Vi em uma postagem outro dia a mensagem: “Lembro dos dias em que orei pelas coisas que tenho hoje”. De súbito me peguei lembrando de todas as coisas que eu já quis, de todas as minhas conversas com Deus – muitas vezes chorando e questionando o porquê de ainda não ter sido atendida por coisas que agora tenho e pelas quais não agradeço com a mesma veemência dos pedidos.

Contudo, o que me levou mesmo a refletir foi em como eu penso muitas vezes no agora, lamentando a má sorte que tenho. De repente parece que tudo deu errado pra mim e sim, eu já falei isso em voz alta muitas vezes e já repeti frases como “só acontece comigo”, ou “eu devo ter jogado pedra na cruz” e daí para muito pior, acredite.

Porque sim, muitas coisas deram errado para mim; ou não; depende do ponto de vista. Passei a ter raiva de finais felizes e desconfiar de pessoas felizes e adquiri uma visão totalmente pessimista sobre o presente e… Futuro? Bah! Quem acredita em futuro?

É… É assim que a gente fica quando começa a achar que tudo dá errado na nossa vida, que só fazemos escolhas ruins, que não somos como o irmão exemplar ou aquela prima insuportavelmente inteligente e bem-sucedida de quem muito se comenta nas reuniões familiares. Não somos como a amiga que está comemorando 20 anos de um casamento ainda apaixonado, escolhendo a faculdade que o filho vai cursar enquanto nós estamos aqui em uma das incontáveis tentativas de “agora vai”.

Meu Deus, porque nada dá certo pra mim??!

Agora que eu e você chegamos aqui nesse ponto do nosso pessimismo, vou lá buscar nosso café pra gente conversar. O seu é com açúcar?

Voltei… E vou te contar uma coisa que aconteceu comigo… Acho que deu tudo errado pra mim. Me senti esgotada, fracassada, mal-amada, mal sucedida, má pessoa, feia, gorda, chata, uma amiga ruim, uma filha ruim, uma mãe ruim, uma profissional ruim. Tudo errado! “Se eu morresse, seria um favor pro mundo”, pensei.

E eu fui subitamente tomada por uma raiva imensa de mim, do mundo, de todos e dessa conspiração sacana do destino com a minha vida. Saí, como diria uma mais que amiga: “descaralhada” por aí. Mas eu não vou falar isso porque não falo palavrão, só ela.

Todas as minhas forças foram embora e eu parecia estar colecionando uma sequência de desacertos em todas as esferas da minha vida. Era paulada atrás de paulada e eu lá lendo frases de autossabotagem como “a vida bate com força”, porque gente, isso não é autoajuda, é alguém te lembrando que sim, você vai ser nocauteado de vez em quando pela vida, o que pode te deixar alerta tanto quanto em pânico.

Um dia, no dia em que tudo tinha dado o mais errado possível até aquele momento, eu me sentei em meu banco imaginário no meu bosque imaginário de frente ao meu lago imaginário, com meu vestido branco imaginário e longos cabelos ao vento (imaginários) e conversei comigo mesma. Eu tinha que fazer algo a respeito ou seria engolida pela tragédia grega que minha vida tinha se tornado.

Tracei um caminho não tão longo nem tão tortuoso até a clareira onde dentre muitas coisas, li: “lembro dos dias em orei pelas coisas que tenho hoje” e pensei: “é, eu também…”. Pensei em sentir vergonha de mim, mas me abracei e compreendi que toda aquela dor fazia parte de um processo difícil de aprendizado pelo qual eu ainda preciso passar.

Minha raiva se dissipou… Me senti triste e ainda esgotada… As coisas bem que poderiam ser mais fáceis pra mim. Mas não foram e muitas vezes, ainda não são. Parte devido às circunstâncias e coisas alheias à minha vontade e parte porque eu escolhi caminhos difíceis para percorrer e acabei me machucando. E machucada, com dor, senti raiva e machuquei outras pessoas também.

Eu tive pressa, eu tive medo, eu tive raiva, necessidade, vontade de ser feliz, vontade de ter meu próprio comercial de margarina, de ser cientista, de não ir para o inferno ou ter meu nome apagado do livro da vida eterna que me disseram que Deus carrega. E por todas as coisas comuns a muitas pessoas, eu permiti que minha dor se sobrepusesse ao aprendizado que ignorava.

Minha tristeza se dissipou… E eu não saberia descrever hoje qual sentimento me domina, mas senti desejo de perdoar àqueles que julguei terem sido maus comigo, de pedir perdão, de perdoar a mim mesma e compreender que em grande parte dessas situações não havia nada a ser perdoado. Fazia parte da caminhada… Simples assim.

E toda a mágoa e decepção e raiva não tão de repente se transformaram, mas se transformaram. E me lembrei das coisas pelas quais tanto orei e que tenho hoje… São muitas, sabe? Na verdade, é bem mais do que pedi…

Mas não me culpei nem me cobrei mais pelos sentimentos negativos. Tampouco pelos excessos e impulsividades que tive. Ninguém é só dor, ou só alegria, tristeza ou raiva. Somos uma mistura de todos os sentimentos, aprendendo a administrar cada um deles dentro da nossa sala de comando.

A verdade é que as coisas não têm dado errado pra mim… Só não saíram conforme minhas expectativas. Mas estou aqui agora te contando isso serenamente, só pra parafrasear o Renato Russo cantando “quando tudo está perdido sempre existe um caminho; quando tudo está perdido sempre existe uma luz”.

E a gente faz o que quando as coisas não saem conforme nossas expectativas? Você faz o que quando planeja chegar em casa e comer pão e descobre que o pão acabou? Passa fome? Faça o mesmo com a vida! Se ela mudar os planos, mude o visual e acompanhe o ritmo…

Não vou te dizer que nada acontece por acaso, que Deus tem outros planos, etc, etc, etc. Mas vou te dizer seguramente que precisamos aprender e quanto mais dura é a lição, mais reflete nossa relutância no aprendizado. Será que precisamos permanecer todo esse tempo em uma situação que causa dor? Será que não devemos valorizar mais aquilo que traz felicidade?

Será?!








Sou mãe de um casal (lindo!), 35 anos, formada em Gestão Empresarial, gerencio uma Clínica Médica e escrevo por hobby e amor. Leonina de coração eternamente apaixonado, gosto de manter uma visão romântica sobre a vida. Humana, sou uma montanha russa de sentimentos e quando as palavras me sobram, escrevo. Minha alma deseja profundamente, um dia, apenas escrever