Midas era um rei que sonhava em transformar em ouro tudo o que tocasse…e acabou sendo vitima de seu equivocado sonho.

Escolhi ser psicóloga e depois escolhi trabalhar dentro de um hospital. Desde então passei a ver muita dor. Dor pela amputação de um membro, dor pela perda do filho ainda no ventre, dor pela notícia do diagnóstico ruim, dor pelo procedimento invasivo, dor pela cirurgia realizada e dentre tantas outras a dor pelos curativos realizados na unidade de queimados – e este está entre os piores.

Dor eu vi muita, mas não vi nenhuma maior do que a tristeza.

Dentro do hospital e fora dele a tristeza dói mais do que cálculo renal, infarto agudo do miocárdio e dente quando decide latejar a noite toda.

O título deste artigo eu ouvi de uma amiga cuja mãe era uma verdadeira artista “das tesouras, tecidos, linhas e agulhas”. Ela, por muito tempo, viu sua mãe ser procurada por clientes que queriam um belo e bem feito vestido; afinal ela carregava a fama na cidade de ser uma das melhores na arte da alta costura.

As mulheres a procuravam para que ela confeccionasse os vestidos, mas também para que as ouvisse em sua tristeza. Ah, como eu sempre disse, as costureiras, manicures e massagistas são belas e competentes concorrentes minhas na arte de ouvir.

A tristeza que aquelas mulheres traziam era do pior tipo que existe: a tristeza que é acompanhada do dinheiro. Ao invés de irem ao shopping, elas lá estavam trazendo aqueles caríssimos e finíssimos tecidos para buscar alívio em um belo vestido para o vazio de uma tristeza que as acompanhava diariamente, vinda da desmotivação, do vazio….e do dinheiro.

Estavam lá: cobertas de dinheiro e cobertas de tristeza.

Ainda devem perambular por aí pelos shoppings, gastando e comprando desesperadamente o que estiver na vitrine para mascarar a dor contando com aqueles cinco minutos de alegria que duram de quando pegam a sacola nas mãos até chegarem em casa.

Dizem que o dinheiro cura a tristeza, mas não. Elas são a prova de que talvez a infelicidade seja pior ainda em Paris. Quem carrega a tristeza, a carrega para onde for. A tristeza talvez consiga deixar Paris feita e cinza. O dinheiro não é nem foi remédio para tristeza. Se fosse assim um dos herdeiros da Fiat não teria se jogado de uma ponte.

Estar coberto de dinheiro pode nos levar à total falta de motivação. Tudo que se deseja se tem e então a vida torna-se um circulo vicioso de prazeres minúsculos que duram no máximo cinco minutos.

Lembram-se daquele desejo e espera pelo presente de Natal? Pois é: os cobertos de dinheiro não sabem o que é isso e não conseguem mais sentir a alegria de finalmente conseguir comprar a tão sonhada passagem para o destino que a vida toda foi seu maior desejo.

Ter tudo o que se quer; ter tudo que se deseja pode fazer um belo estrago em nossa vontade de viver e nos cegar a ponto de não conseguirmos ver graça em qualquer coisa, inclusive nas relações. O dinheiro nos traz relações convenientes e fica difícil se entregar e confiar porque ele costuma dar a falsa sensação de poder e acaba trazendo para perto apenas as pessoas que realmente só se interessam por ele.

Se a tristeza é a pior das dores, a tristeza coberta de dinheiro é um martírio sem fim. A falsa sensação de que o dinheiro possa trazer felicidade só existe para quem é escravo dele. Os escravos do dinheiro não acreditam em nada que não esteja ligado a ele e são incapazes de perceber a mais óbvia das realidades: a que viemos e iremos embora sem absolutamente nada. O dinheiro não serve para aliviar a tristeza, mas passa a vida nos tentando como um velho demônio, a nos dar prazeres rasos e a tentar nos induzir a pensar que sem ele a tristeza seria maior.

Não! A dor da tristeza talvez seja o karma da humanidade e por mais que o dinheiro nos alivie as necessidades da vida física e nos dê alguns prazeres, na hora em que realmente precisarmos dele, ele não poderá fazer mais do que permitir a confecção de um belo vestido que nos proporcionará passar a tarde toda desabafando com a costureira/amiga.

O dinheiro e o maior de todos os alucinógenos. Deseje-o, precisamos dele para sobreviver, mas deseje-o com moderação. Que ele venha na medida exata para que não paremos de sonhar.








Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...