Ela estava um pouco nervosa com a ideia de revê-lo depois de tanto tempo. Não saberia como reagiria diante daquilo que um dia compartilharam. Ela ficaria sem silêncio e abaixaria a cabeça para esconder o rosto que ficara vermelho? Ou ela passaria direto e fingiria que não o tinha visto? Ela tinha medo de não saber o que dizer, mas sentia que havia algo importante a ser dito, porém tinha medo de procurar dentro de si tais palavras e tinha mais medo ainda de pronuncia-las. Essa menina sempre fora muito covarde, mas ele a ajudava a ser um pouco mais destemida e parar de pensar tanto no que poderia dar errado. Ele era paciente e a respeitava quando ela se tornava a rainha do drama. Ouvia tudo e falava de um modo que não a magoasse mesmo que ela precisasse de um puxão de orelha.

Porém, eles não poderiam ficar juntos. Havia entre eles um mar de questões que impossibilitavam tal união. No começo, para os dois foi bem difícil. Eles queriam tentar mesmo sabendo que as chances de dar errado fossem enormes. Eles queriam dar a cara ao tapa, correr os riscos necessários, voar sem medo da possível queda. Eles queriam ser os improváveis juntos, ir contra quem falasse que eles estavam sendo irresponsáveis e agindo sem sabedoria. Pois era isso que o coração queria que eles fizessem. O coração dizia para eles: “Vocês precisam tentar!”. E eles quase chegaram a isso. Quase chegaram a se entregar a uma relação que não teria o apoio da família, que faria com que cada um jogasse uma bomba em seus círculos sociais e saíssem correndo para não se ferirem com os destroços.

Entretanto, eles se lembraram de uma palavra que diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jeremias 17:9). Eles sabiam que como as emoções estavam gritando não dava para ouvir nada além delas. Eles acabaram ficando surdos e cegos também. Não conseguiam ver que no futuro eles se encontrariam diante de dois caminhos e se um deles não abrisse mão de seu futuro, iriam caminhar sozinhos e distantes um do outro. E ainda, ou um deles abria mão de seus princípios, crença, opinião familiar, ou era impossível que a relação desse certo. Pois um relacionamento não é feito somente de carinho, beijos, abraços, idas ao cinema, rizadas, conversas de madrugada, mas um relacionamento é a união de duas pessoas que irão construir um futuro juntas. Assim precisa-se saber se esse futuro é possível ou não.

E quando ela o viu se aproximar para abraça-la e perguntar como estava, percebeu que havia feito a escolha certa, lembrando-se de que na época havia sido a mais dolorosa. Ela havia chorado, reclamado, esperneado, mas sempre que tentava achar uma solução via que não daria certo. Eles chegaram ao quase, porém não tinham condições de avançar. Eles foram até o meio do caminho e viram que continuar seguindo juntos não era possível sem um grandioso sacrifício. E nem ela ou ele estavam dispostos a abrir mão de quem eram, do que possuíam, para que mergulhassem de cabeça nessa tentativa que daria o que falar. Assim, ele seguiu carregando no peito uma culpa de que havia feito algo de errado a ela, mesmo que não soubesse o que teria feito, e ela prosseguiu sempre se convencendo que havia sido a escolha mais sábia dos últimos tempos.

Mas o que nenhum dos dois quer confessar é que de vez em quando bate uma pequena saudade do que tiveram. Das conversas que se aprofundavam em assuntos que não conseguiam falar com mais ninguém. Dos sonhos que gostavam de compartilhar e que se encorajavam mutualmente, dos lugares que querem conhecer ao redor do mundo e das mudanças positivas que querem trazer a humidade que beira o caos. Todavia, quando essa saudade bate se convencessem com palavras do tipo: “Foi melhor assim. Um de nós iria sofrer muito no futuro e eu não aguentaria provocar isso.”. Porque maior que qualquer sentimento que eles tiveram, ambos se respeitavam e se queriam bem, eles torcem pelo sucesso um do outro e sabem que para chegarem até onde seus propósitos querem leva-los, precisam deixar pelo caminho o que não deixaria que chegassem lá.

Porque a vida é feita de pequenos e grandes sacrifícios, mas dependendo do motivo pelo qual se sacrificaram logo terão uma recompensa. Eles nem sabem, mas serão sim felizes, amados, valorizados e respeitados, porém eles não se pertencem como achavam que se pertenciam. Ela tem alguém a esperando lá na frente e ele também tem outro alguém. Mas enquanto continuarem com os olhos no passado nunca poderão enxergar o que podem ter lá do outro lado dessa ponte, e que será uma verdadeiro benção dos céus vindas das mãos de Deus, pois Ele viu seus esforços, tentativas e que só queriam seguir seus corações, mas escolheram o caminho mais doloroso que os levaria para o lugar certo. E num mundo onde dizem para não ver as consequências e sim apenas viver o momento com intensidade, eles foram na contramão e decidiram manter os olhos fixos na Verdade que um dia os aproximou.








Tatielle Katluryn, florescida em 1996, com sangue Maranhense e coração pertencente ao céu. Sou cristã e estudante, apaixonada por livros do séc. XIX e Astronomia. E Deus me chamou para falar aquilo que Ele quer dizer as pessoas, para levar a paz a corações tão ansiosos quanto o meu. É tão linda a forma que Ele me cuida enquanto me usa para fazer sua vontade e só tenho a agradecer por tamanho amor que me consertou sem eu merecer.