Sobre relacionamentos tóxicos.

O vento invade a nossa sala e preenche o vazio do ambiente, vazio esse que você fez questão de instaurar… sinceramente, não sei qual é o seu objetivo.

Não consigo mais te olhar nos olhos sem sentir um tipo brando de repúdio, há uns cinco meses eu jamais pensaria em algo assim, estranho né? Por muito tempo você foi algo que eu desejei enquanto meus olhos se fechavam, mas agora que eu os abri sinto uma vontade esmagadora de sumir do seu radar.

Lógico que você não era assim antes, tudo se sucedeu lentamente. A cada dia você mostrava um pouco mais do seu “verdadeiro eu” e eu fingia que nada estava acontecendo, afinal, esperei (de maneira muito tola) que você melhorasse… o que não ocorreu.

Apago meu quinto cigarro seguido no cinzeiro ao lado da minha cadeira e te observo enquanto cozinha, seus olhos extremamente focados sequer capturaram qualquer movimento suspeito de mim. No final das contas, você me subestima demais e esse é o seu pior erro.

Vejo você manusear uma faca e por um momento imagino ela enfiada bem no meio das suas costas, seus ombros apoiados na pia… Você grita enquanto permaneço friamente inerte ao seu lado, contudo regresso à realidade após duas piscadelas.

Está vendo só o que me tornei? Deveriam colocar um adesivo de risco biológico (☣) no seu corpo para que as pessoas se mantivessem distantes. Eu realmente gostaria de evitar que o mundo de uma nova pessoa despencasse através das suas falas e atitudes tóxicas.

Após uns três copos de café você chega com o jantar e põe a mesa, definitivamente você deveria usar esse afinco e delicadeza no nosso relacionamento (tal como antes), o que aconteceu?

A intimidade é uma merda, não é mesmo? Cada dia que passa as máscaras vão sendo guardadas e uma face diferente fica exposta… eu contei cerca de uma dúzia de faces suas, existem outras? Eu não aguento mais.

A pior parte de tudo isso é que me apaixonei por você, cai nos seus gracejos e agora é meio tarde para voltar… ou será que não? Eu sempre espero o melhor de você, contudo, isso sumiu da sua essência, o vento levou só pra me sacanear e ao mesmo tempo para me acordar… a realidade machuca demais às vezes.

Acordar ao seu lado me deixa fraca, é como se todas as minhas energias fossem sugadas por você… me imagino como uma prisioneira num calabouço sem escapatória, contudo sei que posso te deixar para trás a qualquer momento.

E aí é que está o grande impasse, eu não quero te deixar… não porque eu sou masoquista e quero sofrer para sempre, mas porque eu sempre espero o melhor de você como ninguém.

Essa é a grande ironia que preenche os cantos vazios desse pequeno apartamento e, uma vez ou outra, até a esperança é suscetível a desvanecer dentro dos nossos corações.

Acho que estou de mãos dadas com o fim.