Nós somos o resultado daquilo que semeamos.

Da mesma forma que um agricultor planta de forma meticulosa as sementes na terra esperando a colheita dos melhores frutos possíveis, nós também somos integralmente responsáveis pelo presente que criamos hoje e o contexto de nosso amanhã.

Os princípios da responsabilidade e do livre-arbítrio nos concedem a liberdade para fazermos as escolhas que governarão a nossa vida, sabendo, contudo, que, embora sejamos livres para escolher, não somos livres das consequências de nossas escolhas.

Diante desse quadro, e considerando que nós, embora sejamos agentes racionais (no sentido de ter capacidade para pensar de modo lógico e articulado), também somos seres profundamente emocionais, movidos por “razões que a própria razão desconhece” (já dizia o poeta), destaco aqui cinco sentimentos que devemos – ou podemos, no mínimo – cultivar, a fim de tornar a vida como um todo melhor, mais leve, e com mais qualidade.

1. Controle.

Estamos nos encaminhando para a terceira semana do primeiro mês do ano. A pergunta que eu te faço é: você sabe quanto gastou até hoje nesse mês de janeiro? Tem uma estimativa de quanto gastará nesse primeiro mês do ano? Os seus gastos estão dentro de seu orçamento financeiro? Ou você nem tem orçamento?

Aliás, você sabe quanto gastou no ano passado? Qual foi sua média mensal de gastos em 2014? Costuma fazer uma planilha de orçamento doméstico onde anota todas as suas despesas?

Meu amigo, minha amiga, não se engane: sem saber quanto você gasta, fica impossível ter o controle de sua vida financeira. Fica impraticável saber quanto você poderá destinar para seus investimentos financeiros. Fica impossível, enfim, fazer planos de médio e longo prazo envolvendo dinheiro, tais como a formação de uma reserva complementar para a aposentadoria, a compra do carro ou uma simples viagem de férias.

A importância de anotar suas despesas e suas receitas tem sua raiz, em última análise, numa necessidade fundamental do ser humano: a necessidade de controle. Você precisa estar no controle de seu dinheiro, e o primeiro e mais primordial passo para isso é ter um registro de gastos, uma planilha de orçamento doméstico.

Com um registro físico dos gastos, você saberá quanto estará gastando, quanto estará sobrando, e quanto poderá ser investido e utilizado para metas que vão além do dia de hoje.

E esse é um exercício que você não pode se dar um luxo de fazer nesse mês e abandonar no seguinte, recomeçar no outro e parar no subsequente. É um exercício que você deve praticar continuamente, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, pois, se você não controlar o dinheiro, é o dinheiro quem acabará controlando você. O que você prefere?

2. Desapego.

Eis o desafio do século! Nadar contra a maré. Numa sociedade cada vez mais dilacerada pela competição de “ter mais”, o que você precisa é “ser mais”. Ser mais desapegado, no caso.

Uma perguntinha básica se impõe aqui, e quero que você responda com sinceridade: quem controla sua mente? Você é consumido por aquilo que consome?

Praticar a arte do desapego, que envolve a incorporação de uma rotina diária baseada em ideias de simplicidade voluntária, envolve não só dizer “não” para supérfluos, mas também dizer “sim” para as coisas que você precisa, ainda que, num primeiro momento, você não as queira.

Você necessita, enfim, abrir espaços em sua vida para a valorização daquilo que você já possui em termos de bens materiais, de “tempo” para se ocupar mais com pessoas do que com objetos, de “atenção” para focar naquilo que vai te proporcionar ganhos a longo prazo, em vez de ficar atraído pela compra do sapato ou gadgets da vitrine mais próxima que só te trará alegrias a curto prazo. Desapegar-se é, em suma, praticar a frugalidade.

Não adianta compensar carências no plano afetivo por bens situados no plano material, pois são trocas que não se equivalem. Menos, assim, é mais.

Cultivar o sentimento do desapego, portanto, fará bem não apenas ao seu corpo e à sua mente, mas também – e principalmente – à sua alma.

3. Organização

Um dia sempre teve 24 horas, mas nunca na história da Humanidade se registraram tantas queixas em relação à “falta de tempo”.

E como ter mais tempo, numa era em que visivelmente se percebe que as pessoas recebem demandas de trabalho e de afazeres domésticos cada vez mais altas?

