E pensar que, por muito tempo, eu achei que estava sozinha nesse barco. Que nada, com certeza existem mais pessoas frustradas do que podemos imaginar.

Eu, por muito tempo, também cultivei diversas frustrações, e não estou isenta delas hoje em dia. Aliás, nenhum de nós está. O que acontece (ou deveria acontecer) é que, a cada novo caminho que decidimos trilhar, chegamos um pouquinho mais perto do que almejamos para nós mesmos.

Quando, lá na faculdade, eu comecei a me incomodar com algumas coisas no mundo publicitário no qual estava inserida, pouco entendia a raiz de todas as minhas questões. Hoje, anos depois, já consigo enxergar toda a minha trajetória de outra maneira.

Pensando nisso, escrevo este artigo com o intuito de (tentar) ajudar quem está passando por muitas frustrações profissionais, mas não sabe nem por onde começar a busca de um caminho mais significativo.

Como normalmente faço quando escrevo sobre vida profissional, tudo o que vou indicar aqui é baseado nas minhas experiências, e não acredito que haja uma fórmula mágica e única a seguir.

Para começar, acredito que existam algumas perguntas que podem guiar esse processo e vou passar por todas elas a seguir.

1. Você gosta da empresa na qual trabalha?

Antes de se questionar sobre qualquer coisa, pare e pense sobre o lugar para o qual você vai todos os dias. Você se sente bem nesse ambiente? Ele se conecta com você de alguma forma? Ou você vai para lá no piloto automático e aceita tudo porque acredita que não existam lugares melhores ou diferentes?

Uma das causas-raízes da sua insatisfação pode ser o lugar no qual você está inserido. A cultura e os valores da empresa podem estar desalinhados em relação aos seus, o que gera enorme frustração. Pode até ser que você goste do que faz e das pessoas com as quais trabalha, mas se a questão é a empresa, é preciso repensar se há espaço para sugerir mudanças ou se não há luz no fim do túnel.

É importante se lembrar de que hoje em dia os formatos de empresa mudaram muito, existem desde as mais tradicionais até aquelas que são menos hierárquicas e adotam a informalidade. As chances de encontrar alguma que faça sentido para você é bem grande.

2. Você tem perspectivas de crescimento?

Se você gosta da empresa, do que faz e das pessoas ao seu redor, talvez a desmotivação venha da falta de perspectiva de crescimento ou da ausência de reconhecimento.

Muitos funcionários perdem o brilho nos olhos porque os desafios acabam e ficam presos a uma rotina sem novidades, o que consequentemente diminui as perspectivas de crescimento. Em outros casos, sentem que não recebem o devido reconhecimento, outro fator essencial para manter a sua motivação.

Se a sua frustração estiver ligada a alguma dessas duas coisas, o problema pode ter solução. O primeiro passo é conversar com o seu gestor para expor como você está se sentindo e alinhar novas maneiras de trazer motivação para o seu dia a dia.

Exponha a sua vontade de traçar um plano de carreira e argumente sobre os momentos em que sentiu que deveria ter sido reconhecido e não foi. Muitas empresas não possuem feedbacks e promoções estruturados, o que faz com que os funcionários se sintam invisíveis.

3. Você gosta da atividade que exerce?

Quando a gente gosta do faz, a gente sabe. Não tem jeito. Por muito tempo, tapei o Sol com a peneira, tentando acreditar na mentira de que eu adorava trabalhar com marketing e o único problema eram as agências de publicidade.

Que nada. Você pode mudar o endereço quantas vezes quiser, mas se a atividade que executa todos os dias não for minimamente prazerosa, a sua vida se tornará um inferno.

Existe coisa mais chata do que acordar todos os dias e fazer algo que não desperta alegria dentro de você? Esse é o grande problema de muita gente: como descobrir o que você gosta de fazer? Mais difícil ainda é saber conciliar o que você gosta com dinheiro.

Por muito tempo, eu só sabia que gostava de escrever. Era isso. Não fazia a mínima ideia de como ganhar dinheiro com a escrita. Demorei anos para ter clareza de que existiam outros caminhos além da literatura.

O sonho grande continua sendo viver de livros mas, enquanto isso não acontece, a gente dá outro jeito, né? Foi assim que entendi que era possível ganhar dinheiro escrevendo conteúdo para web.

Se você está perdido ou em dúvida sobre o que gosta de fazer, recomendo cursos de autoconhecimento, terapia e livros que possam ajudar nesse âmbito. O mais importante é não se pressionar, pois o processo não é simples. Mesmo assim, nunca deixe de buscar aquilo que acende uma faísca dentro de você e traz motivação para os seus dias.

