente de quando eu era uma delas, e há mais ajuda terapêutica, como psicólogos ou psicólogos educacionais”, descreve.

resilienciamag.com - Ela não foi adotada "porque era muito grande", mas tomou uma decisão que mudou seu destino.
Rodrigo Néspolo – LA NACION

Algo que chama a atenção é como atualmente se busca manter os irmãos juntos, e que todos sejam adotados pela mesma família ou por mais de uma, mas com o compromisso de manter o vínculo entre eles.

“Trinta anos atrás isso não acontecia e era difícil para mim entrar em contato com meus irmãos novamente”, diz ele.

Ela considera que não ter tido essa possibilidade de ser adotada tornou tudo mais difícil para ela. Mas ela não baixou a cabeça: terminou o ensino médio já adulta e se formou. Agora, ela está treinando para ser uma companheira terapêutica e fez cursos de estimulação precoce. Seu sonho é continuar acompanhando as infâncias mais vulneráveise ajudar cada criança a ser adotada por uma boa família.

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Rodrigo Néspolo – LA NACION

“Embora para as crianças e adolescentes que chegam às casas seja geralmente uma situação muito difícil, ao mesmo tempo, são locais onde podem ser bem cuidados e protegidos até encontrarem uma família que os ame”, conclui Viviana.

Muitas vezes, os acontecimentos mais tristes da nossa vida, se tornam ferramentas para que a gente possa ajudar outras pessoas no futuro.

Ser adotada pode ser o sonho de uma criança, e receber um filho em seu lar pode ser o sonho de um adulto.

*DA REDAÇÃO RH. Com informações La Nacion.

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