Tanto reclamei do nosso presente…

Quando ainda éramos nós, eu te cobrei muito. Cobrei presença, cobrei postura, cobrei atitudes que descobri no fim que não te cabiam.

Essa minha mania de cobrar perfeição de quem está ao meu redor me fez te perder.

E depois que te perdi, percebi o quanto te amava.

Sadismo da vida. É sempre assim. É preciso ver alguém pelas costas pra saber o quanto valia ter o olhar no olhar.

Meu castigo é ainda maior do que tu poderias imaginar. Enquanto tu viras a página com firmeza, eu fico preso ao nosso passado, como alguém que lê dez vezes a mesma página e não consegue entender.

Enquanto tu vestes uma nova história feliz, eu sigo trôpego e maltrapilho com os trajes que me fazem lembrar de ti.

Enquanto tu guardas com carinho as belezas da nossa relação, eu preparo teu prato preferido na lamentável tentativa de diminuir a tua falta. Um jantar solitário que suplica por companhia.

Tudo em vão.

Enquanto tu vives de realidade, eu vivo de lembranças. E talvez seja essa a pior das condições. Uma lembrança nunca será real. Estou preso a situações que já se foram junto contigo.

O sorriso amarelo que tu me entregas na fila do supermercado é uma míngua do que já tive. É um lembrete firme e doloroso de que, de tudo, só sobrou isso.

Um sorriso amarelo da boca de quem podia dizer tudo sobre mim.

Eu era a pessoa mais próxima de ti. Agora sou um estranho.

Tu eras uma pessoa estranha pra mim. Agora, nunca senti tanta vontade de estar próximo.

Minhas contradições te enlouqueceram, as paranoias te afastaram, a instabilidade te levou ao limite. Eu sei.

Termino meu relato desejando do fundo do meu coração que seja feliz como um dia me fez sem que eu percebesse. Na dor, eu consegui enxergar tudo.

Ao fazer votos de felicidade, peço apenas que, por um instante, retribua o desejo com um simples pensamento a meu respeito:

“- Tomara que ele consiga seguir em frente.”

Não te peço orações nem compaixão.

Peço apenas que peça por aquilo que eu já cansei de clamar.