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AMIGAS DESDE O JARDIM DA INFÂNCIA – VOCÊ TEM COM QUEM CONTAR?

Somos um grupo de amigas que parece se conhecer desde o jardim da infância. Essencialmente diferentes em suas histórias, idades, denominações religiosas, cultura, profissões, e tudo mais que se possa pensar, tornamo-nos irmãs de alma.

Amizade tem sido coisa bem difícil de se ver nos dias de hoje. Em tempos de relações líquidas, rasas e quebradiças; a sociedade vive os tempos da solidão e da agressividade. Nas redes sociais indivíduos se xingam mutuamente por qualquer razão sem nem sequer se conhecerem. Muito se fala, se escreve, se posta – e quase nada se ouve. Tudo se copia, se imita, se compartilha – e nada se troca.

Vim morar na capital do nosso estado nestes tempos tão difíceis. A tecnologia que o meu iphone carrega me deixou mais próxima de tudo que deixei em Limeira, mas me mostra também este mundo veloz, conturbado, inconstante e patológico que envolve os aplicativos de comunicação.

Grupos se formam, aos milhões todos os dias e dentre eles, os grupos de mães cujos filhos estudam na mesma classe em uma determinada escola. Agora, é dentro de Whatsapp que acontecem as conversas que eu via nos portões do colégio quando eu era criança, nos quais a minha e as outras mães falavam sobre diversos assuntos.

Via de regra, os grupos hoje em dia falam sobre as crianças, sobre a escola e sobre os eventos tais como festas juninas, acampamentos, festas de aniversário e comemorações escolares. Fala-se também sobre pediatras, aulas extracurriculares, lojas de roupas infantis e sobre a própria escola. Elogios e críticas correm soltos ao vento.

Amores e desamores entre as crianças motivam mães a irem ou não com as caras umas das outras talvez porque elas ainda tenham a mesma idade emocional dos seus pequenos.

Comigo aconteceu assim: no ano passado o grupo de mães das crianças da classe na qual meu filho estuda era um grupo superficial no qual trocávamos apenas informações necessárias. Não houve nada de turbulento e a relação era amigável, porém superficial. Foi neste grupo que conheci uma das minhas grandes amigas hoje aqui em São Paulo e como neste ano nossos filhos continuaram juntos, passamos então a pertencer ao novo grupo da classe do último ano da educação infantil, só que neste ano, o que parecia impossível na solitária e corrida vida de São Paulo aconteceu.

Hoje somos catorze mães que trocam muito mais do que informações sobre filhos e escola. Somos um grupo de amigas que parece se conhecer desde o jardim da infância. Essencialmente diferentes em suas histórias, idades, denominações religiosas, cultura, profissões, e tudo mais que se possa pensar, tornamo-nos irmãs de alma. Ajudamo-nos em questões corriqueiras e profundas. Marcamos programas semanais com e sem as crianças e maridos. Falamos sobre tudo: desde receita de suco verde até a nossa vida sexual.

A mim e às que também vieram de outros cantos, as paulistanas acolheram como jamais pensei. Rimos dos nossos sotaques, do medo de dirigir na marginal, da preguiça de malhar e dos cafés e cervejas que tomamos juntas. Confessamos nossas fraquezas, contamos umas às outras quanto deixamos nossos pequenos comerem salgadinhos de saquinho, chocolate e demais “porcaritos”.

Abrimos o jogo umas com as outras sobre as nossas imperfeições como mães, sobre os dias nos quais perdemos as estribeiras e sobre os nossos medos e culpas. Falamos sobre dinheiro, sobre a falta dele e sobre como lidar com isso.

Tomamos café toda semana, malhamos e bebemos juntas. Levamos os nossos filhos ao parque, ao boteco e onde mais pudermos. Falamos umas com as outras sem filtro, sem ressalvas e parece mesmo que estava escrito que nos encontraríamos. O nosso grupo bate a inacreditável marca de quase mil mensagens por dia enquanto trabalhamos, corremos para o mercado, enfrentamos o trânsito e todos os conhecidos turnos domésticos de quem é mãe.

O que houve conosco chama-se afeto e a melhor definição que posso dar sobre isso é que hoje eu tenho certeza que tenho com quem contar. Eu sei que se pegar no telefone em um momento de urgência e pedir socorro, alguém virá para me ajudar. Não me sinto sozinha em uma cidade como São Paulo para a qual vim ouvindo que seria muito difícil fazer novas amizades.

Não é difícil dar e receber afeto quando se sabe que precisamos dele mais do que qualquer coisa que nos hipnotiza nos nossos smartphones. Somos uma espécie que precisa de amigos, que precisa de amor e que pode encontra-lo em qualquer lugar, desde que se disponha a perceber os sinais que a natureza dá. O afeto pode estar em qualquer lugar, esperando apenas que você se abra para que ele possa entrar.

Viviane Battistella

Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...

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