Fim de tarde de uma sexta-feira, um colega de profissão, em pé, ao meu lado, olha de cima para baixo, para mim e afirma: _ “Eu gosto quando você está sem salto! ”.

_ “Por que? ”, perguntei surpresa.

_ “Não sei, acho que você dá menos medo assim”.

O colega é um daqueles raros homens, que apesar de me achar atraente, respeita o compromisso que tem em casa e jamais me olha com segundas intenções. Seus elogios são sempre sinceros. E mesmo que sejam de ordem masculina, sempre chegaram sem pretensões.

Eu ri de sua afirmação e ele mesmo riu. Entrei no carro que me esperava e fui embora, refletindo aquela frase que senti como um elogio.

Mais do que um cumprimento por não precisar andar de salto alto para parecer bonita, senti como um elogio ainda maior a fraqueza de um homem, ao mostrar de forma tão transparente e madura, a maneira como se sente em relação a mim.

Que muitos homens sentem medo, não me resta dúvidas. E não apenas em relação a mim, mas a várias de minhas amigas, conhecidas e tantas outras que estão aí, tomando as rédeas de suas próprias vidas.

Quantas de nós cuidamos sozinhas de nossas casas, filhos, somos provedoras e ainda encontramos tempo para cuidar de nós mesmas? Algumas fazem ginástica, outras fazem plástica. Outras se enfeitam com as melhores roupas e saltos, e outras ainda se vestem de alegria e energia estonteante. Mas todas chamamos atenção pela força interior que adquirimos no tempo de nossa geração.

Fomos criadas, para talvez nos casarmos, mas acima de tudo, desde cedo, entendemos que deveríamos sim ter estudado e tomado o caminho de uma profissão. Com homens ou não, desde a tempos, percebemos que havia algo especial em sermos independentes. O que poderia vir da necessidade financeira, familiar ou emocional. Casamento podia enfim ser algo a ser feito por opção.

Acho uma pena que tantos homens temam as mulheres como eu e que tantas de nós estejam sozinhas. Ainda que seja por opção, bem sabemos que parte disso ocorre por que poucos são os homens que possuem a coragem de olhar para o medo que carregam e então compreendem a própria admiração e temor, frente a uma mulher dessa geração.

Bom será quando mais homens alcançarem o nível de meu colega, que dentre tantas qualidades, sabe enxergar uma mulher por trás de sua aparência. Sabe dizer o que pensa e o que sente. Sabe elogiar sem passar dos limites e sem buscar algo em troca.

Com o passar dos anos, entendi que existem vários tipos de homens. Os que nos olham somente por fora, os que nos veem praticamente nuas, mesmo que estejamos vestidas da cabeça aos pés, os que nos enxergam por fora e um pouco por dentro. E os raros, que nos enxergam de dentro para fora.

Somos uma maravilhosa geração de mulheres, com uma quantidade enorme de outras mulheres que vieram antes, lutando para conquistar tudo o que podemos vivenciar agora. E ainda que hajam muitas lutas mais a serem realizadas, hoje, parece que nos tornamos muito mais, do que a maioria dos homens estava preparada para lidar.

Sabemos cuidar da casa, mas também somos capazes de direcionar uma empresa. Podemos cuidar dos filhos, ao mesmo tempo que nos tornamos artistas. Podemos esperar um grande amor, mas também sabemos correr atrás de um, se assim sentimos vontade. Além de nos sentirmos muito bem sozinhas. Entendemos finalmente o significado da frase “antes só do que mal acompanhada”.

Parece que nos tornamos, neste momento, grandes e fortes demais para o sexo oposto.

Que os homens da geração de hoje, e principalmente da seguinte, possam alcançar um novo crescimento para acompanhar essas mulheres incríveis que estão aí.

Com salto ou não, aprendemos a ser e a nos sentir bonitas, competentes, alegres e muito mais.

Nos vestimos, como for, por fora. Mas por dentro, a força que temos, não se esconde em nenhuma sapatilha velha e nem mesmo em um chinelinho de dedos.








Brasileira, 41 anos, formada em Tecnologia em Processamento de Dados, pós-graduada em Gestão Estratégica de Pessoas. Atua numa multinacional na área administrativa como profissão. Escritora, colunista e roteirista por paixão. Poliglota. Autora de doze livros publicados de forma independente pelo Amazon, além de quatro roteiros para filme registrados na Biblioteca Nacional. Colunista no próprio site www.carolinavilanova.com e vários outros. Youtuber no canal Carolina Vila Nova, que tem como objetivo divulgar e falar sobre as matérias do próprio site.