Não tenha medo de baratas. Elas são rápidas demais. Tenha medo do que fica e se instala. Escolha um medo inteligente e desafie-o até vencê-lo.

Faça listas de tarefas todos os dias. Se sobrar alguma tarefa do dia anterior, que seja essa a primeira da lista do dia seguinte. Há um poder de persuasão em listas que você não imagina.

Se ficar presa no elevador, use a imaginação ou use o celular.
Use qualquer subterfúgio que te faça esquecer que você está enclausurada numa caixa de aço. Aguarde o resgate. Quando a porta abrir, não tenha pressa de sair.

Use essa mesma fórmula para todas as situações conflitantes: permita-se abstrair-se do problema. Saia devagar. Sem pressa.Sem estardalhaços. A pressa pode provocar algo pior do que o conflito.

Não use batom vermelho sem ter certeza de que os seus dentes permanecerão brancos. Eles costumam se vingar de nós. Coma alface, mas deixe o verde clorofila para o estômago. Se destacar os olhos com maquiagem, esqueça a boca. Um briga com o outro.

Se houver uma única calça no seu armário que seja de índigo blue. Está se sentindo velha, antiga, baranga, brega, carta fora do baralho? Vista um índigo, sente-se no sofá, e vá destruindo toda a extensão da coxa com buracos estratégicos.

Uma calça destruída, uma havaiana, e um Rayban, transformam toda a sua percepção. Não se esqueça da bolsa. Grande, enorme! Linda,como você.

Use lingerie na rua, mas durma sem ela. A sua ginecologista agradecerá. Seja boazinha: trate bem o seu cachorro. O seu gato. As suas plantas. E todos os seres inferiores. A maneira como você os trata,fala muito sobre quem você é.

Leia todas as bobagens que aparecer, mas saiba identificar um texto primoroso e nunca mais o dispense. Quando quiser que te amem, conte as lutas. Quando quiser que te odeiem, conte os sucessos. Quando quiser que te esqueçam, não conte nada.

No trabalho, sorria para todos, ou quase todos, mas deixe as gargalhadas fora do ambiente corporativo. Tem gente no trabalho que conta piadas, só para você gargalhar, e não ser promovida: “ela é ótima, mas aquela gargalhada…”

Nunca escolha a sogra para reclamar do seu marido. Nunca escolha o seu marido para reclamar da sogra. Melhor escolher a sua mãe para reclamar dos dois. Não permita que mais ninguém, além de você, fale mal do seu marido ou da sua sogra.

Jamais fale mal do seu marido para os seus filhos. Você pode trocar de marido, mas os seus filhos só têm um pai. Esse que você lhes deu.

Defenda os seus filhos da maledicência do mundo. E do primo “dedo duro.” E da tia fofoqueira. E do padre. E do pastor. E dos irmãos da igreja. Não embarque nessa desventura: sessão descarrego do seu filho adolescente. Ouça, sem acusar.

Se você acusar os seus filhos, ou sequer der munição aos seus acusadores, quem irá defende-los? Depois procure conhecer a verdade dos fatos, para só então corrigi-los, na justa medida.

Você não pode dizer que se conhece, antes de ler o seu horóscopo maldito. Ele lhe dará o retrato da parte escura que você esconde tão bem, mas tão bem, que até ignora. Para que você saiba como Deus tem feito um bom trabalho na bruxa que habita o seu porão.

Reduza a bagagem a cada ano. Simplifique. Celebre a alegria de arrastar uma bagagem leve. Que a viagem pode ser pesada.

Experimente um corte curto e ousado pelo menos uma vez na vida. Cabelos crescem. A ousadia fica.

Visite o dentista se você prefere o branco. Os dentes amarelam todo ano. Visite o psicólogo se você só usa preto ou branco. Você não é piano para dispensar as cores do arco-íris.

Se sentir a auto-estima nas alturas, tome cuidado com a supervalorização e seus equívocos. A soberba precede a queda. Li na Bíblia e experimentei na vida real. Não recomendo.

Não vá a restaurantes caros apenas para fotografar aquela mixaria de comida e postar nas redes sociais. Vá apenas se a comida for farta e boa. Nesse caso, não fotografe. É coisa de novo rico, ou de pobre querendo parecer rico.

Você não precisa de profundidade em assuntos técnicos. Deixe isso para o técnico. Mas precisa entender um pouco do que está acontecendo no mundo, já que você vive nele.

Não esqueça de ligar o farol do carro quando for para a estrada.
Proteja-se contra a indústria das multas. Não esqueça de desligar as luzes da casa quando sair do ambiente. A conta diminui, e o planeta agradece.

Não perca o controle sobre os seus pensamentos. Escolha o que deseja pensar. Como a Bíblia ensina: “traga à memória o que te pode dar esperança.”

Os botões das tristezas recorrentes e acostumadas devem estar desligados e assim permanecer. Tristezas são como alguns hóspedes indesejáveis: se der moleza, elas se instalam. Se deitam em nossa cama. Se apoderam da nossa vida. Roubam a nossa inteligência.

Maltratam o nosso coração. Nos matam de morte anunciada.

Por hoje é só, amanhã tem mais.








Escritora compulsiva, descobri a minha vocação escrevendo cartas. Imaginei-me poeta e enviei para Adélia Prado alguns dos meus melhores poemas, pelo correio, juntamente com uma carta. Ela teve a gentileza de me retornar dizendo: “você escreve cartas admiráveis.” Entendi. Esqueci a poesia e passei a escrever cartas. Cada texto que escrevo é uma carta e o leitor é o destinatário dessa carta. Tem dado certo. Escrevo e assino. Com carinho, com afeto, e com as minhas experiências de vida.