Na minha infância e adolescência ouvia dos meus amigos e parentes: “homem não chora.” Comecei achar que garotos não podiam expressar suas emoções, pois homens de verdade eram valentes, inclusive não deviam cuidar de sua aparência. Hoje, do mesmo modo, os traços másculos precisam ser predominantes, devido à influência cultural que herdamos do patriarcado. Assim, o debate sobre identidade masculina declinou para uma crise da masculinidade do homem contemporâneo QUE NOS INCLINA A PENSAR SOBRE AMOROSIDADE E AGRESSIVIDADE E a diferença entre masculinidade e macheza.

Essa discussão deu uma ênfase distorcida ao conceito de masculinidade, vinculando com ideias machistas. Uma masculinidade tóxica, que se caracteriza pela agressividade, e que considera as emoções como “frescura” feminina.
Entre os efeitos perversos da toxicidade masculina estão o desprezo pelos sentimentos, a apologia da violência, a banalização do abuso sexual, a prática da homofobia e da misoginia. Isso ocasiona danos à saúde mental e física, que pode levar a morte das pessoas – que são dominadoras e dominadas – pelos delírios da pseudo masculinidade.

As mulheres encontram-se nesse contexto em uma situação de subordinação, que exige que elas sirvam as vontades dos pais, namorados e maridos. Um sistema hierárquico, que coloca o masculino sempre em posição superior ao feminino.
No século 20 tentou-se reconstruir o consenso que apenas as qualidades masculinas eram positivas, como por exemplo: resistência, esperteza e imponência. Aliás, o discurso psicomédico da época desqualificou os negros, judeus, homossexuais, mulheres e pessoas com deficiências com o argumento de que esses sujeitos não se enquadravam na lógica burguesa de masculinidade.

Porém, o termo masculinidade se modificou, porque se criou mecanismos que impedem que a opressão e a violência machista não sejam mais naturalizadas. Os reflexos das mudanças estão sendo gerados pelas ações dos movimentos políticos, culturais e sociais, filosóficos, psicanalíticos e espirituais, que têm como objetivo comum a busca da libertação de homens e mulheres dos padrões patriarcais.

Além disso, a redefinição da função de pai, a preocupação dos homens com o cuidado do corpo, a intimidade e o sexo com amor deram novos contornos à percepção de masculinidade, se diferenciando dos patológicos modelos de macheza.

O século 21 está mostrando que os homens não precisam mais dominar e nem expor que possuem potência viril. Eles estão aprendendo que a opção inteligente é lutar junto com as mulheres pela igualdade e pelo respeito nas relações de gênero.

Portanto, o que aprendemos na meninice foi uma inculcação errada de masculinidade, mas nos dias atuais os homens choram no cinema, escutam tudo que as mulheres têm a falar, cozinham, participam das tarefas de casa, tomam conta dos filhos e têm a consciência de que a sua amorosidade, não diminui a virilidade.

Enfim, a verdadeira masculinidade, que está emergindo, tem a capacidade de propor todas as formas de “ser homem”, que estabelece relações equitativas e saudáveis. E também desconstrói a infeliz concepção de que macheza é igual à masculinidade.








Sociólogo e Psicanalista