Nos últimos anos, como o avanço da tecnologia, é comum ver crianças pequenas utilizando tablets ou celulares para se entreterem. No entanto, o uso excessivo de telas tem chamado a atenção de pais, educadores e profissionais de saúde.

Entre as principais preocupações está o surgimento de sintomas comportamentais que se assemelham ao autismo — como dificuldade de interação, atraso na fala e comportamentos repetitivos.

Mas será que o uso prolongado de celulares, tablets e televisores pode realmente afetar tanto o desenvolvimento infantil?

O que dizem os especialistas

De acordo com os especialistas, o uso de telas não causam autismo. Contudo, podem provocar alterações comportamentais que imitam o transtorno, especialmente em crianças muito pequenas e em fase crucial de desenvolvimento.

O neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que o excesso de estímulos visuais e sonoros pode impactar diretamente a forma como a criança se relaciona com o mundo.

“Vemos crianças que deixam de olhar nos olhos, não respondem quando são chamadas, imitam frases de vídeos e demonstram comportamentos repetitivos”, afirma.

Esses sintomas, embora alarmantes, tendem a regredir quando a exposição às telas é reduzida ou completamente cortada.

O caso de Breno: Uma mudança radical após cortar as telas

A médica Nadia Peres viveu isso na prática com seu filho Breno, de 3 anos. Após notar comportamentos como isolamento, agressividade e dificuldade de socialização, ela procurou ajuda especializada. A recomendação? Reduzir drasticamente o tempo de tela.

Em apenas duas semanas sem telas, Breno apresentou uma melhora significativa: passou a interagir mais, teve menos crises de birra, melhorou a alimentação e voltou a dormir melhor.

Casos semelhantes têm se multiplicado nas redes sociais, com pais relatando mudanças rápidas e positivas no comportamento dos filhos após o corte de aparelhos eletrônicos.

“Autismo virtual”: Um novo termo em debate

Pesquisadores europeus já batizaram esse fenômeno de “autismo virtual” ou “síndrome da superexposição à mídia”. Embora esses termos ainda não façam parte dos manuais médicos oficiais, muitos especialistas já reconhecem que existe, sim, um padrão preocupante de sintomas ligados ao uso precoce e prolongado de telas.

Entre os sinais mais comuns estão:

  • Atraso na fala
  • Falta de contato visual
  • Isolamento social
  • Irritabilidade excessiva
  • Dificuldade de concentração
  • Repetição de frases ou sons de vídeos

O impacto da dopamina e do vício digital

Segundo a neurocientista Mayra Gaiato, o problema vai além do conteúdo: o excesso de dopamina liberada durante o uso de telas pode causar uma espécie de “vício”. Dessa maneira, levando a criança a rejeitar outros tipos de estímulo, como brinquedos, livros ou interações reais.

“Mesmo desenhos educativos podem ser altamente excitantes para o cérebro imaturo, tornando atividades simples menos atrativas e atrasando o desenvolvimento”, explica a especialista.

Qual é o tempo de tela recomendado por idade?

Diversas instituições de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Academia Americana de Pediatria (AAP), já estabeleceram limites claros para o uso de telas:

  • 0 a 18 meses: evitar qualquer tipo de tela, com exceção de videochamadas com supervisão.
  • 18 a 24 meses: introdução gradual, sempre com conteúdo de qualidade e interação dos pais.
  • 2 a 5 anos: até 1 hora por dia, com supervisão.
  • A partir dos 6 anos: criar uma rotina equilibrada, com tempo limitado e regras claras.

Como reduzir o uso de telas de forma saudável?

A mudança não é simples — mas é possível. Veja algumas dicas práticas:

  • Dê o exemplo: crianças aprendem observando os adultos. Limite também o seu próprio uso de telas.
  • Crie uma rotina estruturada: estabeleça horários para refeições, brincadeiras, banho e sono.
  • Ofereça alternativas: jogos de tabuleiro, massinha, desenhos, leitura e passeios ao ar livre são ótimas opções.
  • Use a TV com sabedoria: prefira conteúdos com início, meio e fim, e assista junto com a criança para conversar sobre o que foi visto.
  • Evite celulares e tablets controlados pela criança: o uso interativo e sem limites aumenta o risco de vício e comportamento compulsivo.

Quando buscar ajuda profissional?

Se, mesmo com a redução do tempo de tela, a criança continuar apresentando comportamentos atípicos, é importante buscar a avaliação de um neuropediatra, psicólogo infantil ou fonoaudiólogo.

Um diagnóstico precoce é fundamental para garantir o melhor desenvolvimento possível.

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