– Te pego às 17h.

Mal sabe ele que já estou à sua espera desde o primeiro bip da mensagem, porque será que é tão difícil você entender o meu jeito de te amar? Não sinto vergonha de expor aqui abertamente minhas emoções, porque sou de pele, sou da química e dos beijos intermináveis, mas também sou de alma e muito coração. Você se esquiva, dá desculpas, abstrai, finge demência, e eu? Apenas fico repetindo incansavelmente a mim mesmo: Uma hora ele vai me enxergar, uma hora dessas vai ser a nossa vez de se perder por aí e no amanhecer do dia ele vai dizer que também aprecia a minha companhia.

Mas não, os nossos momentos são por conta gotas, e as suas desculpas estão cada vez mais escancaradas, de uma forma que não dá mais para te defender. Não tem futebol, não tem amigos que precisa de você, não tem aniversário de avó e tão pouco o seu cachorro morreu. Para de mentir na minha cara, você consegue me fazer sentir pior do que eu já estou cada vez que vem com suas lamúrias, como se realmente se importasse. Tudo que eu realmente desejo? Há como eu queria apenas que se importasse, mas tudo que você me deixa são alguns resquícios de dor.

E ela jamais vem do lado que a gente espera, porque na realidade esperamos o chocolate do final da tarde acompanhado de um beijo apaixonado, esperamos aquela música boa para deitarmos na cama de conchinha com alguém, esperamos aquele banho demorado e que sempre tenhamos quem esfregue as nossas costas, esperamos o natal, ano novo, o carnaval, até a páscoa, mas não esperamos pela decepção, tristeza, mágoa e traição.

A dor nunca anuncia a chegada, ela não vem de véspera, e nunca tem passagem de volta, ela dura e perdura, até nos tornarmos fortes novamente, o que realmente temos que saber é que ela não é eterna, não, nada dura tanto tempo assim, então me desculpa, mas irei me reerguer, o ditado é antigo, mas é válido. O sol vai sair depois da chuva, e depois o arco-íris, e sempre teremos sono depois do almoço, e sempre vai ser bom evitar passar embaixo da escada ou cruzar com o gato preto na encruzilhada qualquer de uma sexta-feira 13.

Quero um par para que me acrescente momentos sem pesar, porque de pesada já basta minha bolsa. Um amor que não me faça cobranças, porque eu quero me doar por vontade própria. Que ele respeite a minha identidade individual, que não tente nos tornar um só, com os mesmos gostos, as mesmas vontades, as mesmas neuras, tudo certinho me dá tédio. É um relacionamento livre que me dá tesão, em que ambas as partes escolheram estar não por carência ou comodismo. Não porque não-tem-tu-vai-tu-mesmo, mas porque foi uma escolha entre estar feliz solteiro ou estar mais feliz ainda com essa pessoa e ela agregou valores. Os dois têm consciência de que estão juntos porque querem, e sabem que ninguém é obrigado a levar isso adiante se não se sentir valorizado, amado e feliz. É um relacionamento divertido, porque te dá liberdade de rir sem culpa, viver sem pudores, virar criança em alguns momentos e reinventar o Kama sutra em outros, é esquecerem que já foram só metades e se encontrarem em si mesmo por um único inteiro.

O que eu quero dizer com tudo isso? É que você me teve fácil demais, mas a sua falta de interesse real na minha vida fez que nela você entrasse, mas não é o suficiente para que você fique, a porta da frente está aberta, por favor saia por lá, e não se esqueça de bater, meu coração é habitado apenas por aqueles que são amantes da porra da reciprocidade, e isso você já provou que não sabe nem o que é.








Re Vieira, guria apaixonada pela vida, escorpiana formada em direito, amante das palavras, ama café, gente divertida e vinhos, sou aspirante a escritora, louca de intensidade e sobrenome, tenho 27 anos mas perco a maturidade diante de um sorvete com gomas de mascar, me convidem pra beber e viramos amigos de infância.