Por Adriana Dorazi em entrevista concedida a Tribuna

Augusto Cury é um dos escritores mais populares do Brasil. Seus livros são publi­cados em mais de 70 países e já venderam mais de 25 mi­lhões de exemplares somente no País. Médico psiquiatra, o especialista também tra­balha como psicoterapeuta, pesquisador e coaching.
Pós-graduado no Centre Medical Marmottan – Paris/França, na Espanha e na PUC de São Paulo, ao longo de 30 anos de carreira o médico al­cançou o reconhecimento in­ternacional, tornando-se o au­tor mais lido da última década. Recebeu o prêmio de melhor ficção da Academia Chinesa de Literatura, pelo livro – O Ven­dedor de Sonhos – que ainda em 2016 será lançado como fil­me nos cinemas.

Um dos temas mais tra­balhados pelo escritor é a an­siedade. “As pessoas recebem bombardeios de informações diariamente e ficam sufoca­das com excesso de atividades que criam diversos estímulos estressantes que causam a an­siedade. Reverter esse quadro é possível. O primeiro passo é reconhecer que é preciso ad­quirir habilidades socioemo­cionais para saber lidar com as situações cotidianas e filtrar os estímulos estressantes para ter qualidade de vida”, afirma.

Depois de estudar o perfil psicológico de alguns pensa­dores como Nietzsche, Freud e Einstein, o escritor decidiu investigar a inteligência da­quele que dividiu a história: Jesus Cristo. “Estudar os enig­mas da mente de Jesus Cristo foi e ainda é, para mim, um projeto espetacular. Jesus foi o personagem mais complexo e enigmático que transitou neste misterioso teatro existencial e sua inteligência é exemplo para todos nós”, detalha.

Nesta entrevista exclusi­va ao Tribuna, Cury – autor da Teoria Inteligência Multi­focal – analisa o processo de construção dos pensamentos e dá dicas de como as pessoas podem controlar as emoções para ter uma vida melhor. Idealizador do programa da Escola da Inteligência, o mé­dico frisa que atua na área da educação com o objetivo de contribuir no desenvolvimen­to da inteligência socioemo­cional de crianças, adolescen­tes, adultos e empresas, além de promover cursos voltados ao desenvolvimento humano.

Tribuna – Como a sua te­oria da inteligência multifo­cal pode ajudar as pessoas a terem mais sucesso pro­fissional e mais felicidade na vida pessoal?

Augusto Cury – Dediquei cerca de 30 anos de minha vida aos estudos do funcio­namento da mente humana, esse misterioso universo que a cada dia que passa vai se tornando mais complexo e, ao mesmo tempo, mais ins­tigante para mim. Fico mui­to feliz ao constatar que os anos dedicados aos meus estudos não foram em vão e renderam frutos. A Teoria da Inteligência Multifocal tem auxiliado as pessoas a conhecer a própria mente, a ter um encontro definitivo com o próprio Eu. A felici­dade vem daí, do autoge­renciamento de suas emo­ções. A partir do momento em que elas tomam conhe­cimento de como a mente funciona, saber o que desen­cadeia pensamentos negati­vos e emoções não saudáveis, faz com que haja uma toma­da de atitude para reverter essa situação. Consequente­mente, é mais fácil levar uma vida mais leve e saudável.

Tribuna – O senhor afirma que nunca se viu uma socie­dade tão acelerada, marcada pela ansiedade e estresse. Como é possível reverter esse quadro? As crianças e jovens também vivenciam essa re­alidade?

Augusto Cury – Trato desse assunto em meus dois livros sobre ansiedade. Fiz esses livros com o intui­to de ajudar as pessoas que sofrem da Síndrome do Pen­samento Acelerado (SPA), principalmente porque elas fazem parte de 80% da po­pulação mundial de todas as idades e todas as classes sociais. É a síndrome mais democrática que se tem co­nhecimento. Ninguém está livre de contraí-la, nem as crianças e nem os idosos. O número é extremamente alto e isso é muito preocu­pante. As pessoas recebem bombardeios de informa­ções diariamente e ficam su­focadas com excesso de ati­vidades que criam diversos estímulos estressantes que causam a ansiedade.

Rever­ter esse quadro é possível. O primeiro passo é reconhecer que é preciso adquirir habili­dades socioemocionais para saber lidar com as situações cotidianas e filtrar os estí­mulos estressantes para ter qualidade de vida. O passo seguinte é se munir dessas habilidades e tomar as réde­as da própria vida, aprender a gerenciar suas emoções para que a inteligência emo­cional se sobressaia diante dos problemas. Isso é ser principal ator (ou atriz) no te­atro da sua história.

Tribuna – Como foi para um psiquiatra escrever uma série de livros sobre Jesus Cristo? Há lições deixadas por Ele que se ajustam na psicoterapia moderna?

