Confesso, escolhi esse título clichê com as seguintes intenções: apresentar o tema do texto, estimular a sua curiosidade e demonstrar o quanto somos “fisgados” por táticas de marketing que se aproveitam da nossa falta de autoconhecimento. Portanto, não, você não encontrará nenhuma “lista com X motivos para Y”.

Muita coisa nos impede de fazer psicoterapia, entre elas a ideia de que é “coisa de louco” ou só serve pra quem está sofrendo muito. Para quem nunca fez, pode ser difícil reconhecer que, na verdade, é indicada para qualquer um. Afinal, “pessoas normais” também se sentem confusas, ansiosas, estressadas e incomodadas por questões de relacionamento — ou não? Para fazer terapia, basta ser humano.

Há também uma certa desconfiança por se tratar de uma situação nova (estranha): ficar a sós com alguém totalmente desconhecido para falar sobre nossas questões mais íntimas. Não seria mais fácil conversar com um amigo? Talvez. Uma coisa substitui a outra? Não. De qualquer modo, é importante esclarecer dois pontos: primeiro, amigos não são treinados para ouvir e, portanto, tendem a te interromper ou não prestar atenção; segundo, é mais fácil falar francamente, sem qualquer receio, com alguém que não sabe nada sobre você e não tem nenhuma expectativa.

Além do mais, psicólogos jamais vão te julgar, pois enxergam o ser humano de uma forma muito mais abrangente. Eles sabem o quanto somos complexos e diferentes, especialmente em questões mais íntimas, como sexo e ansiedade. Após anos de estudo para entender a mente, o psicólogo não se assusta com o que sentimos, falamos ou fazemos, pelo contrário, o incomum desperta sua curiosidade e motivação — afinal, é por isso que se tornou psicólogo. Em resumo, o psicólogo se interessa pela saúde mental.

Isso tem um custo, é claro, em média proporcional ao que gastamos pra nos divertir. Mas preço é algo subjetivo e, portanto, depende muito do valor que atribuímos às coisas. A psicoterapia se torna valiosa à medida que revela o quanto nossos conflitos são frutos da falta de consciência sobre conteúdos da nossa própria mente: desejos, anseios, medos e os motivos que nos levam a fazer o que fazemos, especialmente quando tomados por um determinado sentimento.

O objetivo da terapia é o autoconhecimento adquirido num tipo especial de conversa, uma em que se fala bastante para alguém que não só ouve atentamente, mas também intervém de maneira apropriada no momento oportuno. Empatia é uma qualidade fundamental dos bons psicólogos, descrita por Chuang-Tzu da seguinte forma:

“O ouvir que se limita aos ouvidos é um. O ouvir da compreensão é outro. Mas o ouvir da alma não se limita a nenhum sentido ou capacidade, seja audição ou pensamento. Portanto, requer o esvaziamento de todas as capacidades. Quando esvaziamos nossas percepções e sentidos, passamos a ouvir de corpo inteiro. Então alcançamos algo que estava ali, diante de nós o tempo todo, mas que nunca seria captado pelos ouvidos ou compreendido pela mente.”

Ao longo das sessões, descobrimos muito sobre nós mesmos e passamos a reconhecer alguns padrões: um jeito peculiar de lidar com relacionamentos ou fracassos, aquele ciúmes incontrolável e persistente, uma briga com seus pais ou irmãos que terminou em rancor ou aversão. Falar sobre os próprios conflitos significa utilizá-los como matéria-prima para a construção de uma relação mais harmoniosa consigo mesmo e com os outros; significa reconhecer nosso “lado negro” e nos tornarmos íntimos de nós mesmos; significa aceitar a si mesmo por inteiro e, assim, deixar de viver no “piloto automático”.

Viver plenamente de acordo com os próprios valores, tendo consciência de si mesmo e suas relações, não é algo instintivo. Não nascemos sabendo e tampouco somos encorajados a aprender — especialmente numa época em que o apelo às emoções e sentimentos é a alma do negócio. Daí a importância da psicoterapia como processo de aprendizagem e aperfeiçoamento dessa habilidade que chamamos de “viver plenamente”.

Procurar terapia não é sinal de desequilíbrio ou doença, na verdade, é o primeiro sintoma de lucidez em direção a um compromisso maduro em prol da saúde mental.