Todo mundo sabe que nascemos e morremos sozinhos. Apesar das nossas vidas serem compostas por pessoas de diversos tipos, não necessariamente temos alguém. A vida é líquida e a grande sacada é que as coisas não são feitas para durar. Por mais que tenhamos essa ideia de que possuímos certas coisas, na verdade, o que temos, é aquele momento com alguém, aquela partícula de lembrança ou memória que você pode utilizar de modo construtivo ou não.

Relacionamentos interpessoais nunca foram fáceis. Guerras, famílias que se odeiam e continentes distantes são fichinha perto da solidão online que vivenciamos nos dias atuais. Parecer feliz na internet é mais importante do que estar feliz de fato. A sensação dessa ditadura que impõe relacionamentos forçados através de curtidas e comentários esvazia o real significado daquela foto ou momento que passou. Acabamos viajando, comendo ou comprando coisas para provar aos outros que estamos bem e se por acaso somos ignorados no modo online, nosso offline é quem recebe a conta.

Estar sozinho é diferente de estar só. Encare como uma escolha: estar sozinho é aquele momento em que prefere aproveitar a própria companhia assim como Amélie Poulain ou Tsukuru Tazaki. Já estar só é uma condição, algo que não necessariamente a pessoa deseje como o Edward Mãos de Tesoura ou Mary and Max. No fundo somos todos sozinhos, mas podemos decidir se queremos estar só ou não.

 

Apesar de nunca ninguém ter cravado isso em pedra damos muito valor ao amor romântico, aquele que Jetsunma Tenzin Palmo nos explica com uma simples frase: “Eu te amo, por isso eu quero que você me faça feliz”. O amor romântico é aquele que dói ao vermos conversas e mais conversas no Tártaro do nosso WhatsApp com pessoas que achávamos que poderiam suprir essa “falta” de alguém para amar e ser amado. Esse amor romântico é o que dói quando vemos um divórcio, ou uma traição, ou algo que mexa com nosso ego e que na verdade não pensa nenhum pouco na outra pessoa, e sim em nós mesmos.

As coisas são efêmeras, elas não são feitas para durar, ainda mais relacionamentos que precisam de duas pessoas para dar certo. Pessoas essas diferentes, com aspirações diferentes, com desejos diferentes. Complicado. Para a mestra o ideal é o amor genuíno, aquele que seguramos gentilmente, aquele que deixamos as coisas fluírem, aquele do “Eu te amo, por isso quero que você seja feliz”. Tudo na prática é mais difícil, realmente seria lindo se conseguíssemos ser tão evoluídos assim e todo mundo sabe que o ego, o ciúme e a posse saíram da caixinha de Pandora e hoje fazem parte do nosso dia a dia.

Mas a questão é que não é impossível, basta tentar e por em prática aos pouquinhos. Afinal estamos todos aprendendo. Estar só e se sentir só é uma questão de escolha. Não só porque temos parentes e amigos que nos amam, mas por podermos escolher como vamos encarar qualquer presença ou ausência de alguém nas nossas vidas. Se vamos segurar de leve e fazê-las voltar ou se vamos apertar e fazê-las fugir ou morrer.

Mas afinal, é melhor ficar sozinho? Para não sofrer, para não perder, para não chorar, para se poupar de todos os problemas que é gostar de alguém? Acho que não. Claro que existem casos e casos. Por exemplo, entre ter um relacionamento tóxico, que faz mal e que não acrescenta, sim, é melhor ficar sozinho. E às vezes precisamos por a cabeça no lugar, se curar, se conhecer melhor; nessas horas também é bom ficar sozinho. Mas se privar de viver certas coisas que a vida dá é só adiar a própria vida, pois ela é feita exatamente disso: de risos, de choros, de encontros e desencontros… Se arriscar e viver a vida recebendo tudo o que ela dá é uma ótima forma de, apesar saber que somos sozinhos, nunca nos sentirmos só.