A vida é uma passagem. Ficar apegado a algum instante é nostalgia ou trauma.

O paraíso existe. Ele não está nos céus, nem no alto no Monte Olimpo. Nem posso dizer que ele está perto, porque dentro de si é um lugar que não é perto nem longe. Dentro é um lugar de todos, plenamente alcançável, com esforço, claro.

É um estado, uma atitude interna, uma atitude de nossa atenção. Se alguém estiver ansioso por um nome, Gilberto Gil já alardeou: “o melhor lugar do mundo é aqui e agora”. O paraíso é o presente. Ou seja, no presente não há sofrimento.

Vou tentar explicar essa afirmação grave. Primeiramente, estamos diferenciando dor de sofrimento.

Dor é inevitável – e saudável. A capacidade de senti-la de forma proporcional à sua causa é um sinal de saúde. Significa que as conexões nervosas funcionam bem e que os sistemas de autopreservação estão em dia.

A dor e sua iminência nos fazem colocar limites saudáveis, físicos, espaciais, psicológicos e sociais.

De toda forma, a interpretação psíquica da dor que experimentamos cotidianamente pode fazê-la evoluir para o sofrimento em vida.

O sofrimento, como costumo defini-lo, é um desejo; um desejo específico: o desejo constante de que a dor não seja dor.

Essa não-aceitação de uma realidade transporta a mente para lugares irrealistas fazendo com que percamos o domínio dela.

Acontece, portanto, o que todos conhecemos quando estamos focados em um problema (ou uma dor): pensamento obsessivos, intrusivos carregados de ansiedade ou ressentimento.

O que o presente tem a ver com isso? TODAS essas manifestações mentais do sofrimento estão fora do presente, ou do aqui e agora. Esses pensamentos obsessivos e intrusivos estão sempre tentando resolver um problema que já passou ou que supostamente acontecerá.

O presente é o lugar onde dominamos nossa mente e nossos gatilhos. É onde somos fortes e insuperáveis internamente, onde ninguém nem nada nos tira do equilíbrio.

Entretanto, é muito difícil resistir ali.

Nossa mente é uma máquina formidável que resgata constantemente nossas memórias a fim de nos proteger. Para evitar sentir novas dores – muitas deles insuportáveis pela interpretação que fizemos dela – , a mente se coloca constantemente em estado de alerta e fica pronta para tentar controlar o ambiente e evitar novos problemas.

Por isso ela é imparável e tem vida própria.

Nos entregamos às viagens mentais que nos levam ao passado, ao futuro e a outros lugares onde não estamos e isso faz com que percamos o domínio de uma de nossos principais faculdades: a de pensar. E assim a mente decide quando e o que quer pensar.

Ficar no presente é um exercício constante. Alguns chamam a isso de meditação.

É ter a atenção sempre sob domínio e trazê-la para o presente.

É decidir quando e de que forma aceitar distrações.

É dominar a própria interpretação dos acontecimentos.

É pensar no passado para aprender e no futuro para planejar sempre sob decisão e controle internos.

É ter presença diante do outro sem domínio da própria presença.

É ter firmeza interna diante do caos mental.

O agora está sempre destinado a ser superado, como diria o filósofo dinamarquês, Kierkegaard. O presente é sempre um instante. É o infinito que se apresenta, constante e infalivelmente.

A vida é uma passagem. Ficar apegado a algum instante é nostalgia ou trauma.

Qual sofrimento você tem nesse exato momento? Se você pensou em algo, tenho certeza que saiu do momento ou do lugar em que você está.

*DA REDAÇÃO RH. Foto de Caleb Lucas na Unsplash

VOCÊ JÁ VISITOU O INSTAGRAM E O FACEBOOK DO RESILIÊNCIA HUMANA?

SE TORNE CADA DIA MAIS RESILIENTE E DESENVOLVA A CAPACIDADE DE SOBREPOR-SE POSITIVAMENTE FRENTE AS ADVERSIDADES DA VIDA.








Professor de Yoga, RYT 200 em Yoga Alliance, foi professor na Universidade de Brasília, idealizador do Movimento Ahimsa e dedica-se a estudar o ser humano. Investiga com profundidade filosofias orientais e ocidentais, religião, meditação, psicanálise, história, antropologia e outras disciplinas. Titulou-se mestre em sociologia pela Universidade de Chicago onde estudou o desenvolvimento de religiões ditas "heterodoxas" no Brasil, é pesquisador do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito - CPAH e membro da sociedade de alto QI Mensa.