Sinto muito, mas uma hora as coisas precisam ir. São poucas as que ficam. São raras. São únicas. A maioria é passageira, efêmera, deixa apenas rastros. É difícil, mas é assim que a vida funciona.

Deixar ir. O que isso significa? Esquecer? Jogar embaixo do tapete? Mandar para aquele lugar? Sinceramente, acho que nenhuma das opções acima. Muita gente segura com força para não perder, outros só conseguem realmente deixar ir quando tem algo para substituir.

Para mim, deixar ir é entender e aceitar que algumas coisas não devem ficar. Não é se esquecer, nem colocar embaixo do tapete e, muito menos, mandar para aquele lugar. Deixar ir vai muito além dessas atitudes.

Deixar ir também exige certa maturidade. Quem tenta tapar o sol com a peneira é exatamente quem tenta fingir que esqueceu, ou xinga loucamente na tentativa de acreditar que já está bem resolvido. Nada disso.

Só deixamos ir de verdade quando já nos resolvemos emocionalmente com aquilo que precisa ir embora. E, principalmente, só deixamos ir de verdade quando temos coragem de ficar com as mãos vazias.

Isso porque deixar ir quando já temos algo para substituir não é deixar ir de verdade, é repor.

É por isso que eu digo que deixar ir é uma força de poucos. Temos medo de ficar de mãos abanando para o ar. Temos medo de não ter algo para dizer que é nosso. Temos medo de deixar o passado no passado, quando ele ainda mexe tanto com o nosso presente.

Sinto muito, mas uma hora as coisas precisam ir. São poucas as que ficam. São raras. São únicas. A maioria é passageira, efêmera, deixa apenas rastros.

É difícil, mas é assim que a vida funciona. Faz parte e tem seu lado positivo também, pois a partir do momento em que aprendemos a deixar ir, quer dizer que superamos aquela necessidade de ter algo em mãos o tempo todo.

Quer dizer que enfim amadurecemos o suficiente para entender que muitas coisas chegam, mas poucas ficam.








Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.