Augusto Cury – Após de­senvolver os pressupostos básicos dessa teoria, en­volvi-me em uma das mais desafiadoras pesquisas psi­cológicas: descobrir por que algumas pessoas romperam o cárcere do tédio, incendia­ram a arte de pensar e ex­pandiram a própria inteligên­cia. Depois de estudar o perfil psicológico de alguns pensa­dores como Nietzsche, Freud e Einstein, resolvi investigar a inteligência daquele que dividiu a história: Jesus Cris­to. Estudar os enigmas da mente de Jesus Cristo foi e ainda é, para mim, um pro­jeto espetacular. Jesus foi o personagem mais complexo e enigmático que transitou neste misterioso teatro exis­tencial e sua inteligência é exemplo para todos nós.

Tribuna – Com livros publi­cados em mais de 70 países, o senhor indicaria um ou dois mais importantes? Qual será o seu próximo lançamento?

Augusto Cury – É difícil escolher um só, pois todos os livros são como filhos, tenho um carinho especial por cada um deles. Mas, quem quer saber um pouco mais sobre a Teoria da Inteligência Mul­tifocal, eu recomendo os dois livros sobre Ansiedade, pois se trata do mal do século. Neles, eu ensino como é pos­sível gerenciar as emoções e driblar as armadilhas da mente para ter sucesso na vida pessoal e profissional.

Tribuna – O que o senhor chama de ”armadilhas da mente”? Como fugir delas? Há tratamentos nos quais seria dispensável o uso de medicamentos?

Augusto Cury – Existem quatro armadilhas da men­te que bloqueiam o processo de desenvolvimento e au­tonomia do Eu: o Coitadis­mo, Conformismo, o Medo de Reconhecer Erros e o Medo de Correr Riscos. Os próprios nomes se autoex­plicam e impedem a supe­ração e incentivam a arte de ter compaixão de si mesmo e as fraquezas humanas. É possível, sim, fugir delas sem medicamentos. O me­lhor remédio para driblar as armadilhas da mente é usar uma técnica que explico em meus livros, que se chama D.C.D., que significa Duvidar de todo pensamento nega­tivo, Criticar cada estímulo estressante e Determinar a mudança de atitude para as­sumir o controle da mente e escapar dessas armadilhas aprisionadoras.

Tribuna – Como o senhor elabora cada palestra, para cada tipo de público? De modo geral, as pessoas es­tão interessadas em cuidar das emoções?

Augusto Cury – Minhas palestras são para o públi­co de 7 a 70 anos e todos estão muito interessados em aprender a gerenciar as próprias emoções. Pois pode parecer fácil a princípio, mas não é. Ter controle das pró­prias emoções exige tem­po, paciência, técnica e uma dose maior de determinação.

Tribuna – O que o deixa mais feliz e realizado? Pes­quisar e escrever sobre a mente humana também o transformou?

Augusto Cury – Sou médi­co e psiquiatra de formação e pesquisador e escritor por vocação. Portanto, o que me faz mais feliz, além de estar com a minha linda e har­moniosa família, é escrever e ajudar tantas pessoas a encontrar seu próprio Eu e a ter o controle do planeta emoção. Quando se encon­tra o equilíbrio dentro da sua própria mente, qual­quer problema pode ser re­solvido. Se não dá para fugir da tempestade, então que aprendamos a remar.

Nove hábitos de pessoas com alta inteligência emocional

São constantemente positivas: concentram sua energia em direcionar duas coisas que estão comple­tamente sob seu poder – sua atenção e seu esforço.

Possuem vocabulário emocional robusto: ape­nas 36% das pessoas conseguem identificar as emoções, o que é um problema, pois as emoções não rotuladas podem ser interpretadas, o que leva a escolhas irracionais e ações prejudiciais.

São assertivas: pessoas com alta inteligência emocional possuem equilíbrio entre boas maneiras, empatia e gentileza, com habilidade para se afirmar estabelecer limites.

São curiosas sobre outras pessoas: não impor­ta se elas são introvertidas ou extrovertidas, pesso­as inteligentes emocionalmente são curiosas sobre todos ao seu redor.

Perdoam, mas elas não esquecem: pessoas emocionalmente inteligentes vivem pelo dilema “Engane-me uma vez, o tolo é você; engane-me duas vezes, o tolo sou eu”. Elas perdoam para evitar guardar rancor, mas elas nunca esquecem.

Não deixam ninguém limitar sua alegria: quan­do o sentimento de prazer e satisfação se deriva de comparações com os outros, você não é mais o mestre de sua felicidade. Quando pessoas emocio­nalmente inteligentes se sentem bem com algo que fizeram, elas não deixam que a opinião ou conquista de ninguém tire esse sentimento delas.

Tornam as coisas divertidas: pessoas emocio­nalmente inteligentes sabem exatamente o que as fazem felizes, e elas trabalham constantemente para trazer essa felicidade para tudo que fazem.

São difíceis de serem ofendidas: se você tiver uma compreensão concreta de quem você é, é difícil que alguém diga ou faça algo que lhe provoque. Pes­soas emocionalmente inteligentes são autoconfian­tes e cabeça aberta, o que cria uma pele bem grossa.

Anulam reflexões negativas: um grande pas­so em desenvolver inteligência emocional envolve parar de ter um diálogo consigo negativo durante o caminho. Quanto mais você medita sobre pensa­mentos negativos, mais poder você dá a eles.