Cleo Pires é linda e isso não tem a ver com os quilos que ela tem. Isso tem a ver com o que ela é por dentro.

A história é sempre a mesma: o colega mais gordinho é alvo das piadas da turma. Quando alguém repreende o “brincalhão”, o piadista pergunta se a pessoa não tem senso de humor.

É a velha mania do brasileiro de inocentar “o carinha engraçado” em prol da alegria de viver, do riso frouxo, da gargalhada solta e o pior de tudo, da democracia. Pois bem, pra mim, certas brincadeiras são resultado de uma sociedade doente.

Mais doente ainda é aquele que se diverte com isso.

Sou uma defensora da liberdade de expressão, mas compartilho da opinião de que o seu espaço termina onde começa o do coleguinha. Na piada, também.

Quando você faz o outro de chacota e o público “doente” aplaude, você não pode ser eximido da responsabilidade do que foi dito e do que isso implicou na existência do outro.

É uma questão de bom senso.

Nenhuma piada é divertida o suficiente para valer a dor do outro.

Se você acha que alguém pode sofrer com o seu incrível senso de humor, por favor, perca a piada.

É a mesma coisa quando você entra nas redes sociais da Cleo Pires para ler ou escrever comentários de ódio contra ela. Quem sente prazer lendo é conivente com a doença de quem comenta ou, sei lá, pode ser pior ainda. Não importa.

Ninguém me convence ao contrário.

Quem ri da queda do outro é tão culpado quanto quem o empurrou.

Quem acha graça da piada com o negro é tão racista quanto quem criou a “brincadeirinha”.

Quem não denuncia a piada de mau gosto é tão ridículo quanto quem fez.

Já vi muita gente se escondendo atrás da brincadeira para dizer o que pensa realmente.

Aliás, a piada de mau gosto é a maior arma do covarde, pois é utilizada com a falsa ideia de “fazer rir em um mundo tão difícil”.

Não acho que o riso seja infalivelmente um instrumento inteligente de crítica social, menos ainda de humor. Ao contrário, acho que, por infinitas vezes, ele é apenas uma imbecilidade compartilhada.

A piada pode ser reacionária e, quando utilizada no cenário do preconceito, ela de fato é.

Veja bem, isso é só uma forma de dizer que odeia o negro, a orientação sexual, o peso, a altura ou o que quer que seja. O discurso de ódio é facilmente disfarçado de verso, prosa e riso quando a plateia “finge” que se convenceu da piada.

Cleo Pires é linda e isso não tem a ver com os quilos que ela tem. Isso tem a ver com o que ela é por dentro.

A piada com o peso dela não é engraçada, ao contrário, é repleta de raiva e preconceito. E você que acha graça dos comentários é tão imbecil quanto quem usou o seu precioso tempo para fazê-los.

Rir é o melhor remédio, o bom humor é o segredo da vida, a alegria é o combustível para nossos dias. Mas, por favor, não me peça para achar engraçado aquilo que faz o outro chorar.

Para quem perde o amigo, mas não perde a chance de ridicularizar as pessoas, tenho apenas uma explicação: quando sua brincadeira precisa necessariamente intimidar o outro, no fundo, no fundo, o motivo da piada é só um: você.

* Cleo Pires é linda e ponto final!








Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.