Você provavelmente conhece os tipos sanguíneos mais comuns, como A+, O- ou AB+. Mas sabia que o sistema ABO e o fator Rh não são os únicos existentes?

A ciência já identificou dezenas de sistemas sanguíneos raros — e agora, um novo tipo acaba de ser descoberto em uma única mulher no mundo.

Trata-se do 48º sistema sanguíneo reconhecido pela ciência, chamado informalmente de “Gwada negativo”, nome que faz referência às ilhas de Guadalupe, no Caribe, onde a paciente nasceu. A descoberta pode mudar a forma como médicos lidam com transfusões em casos raros e abre caminho para novas pesquisas sobre compatibilidade sanguínea.

O que é o “Gwada negativo” — e por que é tão raro?

O novo tipo sanguíneo foi identificado em uma mulher de 68 anos durante um exame de rotina em Paris, enquanto ela se preparava para uma cirurgia. Os médicos notaram algo incomum: nenhum dos sistemas de classificação conhecidos conseguiu identificar o sangue da paciente.

Por quase oito anos, os cientistas buscaram respostas. Somente em 2019, com o uso de tecnologias avançadas de sequenciamento genético, conseguiram decifrar o mistério. Dois anos depois, foi confirmado: ela possui um grupo sanguíneo completamente novo, nunca antes visto em outro ser humano.

Por que existem tantos tipos sanguíneos?

Além do sistema ABO e do fator Rh, o sangue pode ser classificado por diversos outros antígenos presentes na superfície das hemácias. Cada um desses sistemas representa um conjunto diferente de características genéticas — e muitas vezes, essas variações são extremamente raras ou restritas a determinadas populações.

Atualmente, a ciência reconhece 48 sistemas de grupos sanguíneos diferentes, e o “Gwada negativo” é o mais novo da lista. Ele foi apresentado oficialmente à comunidade científica em junho de 2025, durante o Congresso da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue, em Milão.

Por que essa descoberta é tão importante?

Essa descoberta traz implicações diretas no mundo da medicina, especialmente na área de transfusões de sangue. Quando um paciente possui um tipo sanguíneo extremamente raro, como o “Gwada negativo”, torna-se quase impossível encontrar um doador compatível.

Além disso, conhecer novos grupos sanguíneos ajuda a evitar reações transfusionais graves, que podem ocorrer quando o corpo rejeita o sangue recebido.

Avanços científicos que tornaram isso possível

O caso só foi resolvido graças ao uso de sequenciamento genético de alto rendimento, uma técnica que analisa o DNA de forma profunda e precisa.

A partir do genoma completo da paciente, os pesquisadores conseguiram identificar mutações específicas nos genes responsáveis pela estrutura das hemácias, o que explicou a ausência de compatibilidade com os sistemas sanguíneos tradicionais.

Outros tipos sanguíneos raros no mundo

O “Gwada negativo” não está sozinho quando o assunto é raridade. Veja alguns outros tipos de sangue incomuns já descobertos:

  • Rh nulo – conhecido como “sangue dourado”, foi identificado em menos de 50 pessoas no mundo.
  • Bombay – tipo de sangue extremamente raro, detectado principalmente em regiões da Índia.
  • Vel-negativo – ausente em menos de 1% da população, mas pode gerar incompatibilidades perigosas.

Esses exemplos mostram como o sangue humano é muito mais complexo do que os oito tipos que aprendemos na escola.

Uma descoberta que salva vidas

A identificação do “Gwada negativo” reforça a importância de investir em pesquisas genéticas e em bancos de sangue internacionais especializados. Para muitos pacientes com tipos raros, a chance de sobrevivência em uma emergência depende de encontrar doadores compatíveis que podem estar do outro lado do mundo.

Essa descoberta também nos lembra de que a ciência está em constante evolução, e que até mesmo algo tão estudado como o sangue humano ainda guarda mistérios.

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