Por: A Mente é Maravilhosa

Todos nós travamos inúmeras batalhas. O trabalho, a família, os relacionamentos… Cada dia é um novo desafio em muitos aspectos. No entanto, é a batalha que travamos contra nós mesmos que pode gerar estados depressivos que nos paralisam. Hoje sabemos que as pessoas com depressão geralmente ampliam a ressonância dos sintomas.

Um relatório publicado pelo Dr. Kopala-Sibley sugere que, em estados depressivos, convém centrar-se menos na sintomatologia e prestar mais atenção em como a pessoa se sente consigo mesma. Essa poderia ser uma das chaves da origem da depressão. E é melhor tratar a origem do que os sintomas.

As conclusões do relatório reforçam a teoria da autodiscrepância de Higgins. Segundo essa teoria, nosso “eu” possui três aspectos diferentes: o eu real, o eu ideal e o eu responsável.

Essa pesquisa realizada por Kopala-Sibley indica que, quando há uma discrepância entre o eu ideal e o eu real, é muito provável encontrarmos pessoas com depressão.

Como ocorre a autodiscrepância nas pessoas com depressão?

Construímos nosso autoconceito com base em diversas variáveis. Acreditamos que o nosso “eu” é uma entidade única, quando não é. Temos um eu que nos define, como somos na realidade e no momento presente, o eu real.

Mas existem outros “eus” paralelos, como o “eu” que podemos nos tornar; dentro desse campo de possibilidades, existiria o eu ideal. Também faz parte do grupo o eu responsável, que é o que indica como deveríamos ser com base nos costumes e nos papéis sociais que adotamos.

Você pode estar seguro de ser uma pessoa competente, inteligente e trabalhadora, mas se na vida real essas características não geram frutos porque sua situação de trabalho o limita, aparece o conflito. Nesse caso, é a incompatibilidade entre o eu ideal e o eu real que abriria caminho para a depressão.

Por sua vez, a autoestima também depende da distância percebida entre o nosso eu real e o nosso eu ideal. A autoestima está intimamente ligada ao nosso bem-estar psicológico e sua deterioração nos torna mais vulneráveis ​​à depressão.

Os níveis de massa cinzenta em pessoas com baixa autoestima são mais reduzidos nas regiões do cérebro que facilitam a tarefa de intuir o que os outros pensam de nós.

A narrativa interna

O nosso eu real e o nosso eu ideal se relacionam com base na história que construímos sobre nós mesmos e em como acreditamos que os outros nos percebem. A autoestima se beneficia dessa distância mínima.

Assim, é provável que, se aparecem sinais de depressão, estejamos enfrentando uma discrepância significativa entre o eu real e o eu ideal.

Os padrões internos que mantemos durante os períodos depressivos nos levam a acreditar que o nosso eu ideal está muito longe do nosso eu real. Para aproximar essas duas realidades, podemos mudar nossos padrões e diálogos internos.

Focar no que poderíamos mudar para nos aproximarmos do nosso eu ideal é um bom começo.

O mindfulness

Se depois de realizar uma mudança na narrativa interna ainda considerarmos que não há muitas coisas que possam ser feitas para nos aproximarmos do nosso eu ideal, podemos nos concentrar na prática do mindfulness. Esse tipo de prática reduz as brechas entre o eu real e o eu ideal.

O benefício imediato desse tipo de meditação é que ela permite aprender a observar os próprios pensamentos sem julgá-los. Renunciar à posição de juízes melhora consideravelmente o estado depressivo.

A autoaceitação gradual em pessoas com depressão é outra maneira de aproximar essas duas realidades.

Alinhando os seres reais com os ideais

Talvez não se trate de alcançar a perfeição, mas de reconhecer esse espaço para melhorias como um terreno a ser superado. Tratar-nos com amor nos proporciona um entorno emocional mais relaxado para estabelecer alguns objetivos enquanto descartamos outros.

A prática dessas estratégias pode ajudar muito a controlar nossas expectativas e, portanto, a frustração que pode derivar delas. Nesse sentido, a depressão provavelmente é um sinal de alerta para que prestemos atenção às nossas discrepâncias internas e trabalhemos nelas.