Será que estamos todos condenados e condicionados à traição? Certa vez li uma frase que me fez pensar sobre o assunto:
” Onde há monogamia há traição.”

Arrisco a dizer que quem afirmou tal condição certamente é o traidor ou o traído pois há pensamentos contrários, e provas-cabais diante de tal alegação.

Porém, analisando a natureza, que não só a do homem, é possível reconhecer que a monogamia é algo que não constitui o meio animal. Se os animais soubesse responder, não saberiam o que essa palavra significaria.

Não há chance disso ocorrer na natureza, pois lá, variedade é a palavra de ordem e isso pode ser melhor observado em laboratório, por exemplo: A freqüência sexual de um hamster macho cai rapidamente quando ele conta com apenas uma fêmea; torna-se lento, pouco receptivo, entediado. Porém, quando se introduz mais uma fêmea no pedaço, ele volta a apresentar apetite sexual. ( Identificações?)

As aves também não constituem fidelidade, e os famosos pinguins, lembrados por suas relações monogâmicas também fogem à regra: Estudos feitos com aves mostraram que, em 90% das espécies de aves monogâmicas, há relacionamentos extraconjugais.

Mas afinal, não somos aves nem hamsters, somos seres humanos com composições cerebrais diferentes e isso pode significar não só uma mudança de comportamento genético como social também.

A fidelidade entrou em questão inicialmente para preservar o direito da herança e dos patrimônios. Depois, percebeu-se de que ela era uma condição para o bom convívio dos casais e para a geração da prole.

A monogamia pode até ter sido uma invenção da sociedade, mas aliado ao amor, trouxe mais significado e valor às uniões.
Trair em tempos de monogamia representa mais uma fuga ou uma justificativa para carência, vingança ou simplesmente fraqueza. Há quem diga que isso representa mesmo a canalhice…

O autor e dramaturgo Nelson Rodrigues tinha uma composição ácida sobre o tema, e afirmava em suas obras que toda mulher era uma adúltera. Ele foi certeiro em afirmar que “ só o inimigo não trai nunca.”
De fato, a traição nunca vem de um estranho mas de quem amamos e depositamos total confiança e acesso aos nossos sentimentos. No século dezenove o escritor Henry de Montherlant também afirmava : “vivam os meus inimigos! Eles, ao menos, não me podem trair.”

Talvez , lidar com a intimidade seja também uma “desculpa” ou justificativa para a traição, pois relacionamento é a oportunidade para mergulharmos principalmente em nós mesmos, enfrentarmos nossas próprias questões, nos vermos no outro, mesmo não tendo esta consciência.

E falando em oportunidade , é esta quem faz o traidor.
Relação é feita de bases concretas e ligações de respeito, se há falta dele, toda a estrutura se rompe. E que quer viver num ambiente frágil e inseguro?

A traição existe de fato, e elas inspiram canções, novelas, roteiros, e desperta a maior audiência do público consumidor de polêmicas da vida. Mas viver e sentir a dor da traição não é nenhuma ficção, é real demais e pior, pode deixar marcas.

Afinal, somos seres poligâmicos ou monogâmicos?

Arrisco a dizer que poligamia pode ser da natureza humana, já a traição não.
Amor e respeito são da natureza humana, são esferas elevadas de consciência. Fugir disso é reduzir o pensamento a um plano mental inferior. Se a poligamia não for algo de comum acordo, não acredito que traição seja algo inteligente. Questiono tal ser humano.
E você, ainda acredita no amor?








É jornalista, atriz e tem a comunicação como aliada. Escritora por natureza, tem mania de preencher folhas brancas com textos contagiados por suas inspirações.