Sobre a gratidão (ou sobre os pequenos milagres de cada dia)

Estava numa semana toda particularmente difícil. Questões emocionais-afetivas complicadas tirando meu prumo e abalando as minhas estruturas, roendo as bases do resquício de auto-amor construído, ansiedade corroendo minha sanidade.

Aquele tipo de semana que a gente não quer nem lembrar que teve. Que sente um buraco negro sugando toda e qualquer energia boa e transformando em vazio.

Mas eu não vim falar de desgraças. Eu vim falar sobre os pequenos (grandes) milagres que acontecem em meio ao breu. Sim, milagre, que etimologicamente vem do latim “miraculum”, objeto de maravilhamento. Aqueles pequenos instantes surpreendentemente incríveis que te salvam e que, realmente, te causam um arrebatamento, um misto de incredulidade com comoção.

No meio dessa semana turbulenta, pude notar essa fascinação de perceber como a gente deve ser grato. O universo/deus/o acaso (ou preencha aqui o que lhe fizer sentido), tem momentos de manifestar sua graça de forma muito singela, mas que muitas vezes ignoramos, vemos como insignificantes e passam desapercebidos.

Num desses dias, no auge da crise, as melhores mensagens de encorajamento da sua grande amiga que sequer sabia direito pelo que você estava passando; a professora de canto que te coloca as coisas em perspectiva e te relembra como o progresso tem vindo em tantos aspectos da sua vida; o ambiente leve e cheio de acolhimento do seu trabalho que te injeta ânimo; a amiga que te chama inesperadamente pra jantar no meio da semana e acalenta sua alma com risadas e carinho, a compreensão singela dos conselhos da sua mãe; uma mensagem de uma cliente que transmite de volta pra você todo o amor que você colocou no seu trabalho.

E numa noite, quando você estava lá, tentando rastejar pra fora do novo buraco, desesperada pela perspectiva de minutos de solidão nesse momento fragilizado, depois de tentativas frustradas de evitar esse momento com sua própria companhia dolorida, um convite totalmente inesperado de um casal de amigos que fizera há 2 anos atrás numa balada paulistana, pra me acolherem no seu lar pra uma sessão de papos, risos, afeto e muita música, que te cura a alma com melodias e histórias de amor.

Quão acolhedor é notar esses pequenos grandes momentos de maravilhamento.

O mundo está cheio de pequenos milagres, de singelas sincronicidades que fazem nos lembrar o quanto devemos ser gratos… para colocar aquela questão que toma proporções acima de qualquer medida (só quem é ansioso sabe o quanto você pode ser derrubado pela bola de neve que as coisas viram dentro de você) em perspectiva novamente, visualizando o quão pequenina é aquela intercorrência dentre todos aqueles inúmeros motivos que você tem pra agradecer.

Repare: são tão facilmente perceptíveis pra nós os azares sucessivos, as falhas encadeadas, os desastres sincronizados, mas esquecemos desse olhar clínico para ver as manifestações de amor e esperança sucessivas que muitas vezes o universo emana em nossa direção, como um sussuro que tenta dizer “não se esqueça das bênçãos apesar dos obstáculos”.

Então, da próxima vez que se encontrar com a alma cega no meio da escuridão, foque a visão nos pequenos candeeiros de luz que tentam te trazer de volta pra casa, e siga as chamas de gratidão pra reencontrar seu centro e sua paz. Perceberá que na maioria das vezes é tudo uma questão de escolher fixar o olhar nos nossos pequenos milagres para recolocar a alma alinhada com a serenidade trazida pela gratidão.








Formada em Direito, escritora por necessidade de alma, cantora e compositora por paixão visceral. Só sabe viver se for refletindo sobre tudo, sentindo o mundo à flor da pele. Quer transmitir tudo que apreende (e aprende) por todas as formas criativas possíveis.