Por mais que a linhagem do amor seja um caminho difícil de ser percorrido, andai por ele, pois o seu sono é leve e belos são os sonhos que sonhamos quando estamos enamorados…

Amor platônico, amor que já passou, amor que não se emancipou… Quem nunca?

Quem nunca viveu um amor que não era definitivamente para ser? Sentimentos verdadeiros nunca chegam em vão, chegam sim, com algum propósito maior, que terminará por edificar e concretizar a nossa construção estremecida…

Um dia eu vivi um desses sentimentos arrebatadores. Aliás, vivi alguns deles, mas vou destacar apenas os que foram importantes para mim. O mais engraçado disso tudo é que nenhum deles veio para ficar e para fazer morada junto dos meus mais belos sonhos e empreendimentos.

O primeiro deles foi desses que a gente reconhece como sendo o mais bonito de todos, por ser perfeito e por não conhecer os distúrbios ocasionados por um relacionamento reconhecido do que chamamos de sintonias feitas de carne e osso. Ele aconteceu em minha meninice, e se chamava amor platônico…

Foi tudo infinitamente lindo, foi à primeira vista e talvez seja ele, imortal. Talvez seja imortal, não por ser eterno, mas por ter me mostrado que devemos guardar bons sentimentos pelas pessoas que temos, ou que tivemos algum tipo de vínculo, seja ele emocional ou circunstancial…

Ele não veio residir dentro de mim por uma vida inteira, mas era tão formoso que decidi eternizá-lo dentro dos meus armazenamentos mais poéticos… Ele era puro como os folguedos juvenis, lotados de pouca malícia, mas que continham dentro de si, a enxurrada de enternecimentos verdadeiros que vociferavam em meu universo particular.

Nos víamos com frequência em nosso passado remoto, porém, hoje o vejo com a intensidade de um raio que já se passou e que aqui, não ficou… Ele se foi, mas eu permaneci…

Depois veio o segundo, o terceiro e o quinto, que foram tão bonitos como aquele primeiro encanto para o meu nobre e já sobrecarregado coração. Mas o décimo foi arrebatador.

Para algumas mulheres talvez ele valesse realmente a pena, mas não para mim. Ele era lotado de mentiras, era desses que inventam histórias pregadas só pra me manter sempre por perto, mesmo que ele tenha optado pela decisão de que existiam outras prioridades em sua vida e que eu nunca fui exclusividade para tal empreendimento relacional.

Sim, as suas prioridades não me incluíam, e teria que dividir involuntariamente com ele, através de sua ausência desconcertante, todos os seus afazeres que para si, estavam sempre em primeiro lugar.

Quem nunca se comportou como uma dessas brilhantes vítimas, que era como eu me sentia, que atire a primeira pedra… É triste, mas esse amor que denomino de paixão descompensatória e diria que passageira, um dia infelizmente aconteceu para mim.

Eu o vi chegar e partir com a rapidez de um cometa que percorrera ligeiro todos os espaços possíveis para todas aquelas situações que um dia passaram por mim como um relâmpago e que poderia causar estragos maiores, se o risco de sua intensidade alcançasse alguém ou algum objeto igualmente desconcertante…

Ele não veio para ficar comigo para sempre. Tinha o sabor de um doce delicioso, mas que continha vida curta e que poderia me fazer muito mal à saúde, caso o degustasse assiduamente e frequentemente. Ele me disse bem a que veio, mas eu irresoluta, teimei em não fornecer-lhe ouvido.

Existem também histórias lindas de longos namoros que muitos de vocês já vivenciaram, e que, tenho certeza que resultariam em enredos semelhantes a uma boa novela mexicana, dessas recheadas com uma quantidade significativa de água com açúcar, ou quiçá demonstrando uma refeição demasiadamente apimentada que seriam iscas profundas brotadas de momentos que insistem em permanecer em nossas vidas…

Hoje encontro-me aqui, com romances convidativos para contar, mas para provar a você, que é possível sim, sermos felizes sozinhos. Pois chega uma certa idade, em que a tarefa inadiável de nos reconstruir, deve ser a prioridade essencial para as nossas vidas… E aquele brilho no olhar, sabe aquele brilho no olhar que um dia reluzimos ao som de orquestras que percorreram o caminhar de toda a nossa irredutível alma?

Pois é, esse olhar sempre esteve aqui, ele não morreu, ele ainda vive comigo, e tenho certeza que ele brilha também, por trás dos seus inebriantes sonhos emancipados… Esse olhar está esperando ansiosamente por uma nova oportunidade de sentir o seu coração bater compulsoriamente novamente.

E então eu lhe pergunto:

Será que tudo isso valeu a pena? Serenamente então eu vos respondo:

Pena, mas que pena? Que pesar haveria de ter essa singela situação? Qual seria a real subtração de um momento que sabemos que em sua finitude, nos trouxe inadiáveis lições?

Que bobagem, nunca foi uma pena tudo o que vivi. As coisas nunca tiveram esse peso intransponível.

Foram sim, lições soberanas que adquiri e que carregarei em algum lugar que reside na casa do meu ilustríssimo caminhar interior, e que refletirão todas esses preciosas descobertas que um dia a vida ilustrou para mim.

Sim, ilustrou, porque foi tudo muito lindo enquanto durou, mas acabou. Tudo na vida passa e nada aqui fica para semente. Mas nós continuamos…

Nós sobreviveremos a todas e quaisquer tempestades que a vida insista em fazer chover em nosso telhado de material fragilizado…

Daqui, do meu mundo bonito, posso fitar as estrelas, daqui posso me dar a chance de sempre continuar… Sei que eu devo continuar.

E nessa dança esfuziante dos nossos sentidos, só não vale desistirmos de acreditar. Pois um novo amor estará sempre surgindo para se apresentar a nós.

Prossiga firme em direção aos passos certeiros que te conduzirão a escalada vitoriosa que lhe mostrará que as coisas sempre brotarão para você, como flores enfeitadas no grande jardim que reside dentro do seu amado e dignificado coração. Não desista do amor, ele chegará para você, assim como você espera pelo bilhete sorteado e tão esperado de loteria.

Sabemos que um amor verdadeiro é difícil de se encontrar, mas ele existe e está esperando que alguém como você, possa contemplar esse cartão tão esperado por uma grande parcela de almas tão desesperançosas como a sua está neste momento.

E embora, nesse caso, os sorteados não sejam tão raros, esse bilhete tem o brilho das mais belas e raríssimas pedras preciosas.

Para que possamos entender o seu valor, é preciso que estejamos de alma límpida e renovada.

Aposte na vida, pois um dia o sorteado desse colorido todo poderá ser você.

Invista no amor, invista em você, a vida é linda, basta que acreditemos nos segredos que ela nos fará sadiamente fomentar na essência que preambula e coabita a luz fecunda que brilha em todo o nosso infinito cosmos interior…

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes








Seu lema é acreditar na vida. A escrita, para ela, é uma forma de protesto perante uma sociedade tão carente de sentimentos verdadeiros. Acredita ser essa sua verdadeira missão na terra. Venera os animais conhecidos como irracionais e também o que existe de mais belo e genuíno no interior de cada personalidade que entrelaça o seu caminhar... Para ela, escrever é simplesmente viver! Recentemente escreveu o livro: Minha vida com o transtorno esquizoafetivo. Em uma narrativa emocionante e realista ela discorre sobre o problema que foi obrigada a vivenciar desde os tempos de sua meninice. O livro pode ser encontrado em diversas livrarias espalhadas pelo Brasil.