Domínio de ferramentas da sua área de atuação, inglês fluente, experiências prévias no mercado, prêmios recebidos: seus atributos profissionais certamente estão listados no seu portfólio. Então você engravida, 40 semanas depois o bebê nasce e, sem nenhum cursinho preparatório, alguns meses ou anos depois você já está formada e pós-graduada em criar seu filho. E tudo isso que você aprendeu é tão importante quanto suas competências técnicas, sabia?

Esse é um dos motes do projeto chamado Real Maternidade: a iniciativa batizada de “De Volta ao Trabalho” incentiva que as mulheres tenham consciência de todas as habilidades aprendidas desde que se tornaram mães e o que isso agrega à carreira. São as chamadas “soft skills”, traços e comportamentos que caracterizam nossos relacionamentos com outros. A iniciativa, que nasceu em Los Angeles (Motherhood Pride), foi trazida a Porto Alegre pela publicitária Luciana Cattony.

– Queremos ajudar outras mães, pais, empresas e a sociedade em geral a enxergarem a maternidade sob uma nova perspectiva e mostrar que os aprendizados da maternidade podem ser associados também à vida profissional. Ter consciência e orgulho de tudo o que foi aprendido nesta fase de dedicação aos filhos pode ser o primeiro passo para mudar a forma como os recrutadores veem essa situação – conta Luciana, mãe de Henrique, seis anos, que abriu mão de seu emprego em agência de comunicação digital para se dedicar ao projeto.

Olhar por outro ângulo a relação (nem sempre tranquila) entre maternidade e trabalho é um dos objetivos do projeto Real Maternidade. Junto à consultora em RH Susana Zaman, Luciana leva a discussão também ao ambiente corporativo. Segundo a apresentação da dupla na palestra “Maternidade: Obstáculo ou Impulso de Carreira?”, baseadas em um compilado de pesquisas, as mulheres que são mães costumam ser mais organizadas e produtivas e sabem trabalhar melhor em equipe.

Na página do projeto (realmaternidade.com.br/devoltaaotrabalho), as mães encontram dicas de como abordar as habilidades desenvolvidas no período de afastamento do mercado em entrevistas, na hora de montarem o currículo, atualizarem o LinkedIn e o portfólio.

Eu, Camila Saccomori, autora desta reportagem e mãe da Pietra, seis anos, depois de conhecer o projeto Real Maternidade, passei a incluir estas três habilidades em meu CV:

 ( x ) Comunicação e oratória 
quando você conta as mesmas histórias para a criança, de tantas formas diferentes.

 ( x ) Organização e planejamento 
quando você cuida da casa, da agenda das crianças, da comida, da logística para levar e buscar.

 ( x ) Administração de recursos 
Quando você faz aquela “ginástica” para fazer fechar as (novas) contas do mês.

“Sou uma profissional melhor”
Por Annamaria Bonanomi, 33 anos, mãe da Sara de 7 meses
“Anos atrás, ouvi de um amigo que a paternidade tinha lhe dado ambições profissionais maiores e mais dedicação ao trabalho. Guardei aquela informação como algo surpreendente. Imaginava que a paternidade deixaria o profissional mais disperso, com mais preocupações e demandas familiares, mas foi o contrário. A performance dele melhorou com a chegada da filha. Hoje, como mãe, compreendo o que ele disse. Alguns upgrades que a maternidade me proporcionou:

Execução  – Cuidar de um bebê, de si e da casa faz você ter muito foco e eficiência. Não existe procrastinar. A meta da vida passa a ser: executar o maior número de tarefas possíveis enquanto o bebê ainda não acordou. Eficiência, senso de prioridade e urgência afloram.

Resiliência 
– Bebê precisa de rotina. Essa informação, para uma perfeccionista como eu, significa que todos os dias serão iguais. E foram. Ter dias iguais por mais de cinco meses foi um baita teste. Ainda mais para quem tinha uma vida cheia de eventos, pessoas, apresentações, reuniões etc. Você percebe o quanto consegue se adaptar e abrir mão. Desistir? Nunca!

Zero mimimi  – A experiência de tentar acalmar um bebê chorando (muito alto) por longos minutos faz qualquer tarefa parecer muito fácil. Perto disso, tudo parece pequeno e fácil de resolver. Temos pouco tempo para #dramas. Pragmatismo é sobrenome.

Então, se você é mãe, sinta-se abraçada. Se você pensa em ser mãe, saiba que tem uma versão muito melhor de você te esperando do outro lado dessa loucura. Se você é empregador e tem uma funcionária que vai entrar ou está de licença, saiba que vai receber de volta uma profissional ainda melhor.”