Quando estamos em um processo contínuo de autodesenvolvimento – e por contínuo, digo com estímulos externos para isso, cursos, leituras e similares -, não temos tempo de absorver o resultado. E ele é completamente ilusório à primeira vista. Ou uma felicidade imensa. Ou uma dor imensa que vem à tona. Ou um estado de paz em que uma situação que te tiraria do controle não te abala.

A questão é: quantas vezes você consegue passar novamente por esta situação sem se abalar? Quanto tempo dura essa felicidade, ou o que esta dor te trouxe além dela mesma?

Esses dias, eu caí. Entrei em estado depressivo. Não saía da cama, não conseguia fazer nada sem chorar. Não conseguia comer sem sentir dor de estômago. Minha pele estava completamente empipocada.

Tive ódio, horror, a qualquer coisa ligada à espiritualidade. Guardei meu altarzinho, o que construí na viagem do ano passado comprando um item de forma especial em cada estado para onde fui.

Estava com uma visão seca e triste de um mundo em que lutar não valeria o esforço.

Quando a nuvem começou a se dissipar, consegui absorver o que dois amigos diferentes me disseram: passei por coisas demais em um curto período de tempo, e simplesmente fui detida para esvaziar o pote.

Isso faz mais ou menos uma semana, e desde que o inferno passou (porque pode ter sido pro meu bem, pode ser qualquer coisa, mas foi uma visão do pior lugar do lixão) comecei a sonhar com questões familiares que eu tinha dado por resolvidas. E por resolvidas, entendia: “Isso passou. Adeus. Não vivo mais lá. Não é problema meu”.
Quando acordo, geralmente tento me lembrar dos sonhos e consigo ter uma visão muito clara das situações da minha vida (o termo “despertar” não é em vão, né). E hoje, especificamente, associei a sensação do sonho ao que eu senti nos dias passados. Percebi, basicamente, que tudo o que me apavorou nestes dias de “lixão”, era exatamente o que me fez muito mal ao longo da vida.

Com tudo isso eu quero dizer que precisamos dar um tempo para o organismo reagir aos processos que despertamos nele. E, talvez, fazendo um paralelo com minha falta de fé, para a espiritualidade agir. Se é que há uma razão maior para algumas coisas acontecerem e não estamos entendendo, é porque provavelmente não conseguimos ver a situação por completo.

Por isso, também, são importantes os momentos de celebração.

Identifiquei, ao longo destes meus dois anos de “buscadora profissional”, que meu ciclo é mais ou menos assim:

1) Forço a saída de algo que nem sei o que é, com uma atividade que pode ser divertida (fazer meditações ativas, ter mirações claras na ayahuasca), dolorosa (peias de ayahuasca, enfrentamentos mais amplos em meditações e grupos vivenciais), ou apenas intensa (os processos da O&O Academy, por exemplo).

2) Depois de um tempo, vem uma bomba. Algo desencadeia a saída de tudo o que remexi. Pode ser por choro, pode ser apenas em um processo de estar mais reclusa, pode ser numa decisão de não tomar mais determinada atitude).

3) Por fim, vem a hora de aproveitar a calmaria. É quando, enfim, consigo perceber se está havendo algum tipo de mudança no meu dia a dia. Se a compreensão era só uma roupa que vestia, ou se no pior momento de todos ainda consigo, no mínimo, entender por que algo está se desenrolando daquela maneira, e qual minha responsabilidade, ou, no mínimo, por que estou inserida dentro daquela situação.

Agora, cansa. Socorro, como cansa! A grande questão é que não existe “desistir do processo”. Algumas vezes, nesta semana, me peguei dizendo que a pior coisa que fiz na vida foi entrar neste universo, que mudaria de rota e redirecionaria meus esforços para fazer o bem, mas que encontraria outras formas de agir pra isso.

Me senti tão honesta quanto o cara daquela música, quando ele explica pra Telma que ele não é gay: “Meu bem, eu parei”.

No máximo, como acontece a algumas pessoas, acabaria indo radicalmente para outro lado (o cara de direita vira de esquerda, o evangélico vira new age, e vice e versa). Porque a força está aqui, uso para o lado que escolher. Se eu a contiver, ela me destrói.

Portanto, autodesenvolvimento também é um processo para aprendizes de feiticeiros: antes que transforme alguém em pedra, melhor entender como funciona a varinha de condão.

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"Jornalista, produtora e terapeuta em permanente construção. Terapeuta do Deserto é o nome que encontrei para representar meu “eu pensante” em transformação - movimento este que, confesso, não pedi. Mas ao entrar em contato profundo comigo a partir do yoga e depois de outras mil ferramentas de autodesenvolvimento, o processo se tornou sem volta. Compartilho minhas experiências e visão deste despertar, agora aportando na mágica cidade de Alto Paraíso de Goiás.