20:20 (Oito e Vinte)

São exatamente oito e vinte e eu andei pensando em você mais uma vez. Mas eu não sabia se lhe contava pelo telefone, ou se a melhor alternativa era mesmo guardar os meus pensamentos comigo. Pensando agora, talvez tenha sido melhor guardar tudo aqui dentro de fato. Dizem por aí que a primeira pessoa que você pensa quando acorda é aquela da qual você dividirá uma vida inteira pela frente. Essa ideia de te contar as minhas loucuras sobre ti permaneceu na minha cabeça por uns longos doze meses, e eu não tive sequer a coragem de lhe dizer. Quem me dera fosse tão fácil assim, mas você noivou, e está prestes a se casar, construir uma família linda com a qual você sempre sonhou por tanto tempo. Eu que andava ocupado demais para ouvir as tuas vontades gigantes.

20:22.

E eu ainda não conseguir expulsar você dos meus pensamentos. Soube por aí que você anda sorrindo como nunca sorriu antes e até adotou dois cachorros no mês passado; coisa que há uns tempos aí, você nem cogitaria em ter pelo menos um. Mas você mudou tão rápido que quase não te reconheci naquele vestido longo florido. E saiba que eu não lhe culpo por isto. As pessoas mudam e se adaptam a novos roteiros. Novas histórias. Novos rumos. É o caminho natural das coisas. Um dia destes por aí, eu lhe vi com as tuas amigas e você parecia ter ganho na loteria de tanta felicidade ao mostrar o teu anel de noivado a todas elas. E eu apenas sorri do outro lado da rua dizendo para mim mesmo; “você merece, pequena.” E dobrei a esquina sabendo que havia deixado um pedaço do meu coração na frente daquela cafeteria antiga.

20:56.

Parece que o tempo anda tão devagar sem o teu jeito desastrado por aqui. E eu fico aqui, andando pelo meu-ex-nosso-apartamento sem rumo. Meu sofá sente a falta das tuas coxas macias. O banco do carro sente a falta dos teus cochilos dentre nossas longas viagens. O travesseiro da minha cama já não quer mais ser lavado com medo que o teu cheiro se vá por aí assim como você se foi. Cada canto daqui tem um pouco de ti dentro de mim. Hoje me pego acompanhado das canções do Cartola e dos contos tristes do Gabito Nunes, que tentam a toda hora lhe trazer de volta para mim nem que seja por alguns rápidos instantes. Mas você logo se foi, sem deixar o teu cheiro doce, ou a tua voz tão calma, ou as tuas coxas enormes, sequer um pouco do teu coração.

São exatamente 21:00.

E eu permaneço no mesmo lugar.

Sem saída.

Sem escapatória.

Refém dos meus próprios pensamentos sobre você.








Apaixonado pela poesia feminina. Acredito fielmente que o amor seja o infinito que resolveu morar no detalhe das palavras. Muito prazer, eu me chamo Pedro Ficarelli, e escrevo com o único intuito de pôr palavras onde a tua dor se faz insuportável.