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Compreensivo mesmo é quem compreende o outro e aceita se não for compreendido.

Outro dia ouvi alguém dizer assim: “eu compreendo você e exijo que você me compreenda também”, o dedo em riste, a jugular saltada, um olhar de fogo fulminando seu interlocutor.

Era uma dessas discussões improdutivas, sem pé nem cabeça, sem começo nem fim, provocadas por um sujeito aparentemente sem mais o que fazer. Deu vontade de entrar na briga e argumentar: “moço, não seja bobo! Toque sua vida em frente e deixe o outro compreender o que quiser”!

Mas eu tenho a impressão de que ele não ia entender nada.

Compreendi então que era melhor ficar quieto e pensar no assunto. E me dei conta do quanto a compreensão é um negócio difícil.

Fosse o ser humano mais simples, a gente não complicava tanto e chegava logo à conclusão mais evidente do mundo: compreender o outro é aceitar que talvez ele nunca nos compreenda. Não há mais o que fazer a respeito. Compreender é uma opção de cada um. Ser compreendido é uma eventualidade. Mas não. Somos uma espécie complexa e delicada, incapaz de aceitar o óbvio.

Sejamos razoáveis. Você e eu não somos donos da compreensão de ninguém. Logo, só nos cabe compreender que nem sempre seremos compreendidos, aceitar que nem sempre seremos aceitos, tolerar que há sempre alguém disposto a não nos tolerar por perto.

Não se manda na compreensão do outro, não. Ele compreende o que quiser e o que puder, se quiser e se puder.

O máximo que nos resta é tentar fazer com que o outro nos ouça, nos escute. É nos fazer entender. Agora, se ele vai nos compreender ou não, já não é de nossa alçada.

Gente compreensiva de verdade não bate o pé exigindo reciprocidade. Isso não é ser compreensivo. É ser birrento e infantilóide.

Se não somos aceitos no lugar onde estamos, mudemos de lugar. Não é fácil. Mas é ofício de todo ser racional assimilar quando nosso canto no mundo não é aquele, quando nossa turma é outra e quando seguir adiante é questão de sobrevivência.

Tanta gente por aí cobrando a compreensão alheia me dá vontade de entrar na briga e replicar: “hellow-ow!”. Quem tanto cobra a compreensão do vizinho esquece de tornar compreensivo a si mesmo. Compreender é uma escolha e uma postura de cada um! Eu tento compreender o outro e não exijo que a recíproca seja verdadeira. Se cada um fizer a sua parte, quem sabe um dia sejamos capazes de compreender uns aos outros.

Mas eu tenho a impressão de que eles não iam entender nada.

André J. Gomes

http://www.revistaletra.com.br/ Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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