A resposta é: cultivar o sentimento da organização. E isso envolve várias atitudes: você tem uma agenda para organizar suas atividades? Você está se desfazendo realmente de camadas que você não é mais capaz de suportar? Ou, pelo contrário, vai acumulando cada vez mais encargos, mesmo sabendo que não consegue dar 100% de si em todas elas?

Sim, porque, muitas vezes – e eu acho que na maioria das vezes – para cultivar o sentimento de organização em sua vida pessoa e profissional, é melhor dizer “não” do que “sim”.

Se for esse o seu caso, vá em frente, filtre e selecione apenas aquelas atividades que te traga benefícios não somente a curto prazo, mas também a médio e longo prazos. Você não precisa “abraçar o mundo” para ser bem sucedido, nem aceitar tarefas e atividades pressionado pelas opiniões alheias.

Afinal, ninguém irá cultivar o sentimento da organização por você.

4.Vitalidade.

Responda rápido: você é doido para chegar logo segunda-feira? Começa a ter saudade da academia se ficar dois dias sem treinar? Acorda às 5:15 da manhã sem despertador, achando que já são 8 horas?

Vitalidade é tudo, meu amigo, minha amiga. Sem energia e sem combustível de alta octanagem circulando pela sua corrente sanguínea, como você conseguirá dar conta de todas as demandas financeiras, de trabalho e pessoais que exigem sua presença e tomada de decisão?

Cultivar o sentimento da vitalidade talvez seja, dos cinco sentimentos descritos nesse texto, o mais difícil de se praticar, pois envolve um tripé de fatores: atividade física que ative a capacidade cardiorrespiratória e/ou muscular de resistência + dieta balanceada (alimentação regrada, com ou sem suplementação) + sono e descanso ativo adequados; e sabemos que o mundo é movido pelo tripé exatamente contrário: pessoas sedentárias + que comem porcaria + que dormem e descansam mal.

Aja de forma diferente. Comece perdendo tempo. Reflita. Transforme seus pensamentos, pois eles mudarão suas ações, que mudarão seus hábitos. E passe a ter comportamentos diários que eclodam dentro de você o sentimento da vitalidade.

Pois uma pessoa com mais energia não só produz mais. Ela arrasta pelo exemplo todas as outras pessoas de seu círculo de convivência. Você acabará sendo o referencial, o parâmetro de qualidade.

E, quando você começar a agir assim, você terá o poder de influenciar pessoas de modo positivo, contribuindo para a evolução da sociedade. Ou, no mínimo, para a evolução daqueles que ficam te observando.

5. Espiritualidade.

Cultivar o sentimento da espiritualidade não significa apenas frequentar igrejas e templos, fazer orações e levar uma vida de paz interior – embora todas essas práticas de fato reforcem esse sentimento.

Cultivar a espiritualidade, no contexto desse artigo, significa mais: significa ter fé e usar essa fé como combustível para conseguir aquilo que você mais deseja. Significa estar em harmonia com outros seres humanos e com o uso sustentável e responsável dos recursos naturais.

Ser uma pessoa espiritual significa acreditar que você faz as coisas movido não apenas por metas egocêntricas, mas sim para alcançar objetivos maiores do que seus interesses meramente egoístas.

Cultivar o sentimento da espiritualidade é, assim, nada mais do que cultivar o sentimento do amor, irradiando entusiasmo para melhorar não só a sua própria vida, mas também a vida das pessoas com quem você convive.

O que há em comum entre os cinco sentimentos descritos ao longo desse texto? Olhe de novo para a última frase que compõe o título do post.

5. Conclusão

Sim, você acertou: são sentimentos para se cultivar todo dia. Alguns dias em maior intensidade, outros dias em menor intensidade, não importa. O importante é o cultivo contínuo deles, e um método importante para avaliar se eles são necessários na sua vida é esse: se você sentir falta de algum dos sentimentos descritos no texto no seu dia, é porque eles realmente são importantes para você.

Por exemplo, se você já faz o registro de gastos diariamente, e fica, digamos, com a sensação de desorientado se passar 4 dias sem registrar suas despesas, é porque, de fato, o sentimento de controle sobre sua vida financeira é um elemento fundamental para dar mais qualidade à sua vida.

É evidente que essa lista é apenas exemplificativa. Há dezenas de outros sentimentos que você deve cultivar cotidianamente para explorar o que há de melhor nessa vida.

O que importa é que você, nessa jornada da vida, continue adquirindo novas habilidades e cultivando sentimentos positivos, para se aprimorar como ser humano, em todas as suas múltiplas dimensões. ?