4. Você se dá bem com o seu gestor e com o time?

Um gestor ruim pode ser nocivo e desmotivador para uma equipe inteira. O problema é que, quando temos um chefe ruim, é muito fácil transmitir esse problema para a empresa inteira ou para a atividade que se exerce. O mesmo acontece quando você não se dá bem com seus pares. Saiba separar as coisas. Problemas com o seu chefe ou pares não significam que a empresa na qual você está seja horrível. Assim que detectar esse ponto como a causa-raiz das suas insatisfações, busque soluções.

A primeira e mais óbvia é tentar conversar com os indivíduos envolvidos sobre o que não está indo tão bem, esclarecendo seus pontos e buscando uma solução boa para ambos os lados. Caso isso não funcione ou não seja uma alternativa, tente falar com alguém da área de recursos humanos, por exemplo.

Por fim, mudar de área pode ser uma boa alternativa, caso você goste bastante da empresa e ainda tenha desejo de permanecer nela.

5. Você gosta do formato de trabalho no qual está inserido?

Essa pergunta é muito importante, mas muita gente não pensa muito nela. Por experiência própria, posso dizer que, durante anos, eu não gostava do regime celetista (CLT) nem me dava conta disso.

É esquisito dizer isso agora que tudo está tão claro, mas a realidade é que, às vezes, as insatisfações estão lá, mas não conseguimos desvendá-las. Por muito tempo, eu achei que o problema era o tipo de empresa na qual eu estava, mas o buraco era muito mais fundo.

Só com o tempo e a maturidade percebi que ir todos os dias para o escritório e ficar mais de duas horas por dia no trânsito me fazia muito infeliz. Esse estilo de vida aliado à atividade que eu exercia eram a receita completa da frustração.

Eu passava mais de dez horas do meu dia em função de algo que não era a escrita, presa em um escritório climatizado, vendo o dia passar. Acho uma loucura quando digo tudo isso e me lembro de que há pouquíssimo tempo estava inserida nessa rotina. Nem me recordo muito bem como era entrar naquele ambiente, sentar na cadeira e ficar cumprindo ordens o dia todo.

Bom, vale ressaltar também que, por mais que seja muito comum falarmos desse movimento, pode ocorrer o inverso: ser freela e sentir necessidade de voltar para o CLT.

Enfim, tudo isso para dizer que, muitas vezes, o problema está aí, mas você vai demorar um pouco para enxergá-lo. É preciso paciência, e espero que esse artigo ajude a abrir os seus olhos e, quem sabe, antecipar todo o processo para que você escolha caminhos mais significativos o quanto antes.

Faça as perguntas certas e procure ajuda, quando precisar

O processo não é simples e exige muito autoconhecimento. Essas perguntas podem ajudar a guiar o processo, mas as respostas não virão facilmente. Não existe fórmula mágica que, de um dia para o outro, lhe fará enxergar tudo que estava nebuloso. É preciso errar e levar uns tombos antes de chegar lá, isso faz parte. As respostas dão o ar da graça após muitas reflexões e conversas (com você mesmo e com os outros).

As perguntas listadas acima são o início do caminho e propõem uma reflexão para você continuar trilhando as suas buscas. Além de pensar bastante em quem você é e o que quer para si mesmo, é importante buscar ajuda em alguns momentos.

Entenda ajuda como terapia, conselho de um amigo, ex-chefe ou familiar. Tudo vale! Às vezes, ao colocar para fora as nossas angústias e dúvidas, fica mais fácil enxergar novos caminhos. Converse também com pessoas de áreas do seu interesse, com mais bagagem profissional ou que estão vivendo de uma forma que você gostaria de entender como é. Nessas horas, networking é tudo – conexões pelo Linkedin ou amigos de amigos são muito bem-vindas!

A mensagem mais sincera que desejo passar, se você estiver se sentindo encurralado, é que existem outros caminhos.

Mesmo quando você não enxergar e tudo parecer ir contra a sua felicidade, persista um pouco mais que a recompensa vem, eu garanto.

Falo isso tranquilamente e com toda a certeza do mundo porque passei exatamente por essas frustrações e, neste exato momento, escrevo sentada em minha cama, às 15h45, pronta para finalizar o texto e aproveitar o restante do meu dia da forma que hoje faz mais sentido para a minha felicidade.








Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.