Quando alguém que amamos muito morre e deixa de viver ao nosso lado para seguir o seu caminho em outro plano, o sofrimento da perda é tão grande que acabamos acolhendo a dor como companheira. Abrimos as portas da nossa casa interna, e vulneráveis, deixamos que ela passe a viver dentro de nós.

As perdas emocionais, sejam elas de um ente querido, um amor, uma oportunidade, ou até de coisas materiais, acabam abalando as nossas estruturas internas. A grande maioria de nós ainda não sabe lidar com essas perdas. Somos treinados a nos preparar para os ganhos, para as vitórias, para buscar o prazer, mas tentamos a todo custo evitar a dor.

Reparem as crianças, nem mesmo elas gostam de perder, muitas reagem de maneira raivosa diante das perdas em brincadeiras e jogos.

Ao receber a notícia que algo que nos é muito caro nos foi tirado, o vazio se instala imediatamente dentro de nós. E automaticamente, tratamos de preencher esse vazio com uma dor avassaladora!

Essa dor toma conta de todo o espaço, que antes era destinado ao amor. Muitas pessoas, que não possuem força emocional para lidar com as perdas, acabam estabelecendo um forte vínculo com a dor, canalizam errado o sentimento, o alimentando diariamente. Até que um dia, essa dor que deveria se transformar em saudade, acaba se transformando em sofrimento!

Tenho uma lembrança de uma professora, ela realmente foi um exemplo de como lidar com uma perda de maneira saudável.

Ela ministrava um curso que fiz de psicologia com duração de 15 dias, e durante o decorrer das aulas, descobri que ela havia perdido o marido a pouco tempo. Mas ela não aparentava tristeza, demonstrava uma força interior que quase poderia ser tocada com as mãos!

Não, ela não era fria, como alguns podem pensar, ela apenas desenvolveu inteligência emocional o suficiente para aceitar aquilo que não pode ser mudado.

Quando vivenciamos uma perda, nos deparamos com um vazio que não sabemos lidar. E a maioria das pessoas acabam adotando duas posturas:

A primeira é fingir que a perda não aconteceu, que não doeu, que não machucou e nem foi tão grave assim.

Minimizamos a dimensão da perda, acreditando que não olhar para o que aconteceu fará a dor desaparecer.

Carl Jung disse certa vez “O que você resiste, persiste! ”.

E a interpreto da seguinte maneira:

Não olhar, sofrer ou chorar as nossas perdas, não nos ajuda a superá-las mais rapidamente. Na verdade ocorre o oposto, quando não vivenciamos, validamos e choramos as nossas perdas, todo o emaranhado de emoções que estão ligados a ela ficam retidos e contidos em nosso corpo, em nosso psiquismo.

Aprenda a lidar com a dor da perda e ressignificar o sofrimento

1 – USE A CRIATIVIDADE

Procure visitar locais que você nunca frequentou antes, fazer programas que antes da perda você julgava não ser a sua cara, estar com pessoas diferentes em lugares novos renova nossas energias e nos ajuda a lidar com o vazio causado pela perda e a entender que a vida continua.

2 – SAIR DE CASA

Geralmente é muito difícil sair de casa após uma perda emocional dilaceradora.
Ficamos recolhidos em nosso luto, a tristeza nos invade, e precisamos mesmo viver essa tristeza por dias ou meses, mas a tristeza não precisa ser sentida entre as 4 paredes de sua casa. Ela pode e deve ser vivenciada ao ar livre, na natureza, desta forma, você entenderá a beleza que é estar vivo e a lição que será aprendida durante a fase triste, será importante para que você construa a sua felicidade a partir daí.

3 – USE A ARTE A SEU FAVOR

Cantar, dançar, desenhar, pintar, escrever, ir a shows, teatro, cinema, exposições pode nos ajudar a superar as dificuldades, elaborar de forma mais leve e orgânica as experiências doloridas, trazendo um colorido e um toque de harmonia para a nossa vida. A arte pode nos ajudar a nos reorganizar, pode ser motivadora e possuem a função de nos trazer para o aqui e agora, para a experiência que estamos vivendo no presente, e nos retira, pelo menos temporariamente, do passado que não pode ser mudado.

4 – PRATIQUE EXERCÍCIOS

Praticar exercícios é um forte aliado para superar qualquer perda emocional que nos acometa. Quando estamos praticando uma atividade física nosso corpo libera hormônios que nos levam a uma sensação de bem-estar, e a cada exercício concluído, superamos um pouco mais a dor, e nos aproximamos da conquista de transformar a dor em saudade, e não em sofrimento, dentro de nós.

É muito difícil superar a dor quando alguém que amamos morre ou quando perdemos algo que é muito importante para nós, é uma tarefa difícil, ninguém aqui está dizendo que será fácil superar.

Pode ser um longo processo, e o que proponho neste texto são algumas alternativas que podem nos ajudar a aceitar a situação com resignação e resiliência, para que aprendamos a vivenciar a dor de maneira saudável, sem que a perda do outro, ou de algo, mate a nossa alegria de viver.

Devemos aprender a mesclar os momentos de dor e sofrimento com os momentos de maior leveza e fluidez, assim, encontraremos a fórmula para transformar a dor em saudade e não em sofrimento, pois o sofrimento quando acolhido, pode desenvolver quadros de depressão, e dar origem a outros problemas psicológicos!

Aceitar e transformar a dor em saudade devem ser as palavras de ordem em um processo de superação de perdas.

A vida é um livro com seus mistérios, mas o que ela ensina a cada página lida, nos leva a concluir que devemos aprender a amar sem apego e deixar ir o que ou quem for, quando ela assim decidir.

Estamos aqui de passagem, todos nós! Essa é a nossa única certeza!








Psicóloga clínica, terapeuta corporal, consteladora familiar e orientadora profissional. Escritora e facilitadora de workshops, palestras e grupos terapêuticos que visam auxiliar as pessoas a reconhecer e ativar sua potencia de realização e alegria de viver através da reconexão com a sua verdadeira essência, do profundo cuidado com o sentir e com o poder de expressar suas emoções mais genuínas. Desenvolve trabalhos personalizados para grupos e empresas.