As minhas musas inspiradoras não tem corpos sarados nem curvas sinuosas.

Como o poeta poderia expressar o que sente, sem uma musa pra lhe inspirar? Ah esses seres mitológicos femininos que, de uma forma ou de outra, ainda permeiam o imaginário coletivo, personificadas de muitos modos.

As musas eram consideradas na antiguidade clássica como patronas das artes, do saber, do canto. Donas de beleza e/ou atributos inspiradores para filósofos, músicos, escritores, matemáticos e poetas. Mas o ocidente foi, digamos, evoluindo e assim se distanciando em muitos aspectos dos ideais da Grécia antiga, da antiguidade clássica. Tanto que hoje a Grécia nada tem a ver com seu glorioso passado, que se resume a ruínas e monumentos antigos.

As musas desse passado glorioso, mitológico, eram as filhas de Zeus com a deusa Mnemosine, a deusa da memória; mas o que vemos é que muitas musas do presente, parecem renegar o passado e puxarem mais para o lado da amnésia…

Muitas mulheres bonitas são chamadas de musas na atualidade. Donas de corpos esculturais, lapidados a custa de muitos exercícios físicos, dietas, carboxiterapia, cirurgias plásticas, etc. Entretanto a grande maioria delas pouco inspiram além de uma hipersexualização, ou o desejo carnal, a cobiça e até mesmo a futilidade. Que pena.

Acredito que musas inspiradoras poderiam ser mais do que curvas ou apelo sexual. É preciso mais. Nós como humanidade precisamos de mais do que sermos uma sopa de hormônios ardente de desejo.

Temos presenciado um empobrecimento de mentalidade, de espírito, de presença na sociedade. Premiamos o bumbum mais bonito, mas não damos o mesmo destaque para outros atributos imateriais.

Julgamos pessoas por sua forma física e congratulamos o mérito do corpo são, sarado, mas esquecemos da mente sã e da nossa própria dignidade.

Entenda: Não estou aqui criticando você que se cuida, que se ama e que mantém assim medidas corporais consideradas perfeitas. A reflexão que proponho é sobre o culto ao corpo acima de tudo. Nada contra ir a academia para treinar seus músculos ou realizar procedimentos estéticos. O problema não é e NUNCA foi esse.

O que define a você e a mim como humanos, como pessoas, como indivíduos? O tamanho do bíceps? Quantos mililitros de silicone você tem em cada lado? A proeminência dos músculos abdominais? O percentual de gordura do nosso corpo? Qual é o critério? Precisamos decidir antes que seja tarde.

Afinal, o que estamos sacramentando como verdade sobre a nossa sociedade e nosso estilo de vida? Que vencer na vida é ser bonito(a) e gostoso(a)? Que ser apetecível aos olhos garante ter tudo que você sempre quis? Que se você não atender a determinados padrões estéticos você não tem as mesmas oportunidades profissionais e pessoais? Por que precisamos exagerar tanto no exterior e negligenciar o espiritual, o intelectual e o emocional? O que nos falta dentro?

A verdade é que sempre existirá alguém mais atraente e em uma sociedade que está tão presa a ideais superficiais e irreais de beleza, cuja maioria jamais alcançará, frustrando-se de diversos modos. Por isso, transcender e ir além do corpo e da superfície tem sido muito difícil.

Como diria Tolstói: “No meu tempo não era assim. Quanto mais apaixonado eu estava, tanto mais imaterial ela se tornava aos meus olhos. Vocês hoje veem as pernas, os tornozelos, sei lá mais o que! Vocês despem a mulher que amam, ao passo que para mim, como disse Alphonse Karr, o objeto dos meus desejos vestia sempre roupas de bronze.”

As minhas musas inspiradoras não tem corpos sarados nem curvas sinuosas, elas compartilham com os outros a sua sabedoria.

*DA REDAÇÃO RH. Foto de Romina Farías na Unsplash.

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Hebert Neri é jornalista, escritor, correspondente internacional e produtor musical. Atualmente vive em Portugal onde comanda o programa de rádio Neri Talks. Autor de 6 livros, Neri também é compositor de mais de 150 trilhas sonoras para rádio, cinema e TV.