Quem já não se pegou terrivelmente irritado por causa de um tique nervoso do parceiro ou por excesso de barulho num ambiente público? Quantos homens não ficam furiosos com mulheres que ganham um pouco de peso, mas não se importam de namorar ou morar junto com mulheres manipuladoras ou exageradamente egoístas ? Quantas mulheres não aceitam maridos violentos ou que possuem um vício grave , mas não suportam homens pouco galantes?

Talvez, uma das maiores fontes de decepção na vida , seja esperar dos outros aquilo que eles não podem fazer. Criamos expectativas em relação às pessoas, muitas vezes, baseados em nós mesmos, naquilo que somos capazes de realizar e sentir.

Mas nem todo mundo pensa , sente e age como nós. Nem sempre aquilo que nos faz feliz, torna as pessoas felizes. Algumas atitudes que consideramos muito graves são simples e banais gafes para outras pessoas. Temos tolerâncias diferenciadas para determinadas faltas. Algumas vezes, perdoamos facilmente atitudes consideradas graves pela sociedade e nos incomodamos profundamente com coisas pequenas para a maioria das pessoas.

Quem já não se pegou terrivelmente irritado por causa de um tique nervoso do parceiro ou por excesso de barulho num ambiente público? Quantos homens não ficam furiosos com mulheres que ganham um pouco de peso, mas não se importam de namorar ou morar junto com mulheres manipuladoras ou exageradamente egoístas ?

Quantas mulheres não aceitam maridos violentos ou que possuem um vício grave , mas não suportam homens pouco galantes?Sim, cada um tem as suas medidas e confere pesos diferentes a certas atitudes e padrões comportamentais. Enfim, esperar por aquilo que o outro não pode oferecer por simplesmente não possuir , é perda de tempo e fonte constante de decepção.

Ok.Ok.Ok. Falar é fácil, eu sei. O problema é colocar na prática esta teoria. Quando estamos em relacionamentos afetivos , tanto amorosos como de amizade, é muito complicado não criar expectativas. É muito complicado não desejar que as pessoas amadas mudem por nós. Embora saibamos que ninguém muda por ninguém ( as pessoas no máximo pegam mais leve em algumas manias) continuamos nos digladiando internamente com a expectativa de que o outro pode se moldar a nós.

Por mais maravilhosas que sejam algumas pessoas , elas não são capazes de fazer e demonstrar tudo o que gostaríamos. Algumas pessoas têm mais dificuldade para expressar os sentimentos. Outras não conseguem se doar tanto nas relações mesmo amando. Existem aqueles, que apesar de muito corretos, carecem de um toque de doçura. Existem aqueles que mesmo querendo bem ao parceiro, não conseguem evitar relações sexuais com outras pessoas. Quem conhece a história de amor entre Frida Khalo e Diego Rivera entende o que eu estou falando.

Enfim, se não suporto infidelidade , não posso me relacionar com alguém que não se contenta com uma única parceira sexual. Se não suporto ciúmes, não devo me relacionar com alguém muito ciumento. Se não suporto a carência total de ciúmes, não devo namorar quem me deixa completamente livre para fazer o que desejo. Se necessito de romantismo, devo buscar alguém que se expresse afetivamente e por aí vai. Os exemplos são múltiplos. Por isso, sempre reforço em meus textos, a importância de relacionar-se com pessoas compatíveis a nós.

Mas obviamente, ninguém vai conseguir encontrar alguém completamente compatível. Por mais afinidades que existam entre dois parceiros amorosos ou dois amigos, algumas diferenças e discordâncias sempre existirão. É preciso aprender a se adaptar a elas. Não, não é fácil. Mas é possível com uma boa dose de generosidade e diplomacia.

E talvez o mais importante: é preciso realmente querer relacionar-se. Quando o desejo de compartilhar e estar junto falar mais alto para as duas partes ( quando apenas um dos parceiros flexiona , os resultados costumam ser muito negativos) as expectativas perderão muito da sua força , dando lugar para uma maior aceitação.








Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão "Como fazer uma tese?" ( Editora Avercamp) , "O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação" ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que realmente odeia móveis fixos.