A gente tem medo, a gente vive com medo, mas viver assim nem viver é. A gente se sabota, a gente sabota o tempo todo. Porque ficar temendo o que é ruim acaba nos levando a ter medo também do que é bom. E, então, nada nos chega: nem as dores, nem os deleites.

Muitos de nós nos acovardamos e não nos permitimos sentir. Não queremos sofrer e fugimos a qualquer sentimento que possa não dar certo e virar dor. Muitos não querem amar, para não chorar o fim do relacionamento. Muitos não querem aprofundar amizades, para não sofrer decepções. Muitos não querem ter filhos, para não se decepcionar com a ingratidão. Muitos não se abrem, por não confiar em ninguém. Enquanto isso, a vida vai passando lá longe.

Não poucos preferem viver anestesiados, entorpecidos, para não terem que enfrentar a si mesmos. Para não encararem a colheita do que se fez ou se deixou de fazer, do que se disse, do que construiu ou destruiu. Para não terem que lidar com o que deu errado. Foge-se da dor, a todo e a qualquer custo, não importando nada, nem ninguém, além de si mesmo.

Há quem corra contra o tempo, exercitando-se por horas, alimentando-se disciplinadamente, longe de qualquer deslize com a saúde, com a pele, com os cabelos. Cuidar-se é saudável, mas existem indivíduos que exageram, plastificando-se excessivamente por fora e por dentro. Para alguns, é impossível encarar os pesos dos anos nas marcas do corpo. Botox e bisturi são aliados frequentes nessa ânsia pelas esperanças perdidas que o tempo leva, quer se queira ou não.

Há, por aí, uma porção de mimados, os quais colocam o ego acima de tudo, querendo os seus desejos atendidos a todo e a qualquer custo. Querem que seu ponto de vista seja aceito, que suas ideias sejam aplaudidas, que sua comida esteja pronta agora. Exigem que a sua música toque, que suas verdades sejam absolutas, que seu amor seja correspondido. Sentem-se unanimidades.

Que se danem os outros, ninguém tampouco os enxerga. Ninguém tampouco se enxerga. Não há espaço para frustração, para contrariedade, para ouvir não, para ser rejeitado. E é por aí que tudo desanda. É por aí que muita gente se acovarda frente ao afeto, ao sentir, ao amor de verdade. Por medo de sofrer, pouco se vive, quase nada se sente. Difícil quem aperta as mãos do outro com força, quem abraça com imensidão, quem se entrega com tudo.

É preciso ter coragem. Com urgência, para ontem, é preciso entregar-se, doar-se, pois é assim que se compartilha, que se conhece, que se vive. Haverá, sim, dor e lágrima, mas cada sorriso sincero que se guardar no coração compensará tudo o que não deu certo. Porque, então, o que tiver ficado será para sempre. E será para sempre. Para sempre.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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